Numa estação ferroviária, enquanto espera a velha amiga para um cinema, Rospo encontra um conhecido:
- Olá, espero que esteja tudo bem.
- Ando magoado. Vivo a chorar.
- Mágoa é má água; as lágrimas precisam jorrar da uma fonte cristalina, límpida.
- Ora, meu amigo, minha companheira me magoou.
- O que ela fez?
- Mentiu para mim...
- Mentira desfaz o laço do companheirismo, mas a mágoa, a má água, abre crateras nocivas no coração...
- Não consigo perdoar a mentira...
- O perdão não é banal nem vulgar, e também não pode ser desgastado com coisas pequenas...Mas percebi que você tem facilidade em não realizar as coisas...
- Mentir não comporta perdão.
- Mentir, assim como as coisas que nos machucam, tem em si o estatuto do esquecimento.
- Esquecer? E o que eu faço com a mágoa?
- Vá ao riacho do esquecimento e beba a água cristalina e retorne fortalecido...
- E se ela mentir novamente? Devo esquecer também?
- Talvez poderá descobrir que esteja afinal mentindo para si mesmo, e deverá renunciar à mágoa, e navegar no velho rio...
- Você fala coisas estranhas...
- A estranheza exige atenção...
- Devo renunciar ao relacionamento?
- Que relacionamento?
- Obrigado, Rospo, apesar de que não entendi tudo, mas o trem chegou.
- O trem sempre vem.
- Rospo!
- Sapabela! Vamos! O cinema já vai começar...
- Eu amo o cinema. Ele devolve ao meu coração as forças para enfrentar as asperezas do cotidiano. Toda a vida deveria ser cinema.
- Toda vida é literária, Sapabela. Da literatura para o cinema é um pulo...
- Literatura, cinema, ficção, mentira...é um mundo de mentira, Rospo?
- E desde quando o verdadeiro "Faz de conta" é mentira?
HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 262
Marciano Vasques
Obrigado, Rospo, apesar de que não entendi tudo, mas o trem chegou.tá certa a sapabela quando o trem chega .temos que embarcar não devemos deixar que as magoas, nos atrase.b eijo prara rospo e sapabela,terê.
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