—Sapabela, estou tão feliz.
—Quase sempre você está.
—Só fico preocupado com uma coisa.
—Diga, Rospo, diga.
—Que eu não viva o tempo suficiente para agradecer, pelo tanto que tenho que agradecer.
—Você deve muito aos sapos e às sapas que encontrou em seu caminho, não é?
—Sim, desde que eu era um sapinho, todos os sapos e as sapas, cada olhar, cada gesto. Às vezes uma palavra, às vezes um silêncio regado por um sorriso.
—Rospo, mas queria falar de algo chato.
—Pode falar, se for chato nós chatearemos mais.
—A fofoca, Rospo, por que algo assim existe?
—É fácil, a minha amiga, a sapa Anésia.
—Lá vem ela novamente...
—O que foi, Sapabela?
—Nada, continue.
—Então, a minha amiga disse que a fofoca é justamente o vazio da mente, que não aprendeu a ser produtiva.
—E como se aprende isso, Rospo?
—Produzindo. Vale tudo, até pegar um lápis e rabiscar...
—Entendo.
—Pois é, a fofoca é isso. O sujeito não produz, não tem um portfólio para apresentar, não sabe ser criativo, não tem obras...
—Todo mundo tem que ser artista?
—Não, Sapabela! Se você deu afeto e amparo para uma criança, isso é uma obra, se você sorriu para alguém, isso é uma obra.
—Às vezes me pego sorrindo nas ruas...
—E então?
—Sinto-me uma Macabéa.
—Entendo.
—Então, a fofoca é falta de produtividade.
—Falta de criatividade, de ocupação. O sapo nada tem para mostrar, então ele precisa preencher a sua mente, e faz isso com a fofoca. Outra coisa, a fofoca é parente da inveja.
—Inveja?
—É o olhar castrador sobre o outro.
—É verdade, como você não pode apresentar algo que seja digno de elogios, você lança o seu olhar castrador sobre o outro, e geralmente o outro é aquele que produz... Dificilmente alguém terá inveja de quem não produz... Sabe, Sapabela, quando eu envelhecer...
—Ou seja, nunca.
—Pois é, quando esse nunca chegar, quero rever a minha vida, todas as suas passagens.
—Não faça isso, Rospo.
—Há o que temer, Sapabela?
—Sim, você pode se dar conta de que foi excessivamente tímido e não viajou em seu próprio interior como deveria.
—A vida é um constante aperfeiçoamento e esse melhoramento é justamente essa viagem para si...
—Rospo, por que as revistas de fofocas vendem tanto? Então, tem mais sapos improdutivos no brejo do que eu supunha. E a fofoca é um atributo feminino?
—Não! Claro que não. Tem muitos sapos fofoqueiros. E às vezes a fofoca se torna um fenômeno coletivo.
—Lembro do caso do Michael Jackson. Foi destruído em vida. Precisou morrer.
—Pois é, então, só tem uma forma de lutar contra a fofoca: regar o jardim da vida.
HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 631
Marciano Vasques
Leia CIANO
http://cianomar.blogspot.com/
Leia PALAVRA FIANDEIRA
acessa.me/palavra_fiandeira
Conheça o SERAFIN DE POETAS
http://www.serafindepoetas.blogspot.com/
Fico maravilhada com estas histórias, histórias da vida... com muita moral.
ResponderExcluirMagnifico!
Um abraço.
oa.s
E nós três, eu, o Rospo e a Sapabela, ficamos felizes quando você aparece por aqui.
ResponderExcluirUm abraço,
Marciano Vasques