O DISCURSO DO CANDIDATO
Rospo, com um
dicionário, passeia com sua amiga...
—Uma sapinha adora
falar. Como gosta de conversar! Como fala! Como é tagarela...
E além disso, é
sempre tão curiosa. A curiosidade da Sapinha é como um carretel
infinito.
—Depois, a Sociedade,
a família, a igreja, a escola e os adultos ajudam-na a ficar calada.
Quando ela crescer geralmente aprenderá a emudecer os seus mais
nobres sentimentos...
—Veja, Sapabela! Um
aglomerado....
—É um comício.
—Rospo, hoje é
domingo, e além do mais, pelo que sei você foge da política
partidária. Não suporta campanha política... E quer ir até o
comício?
—Talvez seja
divertido.
E assim, os dois amigos
se aproximam.
—Vamos ouvir o
candidato, Sapabela.
—Estou aqui pra isso,
acredite.
E o candidato começa:
—Irmãos!...
—Ei, moço!
—O que foi, Sapo?
—O que foi, Sapo?
—Aqui não é missa,
não é culto...
—Por favor, não me
interrompa.
—Sou um eleitor.
—Você é um eleitor
no dia da urna....
—Sou um eleitor todos
os dias, durante quatro anos. Tenho um dia para votar e quatro anos
para fiscalizar.
—Esse sapo está me
atrapalhando.
—Sapo, você está
atrapalhando o candidato. Comporte-se ou caia fora.
—Não fale assim com
ele. É meu amigo.
—Por acaso quem é
você, moça? Alguma Sapabela?
—Candidato!, meu nome
é Rospo...
—Prazer, mas posso,
por favor, prosseguir o meu discurso?
—Vai prometer muita
coisa?
—Se você ouvir, será melhor.
—Se você ouvir, será melhor.
—O senhor parece bom
na decoreba.
—O senhor me
respeite! Sou um candidato.
—Tudo bem, já estou
só ouvindo. Ele parece bom de promessas, Sapabela.
—E então, prometo
isso e aquilo bla bla bla... —assim prossegue o candidato.
—Candidato, quando o
senhor descobriu que tinha vocação para promessas?
—Eu descobri
quando... Ora! Não encha, meu amigo.
—Sabia que o povo do
brejo já não está acreditando tanto em promessas?
—É mesmo? O que
importa é que votem em mim.
—Cochicha um
pouquinho aqui em meu ouvido...
—Cochichar o quê?
—O poder é bom, não
é?
—Assim não consigo
continuar com o meu discurso, Sapo...
—Meu nome não vai
pra urna, mas ele é muito importante, então, por favor, decore-o
como se ele fosse uma promessa.
—Rospo, vamos embora?
—Vamos, Sapabela,
aqui está meio sem graça.
—Já vão tarde!
—Dois eleitores a
menos.
—Pois não me fará
falta. E vão logo antes que meus assessores...
—Tchau, candidato.
Essa é a primeira eleição que o senhor irá perder? Vai ser
problema, pois se perder, terá que arranjar um emprego, e, pior,
terá que trabalhar.
—Desapareça!
—Tchau, “Senhor das
Promessas”. Por acaso, se a encontrar no seu caminho, não fuja
dela.
—Dela quem?
—A ética. Tome!
—O que é isso, para
que eu quero esse livro?
—É um dicionário,
tem o verbete “Ética”, caso necessite.
—Nunca mais apareça
num comício meu!
—Não precisa ter
medo, que não irei mesmo aparecer.
E assim, Rospo e
Sapabela se retiram.
—Rospo, não
aguentava mais de vontade de rir.
—Eu também,
Sapabela. Agora, quero que você me prometa algo,
—Eu não! Não sou
candidata a nada.
—Nem precisa, já
está eleita...
—Do que está
falando, Rospo?
—Eu a elegi como a mais preciosa amiga de meu coração.
HISTÓRIAS DO ROSPO 2012 —828
Marciano Vasques
—Eu a elegi como a mais preciosa amiga de meu coração.
HISTÓRIAS DO ROSPO 2012 —828
Marciano Vasques
Nenhum comentário:
Postar um comentário