ÉPOCA DE URGÊNCIAS
—Rospo, que alegria!
—Sapabela, que
alegria também. Aonde está indo?
—Hoje é sábado, dia
de feira. Mas, como é bom encontrá-lo!
—Rospo, diga algo que
me deixou curiosa. Tomei conhecimento de que num encontro com
intelectuais andou falando da música das jovens tardes de domingo...
Isso é saudosismo, amigo?
—Saudosismo seria
simplificar muito minha querida.
—O que é então?
Fica cutucando a inteligência, os acadêmicos, os intelectuais...
Todos sabem que você é apaixonado pela Música Popular do Brejo,
além da Música Clássica, e então vem com a canção da alegria
dos corações juvenis... Não teme ser chamado de alienado? De
brega, quer dizer, acho que ainda existe essa palavra... O que se
passa? Se não for apenas saudade, o que seria?
—Necessidade, querida
amiga. Necessidade, urgência...
—Por que está
necessitado dessa música? Não consegue cativar a alegria, cultivar
a felicidade com a leitura de um livro, ou com...
—Não, querida, não
é exatamente uma necessidade minha...
—Então, é melhor me
explicar...
—É uma necessidade
do tempo, da época, dos dias nos quais vivemos...
—Refere-se à voz dos
tempos?
—Sim, a voz do grande
contador de história...
—Fale mais um
pouquinho...
—Veja bem, preste
atenção...
—Isso é verso de
alguma canção...
—Sapabela. A
necessidade, a urgência, precisam ser atendidas. Os dias clamam pela
leveza, pela sinceridade, a alegria e a simplicidade. O retorno é
necessário para a compreensão, para a abertura do ser...
—Que retorno, Rospo?
O tempo não retorna. O que passou passou... Se você perdeu uma
noite, ela se foi... Sobre o que está tentando dizer?... Por qual
motivo exatamente considera importante divulgar o canto dessas
meninas e desses meninos de outrora?
—Sapabela, veja o que
acontece. Não ouça, quer dizer, procure saber, apenas... E
compreenderá a urgência que a época reclama. O amor pela geração
atual pode realmente brotar através desse canto de letras simples e
alegria contagiante, e promover o salvamento...
—Não está um pouco
exagerado? Sei aonde quer chegar, mas... cada tempo com a sua
canção...
—Pois é, Sapabela. A
música é como a Arte... Ela traduz a alma do tempo... Mas, o tempo
perguntou pro tempo...
—Perguntou o quê?
—Onde estaria a fonte
da alegria que poderia modificar o seu sofrimento...
—Nossa!
—Hoje, aqui no brejo,
tem uns manos fazendo umas letras...
—Sei...
—Tão chamando as
meninas de cachorra, de cadela... Tem uma enxurrada de ofensas e de
infelicidade nas letras, principalmente contra as sapas...
—Mas o antídoto, a
solução, o suposto remédio, não seria a música popular do brejo?
A música de letra elaborada, e não assim, essas, de versos
simples...
—Sapabela, imagine
uma escada...
—Isso pra mim é
fácil... Adoro subir degraus...
—Essa escada é
infinita...
—É?
—Os degraus são
importantes... nenhum degrau deve ser pulado...
—Respeito todos os
degraus...
—Assim é com a
escada mágica da consciência...
—Rospo, obrigado.
Agora posso cantarolar uma canção?
—Claro...
—Lá lá lá... lá
lá lá lá...
—Conheço essa
melodia.: “Procurei um amor que fosse só pra mim...”
—Isso!
—Sapabela, vá fazer
a sua feira... E como está o seu sábado, hoje?
—Tem umas coisas
marcadas na agenda caso surja algum convite...
—É?
—Anotei: Padaria
Rubi, à tarde, um passeio de calçada ao luar, à noite, quero
terminar o sábado enluarada, um drinque de licor de anis, uma
conversa...Vamos ver se aparece algum convite.
—Yupiiii!
—Isso é um convite?
—Até à tarde,
querida.
—Lá lá lá lá
lá... Lá lá lá lá … “Procurei...”
HISTÓRIAS DO ROSPO 2012 — 820
Marciano Vasques
Oh minhos queridos Rospo e Sapabela.
ResponderExcluirContinúo en español.
Sóis maravillosos. Ahora tyengo una amiga brasileria en Valencia, gracias a vosotros la entiendo bastante bien.
Perdonad que no os comente a menudo ultimamente ando muy atareada y tengo menos tiempo para estar en el ordenador.
Beijos para vosotros y un abrazo para vuestro Creador Marciano Vasques, Montserrat