domingo, 13 de setembro de 2009

ORFEU

ORFEU


Eagro, rei da Trácia, não conseguia educar o filho, que tinha alma de artista, para a guerra. Decepcionado, expulsou-o de seu reino. Orfeu foge para a floresta, onde adormece. Ao despertar, constrói um instrumento musical, o qual chama de Cítara.

Ao tocar o instrumento, a sua melodia invade a mata e os animais a seguem. Os habitantes florestais passam a viver harmoniosamente ao som da música órfica. Certa tarde, ao perceber que estava sendo observado, passou a tocar. Das folhagens, surgiu uma ninfa, que começou a dançar. "Eu sei quem você é.", disse a encantadora criatura. "Eu conheço as suas proezas.", prosseguiu. "Você atravessou o oceano. Abriu uma passagem entre as águas. Formaram-se duas paredes de água e você caminhou por um corredor entre elas". Orfeu ouvia em silêncio.

"Qual é o seu nome?", perguntou o cantor para a ninfa de cabelos florestais. "Eurídice", ela respondeu. "Quero-a ao meu lado. Você com a sua dança aperfeiçoa o meu canto", disse o jovem para a estranha dançarina.

Envolvidos pela felicidade que a união de Orfeu e Eurídice causava em todos, os amigos do artista prepararam uma bela festa de casamento. Antes da tão esperada data, os povos florestais imploraram para que Orfeu fosse até as montanhas para enfrentar com a sua música encantada uma medonha criatura que estava causando destruição. Eurídice ficou sozinha.

Certo entardecer, ao caminhar pela floresta foi agarrada pelo filho de Apolo, Aristeu, que por ela era apaixonado, mas, como não conseguia conquistá-la, atacou-a, e furiosamente a derrubou. Ao ver Eurídice se contorcendo após ser picada por uma serpente, o agressor covardemente foge. A gente da floresta a encontrou agonizando e levou seu corpo para o altar, mas a sua alma azulada já flutuava em direção ao mundo dos mortos.

Quando Orfeu retornou, ao encontrar os prantos e o corpo sem vida de Eurídice, caiu em desespero. Sua dor chegou ao Monte Olimpo, onde Zeus, comovido, pediu a Hermes, seu mensageiro, que o levasse ao subterrâneo mundo de Hades.

O prestativo auxiliar acompanhou o jovem até ao barco de Caronte, o terrível barqueiro que transportava as almas. Ao chegarem, os enormes portões se abriram. Orfeu só tinha uma coisa em seu pensamento: Levar a alma de Eurídice de volta ao mundo dos vivos.

Diante de Hades e sua esposa Perséfone, o jovem de coração despedaçado entoou uma melodia com a sua lira. O senhor do mundo dos mortos se comoveu. Enquanto tangia o instrumento que ganhara de presente de casamento, Orfeu lhe implorou para que o deixasse levar de volta à superfície a alma de sua preciosa amada. Hades consentiu, mas impôs uma condição:

"Você não poderá em nenhum momento olhar para trás... Se o fizer, perderá para sempre a sua amada . Isso é um acordo".

Enquanto subia, Orfeu fraquejou e olhou para trás. Imediatamente a alma de Eurídice se dissolveu. Em gritos, o cantor das florestas foi levado pelos demônios de Hades de volta à superfície, e nunca mais cantou. Abandonou-se à solidão. Sua imensa dor entristeceu a floresta.

Dedicou sua vida ao seu eterno amor. Jamais esqueceu Eurídice. Ao morrer, triste e solitário, foi enterrado pelo povo da floresta com honras e cantorias.

No dia de seu enterro, ao anoitecer, alguém viu, no céu, pela primeira vez, a Constelação de Lira.

MARCIANO VASQUES

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