- A criança é um doce problema. É extraordinária a sua força.
- Por que diz isso, Rospo?
- Porque sabemos que no mundo tem muitos sapinhos precisando de ajuda, mas quando conhecemos um imediatamente criamos laços de afeto com ele...
- Sim?
- E queremos nos envolver, nos tornamos responsável pela sua alegria, pela sua felicidade, pela sua vida. Queremos nos dedicar integralmente àquela criança, o sapinho toma conta da nossa vida e muda os nossos rumos. Não somos mais independentes, não podemos nos voltar somente para nós mesmos quando estamos diante de um sapinho.
- Chupa-alma.
- O que quis dizer, Sapabela?
- Era assim que os indígenas do brejo chamavam as crianças. Tal a força com que os curumins invadiam as vidas dos adultos e exigiam, com a sua presença, toda atenção e todo o carinho...
- Sapabela, digo algo: uma fórmula contra o envelhecimento é justamente ter sempre em sua vida uma criança...
- Verdade, elas representam o renascer da vida, a renovação. Criança é tudo de bom...
- Tem algo que me aflige.
- Diga, Rospo.
- Uma sapona estava com seus dois filhos num parque eletrônico num shopping e com a filha da empregada.
- E daí?
- Ela pagava os brinquedos para os seus dois sapinhos e a filha da empregada doméstica ficava só olhando. Ela não teve a capacidade de pagar um só brinquedo eletrônico para a pobre sapinha... que além de ser a filha da empregada tinha a pele de cor diferente...
- Essa Sapona é uma imbecil, uma pobre infeliz...
- Vontade tive de pegar pela mão aquela sapinha rejeitada e levá-la comigo...
- Mas não podemos fazer isso, Rospo...
- Por isso tanto nos afligimos... Como um dia pode ser bom de pão e manteiga e música se no caminho encontramos uma criança desamparada, mesmo sabendo que no mundo há milhões desses seres?
- É que "o que os olhos não veem, o coração suporta mais".
HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 -323
Marciano Vasques
Muito interessante estes textos, ora engraçados,ora melancolicos, vão mostrando faces da nossa realidade, estou ficando fã.
ResponderExcluirTânia,
ResponderExcluirRospo deu pulos de alegria, e Sapabela manda um montão de beijos,
Marciano Vasques