OFERENDAS!
—Rospo!
—Yupiiii!
—Precisa
isso,
assim
tão
alto?
—Mas
comportar-se
às
vezes
em
público
faz
bem...
—Já
nos
comportamos
demais.
Veja
que
sábado
lindo,
amiga.
—Que
sábado,
Rospo?
Hoje
é
sexta-feira.
Dia
da
“Independência”
do
nosso
país...
—Dia
do
quê?
—Rospo,
deixe
de
ser
irônico...
—Culturalmente
já
somos
independentes?
Yupiiii!
—Não
acredito!
—Você
está
feliz,
Sapabela?
—Totalmente,
Rospo.
E
não
tenho
culpa
de
ser
feliz.
A
sua
amizade,
por
exemplo,
é
um
dos
motivos,
com
efeitos
colaterais
belíssimos,
como
a
arrecadação
poética...
Cá
com
meus
botões
de
flores
internas,
estou
bem
feliz...
—Eu
também...
Sou
feliz,
ao
meu
jeito.
Varro
sempre
na
alvorada
as
tralhas,
os
entulhos,
os
resíduos
das
mágoas,
e
sigo
em
frente.
Amo
a
porta
de
meu
coração,
sem
trinco,
e
sigo
em
minhas
roupas
sem
vinco,
e
prossigo
em
frente,
sempre,
sem
máscaras...
Prosseguir
é
Pró-seguir,
é
estar
apto
na
disposição
de
desfazer
nódoas
e
nós
e
abrir
leques
e
edificar
girassóis.
Aliás,
é
a
única
saída:
seguir
em
frente.
Sou
como
a
verdade,
não
tomo
jeito.
—Sua
amizade
me
conduz
para
as
reflexões
mais
preciosas.
Toda
amizade
autêntica
merece
um
brinde
diário.
—Oferenda!
—Numa
conversa
aprendemos
a
valorizar
o
ouvir,
e
cultivamos
a
audição
da
alma
na
sonoridade
do
timbre
do
amigo.
—Oferenda!
—Amamos
a
amizade
acima
de
tudo.
Se
pudéssemos
escreveríamos
em
todas
as
lousas
e
nos
cartões
postais
o
quanto
é
preciosa
uma
amizade
na
vida
de
um
sapo
ou
uma
sapa...
—Oferenda!
—Amizade
é
o
mais
curto
caminho
para
o
amor.
Amor
sem
retoques,
sem
malícia,
sem
cobranças,
sem
trivialidades.
Sua
amizade
é
para
mim
a
tradução
mais
perfeita
de
uma
conquista...Eu
a
quero
e
a
guardarei
como
um
troféu.
Estou
bem
inspirada
hoje.
Deve
ser
essa
saia
azul
e
esse
brinco...
—Oferenda!
—Rospo,
por
que
está
sempre
dizendo
“Oferenda!”?
Alguma
maluquice?
—Cada
vez
que
fala
da
riqueza
da
amizade
é
uma
oferenda.
A
amizade
é
um
dom
de
encontros,
e
merece
oferendas.
Uma
simples
conversa,
um
café
expresso,
um
telefonema,
um
gesto,
uma
delicadeza,
uma
lembrança.
Essas
preciosidades
são
oferendas
na
aspereza
do
cotidiano.
Se
você
fura
os
bloqueios
da
rotina,
se
consegue
passar
pelas
frestas
com
as
festas
do
seu
Ser,
você
está
ofertando
“oferendas”...
Bem
sabe
que
os
povos
antigos
faziam
oferendas
aos
deuses...
—Só
os
antigos?
—Bem,
as
oferendas
sempre
foram
pragmáticas...
—Toque
um
pouquinho
nisso,
Rospo...
—São
como
as
orações...
—Mas
não
aprofunde
tanto!
Esqueceu
da
leveza
do
feriado?
—Nada
como
a
companhia
de
uma
sapa
culta,
esperta
e
ligeira
como
o
relâmpago
do
corcel
da
constelação...
—Rospo,
sintetize
o
papo
das
oferendas...
—Oferendas
lançadas
ao
mar
ou
ao
céu
sempre
simbolizaram
agradecimentos,
mas
também
promessas
e
barganhas,
formas
de
agradar,
cultuar,
para
receber
em
troca
benefícios...
—Tudo
bem,
mas,
voltando
ao
nosso
caso:
os
gestos,
as
palavras,
a
delicadeza,
os
sentimentos,
são
oferendas
para
a
amizade...
—Isso
mesmo,
querida.
—Rospo,
falando
em
amizade.
Vamos
até
a
padaria
Rubi?
—Yupiiii!
—Rospo!
—Desculpe,
é
que
me
empolguei.
Você
não
gosta
do
meu
“Yupiiii!”?
—Gostar?
Eu
adoro,
eu
amo.
Amo
tanto
como
o
licor
de
anis.
—Yupiiii!
Yupiiii!
Yupiiii!
Yupiiii!
Yupiiii!
Yupiiii!
Yupiiii!
—Para
que
fui
falar?
HISTÓRIAS DO ROSPO 2012 — 819
Marciano Vasques
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