SAPO NA CALÇADA, CONVERSA NO TREM
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Que
alvoroço
é
esse
lá
fora?
—pergunta
a
Sapabela
para
a
sua
colega.
—É
um
sapo
lá
na
outra
calçada.
—É
o
mesmo
da
semana
passada?
—Pior que é!
—Pior que é!
—O
que
ele
quer,
Sapabela?
—Na
semana
passada
só
sossegou
depois
que
eu
saí
da
floricultura.
Disse
um
monte
de
coisas.
Fez
um
escarcéu
dizendo
que
eu
era
uma
flor
que
estava
escapulindo...
Eu
não
sabia
se
ria
ou
chorava.
—Mas,
o
que
ele
queria?
—A
minha
amizade.
—Entendo.
E
hoje,
vai
falar
com
ele?
—Será que ele ficará até o final do expediente?
—Será que ele ficará até o final do expediente?
—Tem
sapo
que
não
desiste.
—Bem,
vamos
atender
aos
clientes...
Estamos
aqui
para
vender
flores.
—Reparou
uma
coisa,
Sapabela?
—Diga.
—Ele
está
com
uma
tabuleta.
—Será
que
está
trabalhando
para
algum
candidato?
—Sei não. Na tabuleta está escrito : “Gosto de Licor de Anis”.
—Sei não. Na tabuleta está escrito : “Gosto de Licor de Anis”.
—Será
que
é
para
mim
que
ele
escreveu
isso?
—A
única
flor
que
anda
e
fala
aqui
é
você.
—Ora,
amiga,
pare
de
zombar.
Se
for
para
mim,
só
vou
responder:
“E
eu
com
isso?
“
—Veja!
Ele
virou
a
tabuleta!
—Agora
está
escrito:
“Aprecio
muito
a
leitura”.
—Gostou,
não
é?
—De
fato,
também
adoro
ler.
Mas
vamos
deixar
de
lado esse sapo,
e
cuidar
da
clientela.
—Quem
sabe
ele
resolve
se
mandar.
Ao
final
do
expediente.
—Boa
tarde!
—Oi,
Sapo,
é
você?
—Meu
nome
é
Rospo.
—Eu
não
tenho
culpa,
não
fui
eu
quem
escolheu
esse
nome
para
você.
—Desde
que
era
um
botão
você
é
assim
presunçosa?
—Eu sou o quê?
—Eu sou o quê?
—Deve
aprender
a
tratar
um
sapo
com
cortesia,
com
gentileza...
Pelo
menos
um
sapo
como
eu...
—O
que
você
tem
de
diferente
dos
outros
sapos?
—Veja se algum outro reparou que você é uma flor – que- anda.
—Veja se algum outro reparou que você é uma flor – que- anda.
—Sapo,
ou
melhor,
Rospo,
até
que
você
é
divertido.
—Vai
pegar
o
trem?
—Sim, moro na periferia... E quero logo chegar em casa.
—Sim, moro na periferia... E quero logo chegar em casa.
—Anis?
—Não
entendi.
—Que
tal
um
licorzinho?,
e
podemos
laçar
uma
primeira
conversa
e
então...
—Por
que
haveria
eu
de
tomar
licor
com
um
sapo
que
nem
conheço?
—Não
conhece?
Como
ousa
dizer
isso?
Eu
estou
aqui,
de
plantão,
desde
cedo,
na
calçada...
—Por
que
quis.
—Exato!
Por
que
quis.
E
esse
querer
não
importa?
Gosta
de
poesia
ou
de
romance?
—Aprecio crônicas e de contos.
—Aprecio crônicas e de contos.
—Eu
também.
Já
leu
algum
de
meus
livros?
—É escritor? Nunca vi na livraria um livro seu.
—É escritor? Nunca vi na livraria um livro seu.
—Mesmo
que
não
tivesse
um
livro
meu
em
qualquer
livraria,
eu
seria
escritor,
entendeu?
—Estou
começando
a
gostar
de
seu
papo,
amigo.
Mas
você
parece
muito
convencido.
—É
linda.
—O
que
disse?
—Regada
com
licor
de
anis
a
conversa
fica
mais
interessante...
—Está
bem,
aceito.
Mas
não
posso
perder
o
meu
trem.
—Para
que
vila
vai?
—Brejo Azul... Fica bem lá no extremo da periferia...
—Brejo Azul... Fica bem lá no extremo da periferia...
—Também
vou
pegar
o
trem
para
lá.
—Mora
no
Brejo
Azul?
—Não.
—E
por
que
vai
para
lá?
—Quando
um
trem
leva
uma
conversa
a
vida
fica
melhor.
—Sei.
Cá
estamos,
peça
o
licor
de
anis.
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—É
assim
que
você
pede?
HISTÓRIA DO ROSPO 2012 —827
Marciano Vasques
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