sábado, 30 de abril de 2011

INTENSA FOME DE VIVER

O que houve, Rospo? Parece pensativo...
— É a intensa fome, Sapabela...
— Não diga, quer que eu faça rabanadas? Tenho pão...
— Sapabela, obrigado, mas é a intensa fome de viver...
— Sei como é, Rospo. E numa noite assim de Outono isso fica angustiante...
— Olho para a imensidão, o risco cacheado das luzes que as estrelas salpicam...
— Você precisa ir pra longe, para outros lugares... Aprenda a bendizer o seu dom de voar... Seja cada vez mais alto, rompa os horizontes...
— Esse é o equívoco, Sapabela.
— Nem sabia que tinha um equívoco.
— Não precisa ir para longe, não preciso ir para nenhum lugar... A intensa fome de viver não condiciona em si a necessidade de deslocamento, de viagens, de mudanças... Ela basta a si e se sacia exatamente aqui, pois aqui é onde estamos...
— Concordo Rospo, aqui é o lugar.
— Sim, Sapabela, estar faz o lugar.
— Rospo, então vamos saciar essa intensa fome de viver. Por onde começar?
— Isso me fez pensar numa gravidade medonha que as mães faziam aos pequenos...
— Do que fala, Rospo?
— Ter horário para dormir...
— Mas na vida tem que ter regras...
— Eu também tinha que fazer isso, ir para cama tal hora...
— E qual o problema, Rospo?
— Eu ia para a cama antes do sono...Tinha que ir sem ele...
— Mas depois cresce, tem que cumprir horário...
 — Isso é terrível... Talvez seja a causa da angústia...
— Pode ser, mas tente começar, Rospo. Algo pode ser feito para que a fome de viver seja saciada.
— Saciada não sei, mas tenho que ser muito atencioso com ela... Pois ela não suporta passividade, marasmo...
— Então, vamos, amigo, vamos. Por onde começar?
— Viver é estar intensamente vinculado com o mundo, conectado e participando das dores e das festas do mundo...
— Isso é possível, Rospo? Fazer uma assinatura de jornal é muito pouco...
— Só quando o mundo estiver em nós é que estaremos em harmonia com a intensa fome de viver.


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 558
Marciano Vasques
Leia CIANO

Um comentário:

  1. Hola Rospo:
    sapabela tan atenta le ofrece algo de comer.

    Pues tiene pan
    y yo continúo atenta metiéndome entre los dos escuchando, bueno leyendo este diálogo de sapos sabios, que cual fábula siempre me enseñan.

    Cierto, que podemos ser felices en el lugar donde estamos, si necesidad de viajar.

    Y el descansar también es importante, para luego poder rendir.

    Como leo directamente del portugués no se si me voy del tema, en todo caso ruego me perdonéis, pero es que me gusta el portugués.

    Moitos beijos, Montserrat

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