ELA JÁ FOI EMBORA
Rospo
encontra um velho conhecido.
—Como
vai, meu caro?
—Estou
arrasado, Rospo.
—O
que aconteceu?
—Precisa
coragem para enfrentar isso.
—Falo
e ela finge que escuta.
—Que
coisa...
—Fico
assistindo à partida, mas ela nem senta no sofá ao meu lado.
—Prossiga.
—Fica
lá, em frente à TV vendo aquela porcaria de novela... E quando
estamos jantando, não diz uma palavra. Quando abre a boca para
conversar, só fala de dinheiro, probleminhas caseiros, dívidas...
—E
você?
—O
que tem eu?
—É
carinhoso? Amoroso? Tem iniciativa de diálogos?
—Nem dá gosto conversar com ela. Não tem assunto.
—Nem dá gosto conversar com ela. Não tem assunto.
—É
dramático. Costumam caminhar de mãos dadas?
—Isso
é caretice, Rospo! Coisa de velho...
—Interessante...
—Antes
ela dizia que gostava do meu cheiro, e falava de alguns detalhes do
meu corpo, agora, nem me toca... E no dia a dia...
—O
que acontece no dia a dia?
—Absolutamente
nada. Ela fica na dela e eu na minha... Tenho receio de que ela, a
qualquer momento, vá embora...
—Posso
dizer algo?
—Diga.
—Sinto
informá-lo, mas ela já foi embora.
—Rospo,
em vez de se meter na minha vida dessa forma, por que não cuida da
sua? Isso é coisa que se diga? Que espécie de amigo é você? Que
indelicadeza...
—Querido amigo, nem adianta trocar a lente, que você não conseguirá mais ver a silhueta dela no horizonte...
—Querido amigo, nem adianta trocar a lente, que você não conseguirá mais ver a silhueta dela no horizonte...
—Que
bobagem, Rospo! Eu a vejo todos os dias, na sala, na cozinha...
—A
silhueta da alma, eu quis dizer...
—Tchau,
vou-me embora, que hoje não dá para conversar... Também quem
mandou ficar contando meus problemas para os outros?...
—Às
vezes “os outros” conseguem ver com mais nitidez o óbvio...
Tenha um bom domingo, mas esteja certo, ela já se foi. Aliás, vocês
se foram.
Quando
o amigo se afasta, eis que se aproxima …
—Sapabela!
—Rospo!
Que saudades!
—Agora
o domingo chegou!
—Seu
amigo passou por mim de cara amarrada...
—Quem
sabe descobriu que está sozinho faz tempo...
—Rospo,
padaria Rubi?
—Yupiiii!
HISTÓRIAS DO ROSPO 2012 — 818
Marciano Vasques
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