NUMA QUINTA SABADOFICADA
—Rospo!
—Sapabela,
belo encontro!, numa revoada de versos...
—Não
estou vendo versos nenhum...
—Versos
são as possibilidades salpicadas pelo momento... Basta erguer os
olhos...
—Erguer
para dentro, para dentro de si, o tal mergulho... Que faz florescer a
possibilidade poética além da aspereza... Lembre-se do inexorável
tempo... Valemos por cada mergulho...
—Rospo,
tem um amigo passando por momentos de tristeza e dor ao lado de seus
parentes...
—Já
o visitei. Levei minha mensagem...
—Cada
um tem a sua mensagem. Quando alguém vê a possibilidade de sua
mensagem ser soterrada nas indelicadezas do tempo, volta-se para o
destrutivo... É a velha realidade: Se o ser for impedido de amar,
irá semear o ódio...
—Viajando,
linda?
—É...
Spinoza, Erich Frohmm...
—E
então...
—Sei,
fale da sua mensagem ao seu amigo...
—Disse
a ele que deverá transformar a sua energia em fonte de consolo, de
força e coragem para os seus... Quem ama cultiva e cativa o amor que
recebe em forma de alento...
—Rospo,
já se sentiu enganado?
—Quase
sempre: é uma constante...
—E
como reage?
—Às
vezes me contam mentiras...
—E
como reage?
—Como
sabe, só os amigos nos enganam... Os inimigos não.
—E
como reage?
—Às
vezes encontramos cobras no caminho... Sem chocalhos...
—E
como reage?
—Às
vezes, respostas padronizadas....
—E
como reage?
—Ora...
Sou pleno de diplomacia e finjo que acredito...
—Rospo,
diga uma coisa que só parece mas não é!?
—Uma
sapo que às vezes parece bobo, mas não é... Só finge que é
bobo...
—Está
inspirado hoje, meu amogo?
—Amogo?
—Desculpe,
misturei amor com amigo e deu amogo... Às vezes, isso acontece...Já
disse que sou atrapalhada...
—Um
pouquinho...
—Pouquinho,
não, Rospo! Nada sou pela metade. Sou atrapalhada por inteiro. E por
isso sou feliz.
—A
poesia brota de você... em você...
—No
azul e no mergulho... Ela está em todos os lugares, dentro e fora,
no eixo...
—Que
doçura de conversa, amiga! Faz tempo precisava de uma manhã de
sábado assim...
—Hoje
é quinta!
—É
verdade! Às vezes me distraio e algum dia da semana se transforma
num sábado.
—Vamos,
que preciso comprar pão na padaria Rubi.
—Eis
um belo exemplo de mnemônica.
—Não
entendi...
—Rica
de diplomacia também, não é? Eu quis dizer que “Padaria Rubi”
ao amanhecer faz lembrar licor de anis ao anoitecer...
—Isso
mesmo! E você sabe: acabei de inventar um provérbio antigo.
—Diga,
querida.
—Primeiro
o pão, depois o licor.
—Yupiiii!
—Meio
fraquinho esse Yupiiii! Tem que ser assim:
Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—O
que deu em você, hoje, Sapabela?
—Só
alegria pura. Estou simplesmente me abandonando ao barco da poesia
que vai serenamente rio adentro...
—Serenamente?
HISTÓRIAS DO ROSPO 2012 — 829
Marciano Vasques
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