SOU INOCENTE, JURO!
Sabadoficando, lá ia a
Sapabela calçada afora com girassol na camiseta e uma bermuda azul
quando encontra uma amiga.
—Olá, como vai,
querida?
—Péssima. Estou vendo esse girassol estampado em sua camiseta. Você sabia que plantações de girassóis atraem ratos, por causa das sementes?
—Péssima. Estou vendo esse girassol estampado em sua camiseta. Você sabia que plantações de girassóis atraem ratos, por causa das sementes?
—Sapabela, hoje o dia
está péssimo. Veja que sol quente. Está quarando a minha cabeça.
Não tem árvores nessa cidade. Fica difícil encontrar uma
sombra...Detesto o frio, mas esse sol quente eu odeio...
—Sou inocente, juro!
—Sei está gostando
da construção do novo estádio que abrirá a copa de 2014. Já
pensou que confusão, amiga? Itaquera sempre foi tranquila, agora
aquele montão de gringos... E o trânsito? Já é péssimo, vai
ficar um caos, uma balbúrdia...
—Sou inocente, juro!
—Seu amigo lançou um
livro na Bienal. Eu não fui. Detesto Bienal do Livro. Aquele montão
de sapos com sacolas, aquela multidão nos corredores... E por acaso
pensa que quem compra livros na Bienal vai ser leitor durante o ano?
Não tenho saco para essas coisas...
—Sou inocente, juro!
—Bem, vou indo, tenho
mais o que fazer. Quisera ter tempo para ficar papeando como faz você
com o seu amigo... Cada um na sua, minha amiga. Quero mesmo é cuidar
da minha vida.
—Sou inocente, juro!
—Sapabela? Qual é a
sua? Cada coisa que falo, ficar repetindo: Sou inocente... Virou
papagaio ou é influência daquele seu amigo maluco?
—Sou inocente, juro!
Não tenho culpa do seu mau humor. Deixe-me ir, querida. Hoje é
sábado, o dia amanhece num licor, numa alegria, numa explosão de
vidas que se buscam... E tem mais, curta o seu mau humor o quanto
quiser... Quero mesmo é que 2014 exploda no ar em alegrias, cores e
luzes em Itaquera. Estou feliz! Quer saber? Uauuauuau! Tchau!
—Está sempre feliz.
Pois saiba que não pode falar assim comigo. É minha amiga... E eu
sou sua amiga.
—De uma coisa eu
tenho certeza, querida. Sou sua amiga. Por isso mesmo minhas palavras
buscam a exatidão da sinceridade... Quer ir à padaria Rubi? Vou
encontrar-me com o Rospo.
—Pensei que já
tivesse se encontrado, mas pelo que estou vendo, só se encontra
quando encontra o seu amigo. Vou não, tenho mais o que fazer... Não
suporto papo furado. Vá em paz.
—Posso dizer uma
coisa só?
—Claro.
—Sou inocente, juro!
HISTÓRIAS DO ROSPO 2012 — 815
Marciano Vasques
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