segunda-feira, 31 de maio de 2010

O PRESENTE DO SAPO



- Sapabela! Recebi um presente.
- Que bom, Rospo! Quando foi isso?
- Hoje, ao amanhecer.
- Que presente você recebeu?
- Acordei.
- Acordou? Não entendi!
- Acordar. Esse foi o presente.
- Continuo sem entender.
- Hoje é o presente. Acordar significa ser presenteado com o dia. É o maior presente de todos.
- Tem razão. Devemos viver o dia como se fosse mesmo um presente. Mas...um dia é curto. O presente dura muito pouco.
- A duração do dia depende da forma como você o vive. Sendo assim, um dia pode ser para sempre, na memória. 
- Já sei! Um presente inesquecível.
- Claro!

MARCIANO VASQUES
HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 72


LISBOA ANTIGUA

PÉ DE IPÊ

O SAPO E A ARTE DE OUVIR



- Rospo, o sapinho da minha amiga está aprendendo a falar.Todos estão empenhados em ensiná-lo.
- Ele já pronuncia alguma palavra?
- Já! É tão gratificante ensinar alguém a falar.
-Sapabela, que tal se você o ensinasse a ouvir?
-Ora, Rospo, isso não precisa de ensinamento. É só deixar que as orelhas ouvem naturalmente.
- Engano seu. Ouvir é uma arte, requer aprendizagem.
- É mesmo?
- Muitos falam demais porque não aprenderam a ouvir. Ocupam o espaço do tempo da audição falando sem parar.
- E como ensino alguém a ouvir?
- Música clássica, os sons da natureza, orvalho gotejando, gafanhoto saltando, o silêncio, assovio da ventania...
- Rospo, assim teremos um ouvido refinado...
- E com certeza, belas conversas.

MARCIANO VASQUES

HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 71


O SAPO E A PRODUÇÃO INVISÍVEL



- Rospo! Tem que produzir! Fica o dia inteiro perambulando.
- Algumas produções são invisíveis.
- Diga uma.
- Escrevo poemas.
- Poesia não move a engrenagem da vida.
- Outro engano seu, Sapabela.
- Vivo me enganando...
- Enganos produtivos, minha querida.
- Nossa!
- É o seguinte: um alguém ao ler um poema se modifica. Torna-se um leitor. E só isso já é um investimento da poesia.
- Entendi. Ao modificar alguém, a poesia já produziu.
- Exato! Um olhar modificado vê as coisas com mais nitidez. Vê o mundo como uma grande novidade.
- Tem razão, Rospo. A poesia tem resultados invisíveis. Está mesmo certo.
- Às vezes eu acerto.

MARCIANO VASQUES
HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 70

domingo, 30 de maio de 2010

EM ALCOCHETE




Em Alcochete
Foto: Carmen Ezequiel
PORTUGAL



O BLOGUEIRO 24


PALAVRA FIANDEIRA COM MARGOT DE CASTILLO



Está no ar a nova edição de 
PALAVRA FIANDEIRA


NESTA EDIÇÃO:
DIRETAMENTE DO CHILE:
 MARGOT DE CASTILLO

LEIA AQUI



sábado, 29 de maio de 2010

OBRIGADO!


Obrigado, Marpin Y La Rana!

O CIÚME

SAMBAS E SERESTAS!


sexta-feira, 28 de maio de 2010

POR UM MUNDO MELHOR



CASA AZUL DA LITERATURA 
recebeu este prêmio
do simpático, amigo e criativo blog Marpin Y La Rana.
Agradecimentos de coração.
Marciano Vasques

LIVROS VIVOS

FELICIDADE

A FLOR DO SÁBADO CHUVOSO

Marciano Vasques
  

A FLOR DO SÁBADO CHUVOSO
 
 
 




A flor do sabugueiro. Essa flor eu vi. O branco enfeitando em arte a árvore. O coração chora às vezes, e quando isso acontece alcança a poesia que dança ao redor, que esteve desde que me tornei assim.
A flor, sábado de chuva, pleno fevereiro, tempo que escorre, o pensamento fora da atenção repousa. Talvez a vida pudesse ter por outros rumos vagado. Quiçá coisas diferentes quisesse ter oferecido - me, mas eu que desde cedo a perder as chances que ela na beira da estrada põe, aprendi.
A olhar o velho caminhando compreendi, e também a insensatez de se decorar as cores do arco-íris no ausente. Das pedagogias sem alma a inutilidade na decoração do vazio se expressa.
Quisera estar num curso universitário aquilo que só se aprende diante das crianças da EMEF “Jardim Vila Nova”. Só sei escrever o que vivo!
No meu país tão lindo a alma é maltratada. Se a chuva pudesse lavar os olhos de fuligem o homem então veria como se fosse um poeta o riso das crianças a nos oferecer a salvação.
Que os políticos se quedem a desmantelar o que possa ainda a existir de dignidade, e que Ney Matogrosso continue a cantar.

Tudo o que necessito está no coração que chora às vezes, e se a poesia se tornar inalcançável, será por minha máxima culpa, que me pus em medo, pelo acúmulo dos dejetos mentais que se infiltram em nosso pensamento, outrora límpido, vigoroso, repleto de bondades, mas depois, pelos emaranhados da vida se enfraquecendo.
Olhar o velho caminhando, o seu rosto em fibras, e as crianças que correm nas ruas, na distância dos gabinetes técnicos e da luta política pelos poderes: tanta vida vã, tantas ilusões substituindo a única felicidade possível: a do recolhimento para a busca do simples.
A flor do sabugueiro que por acaso vi quando retornava do Jardim Vila Nova, a flor da vida vivida, que longe da inútil fúria dos que desconhecem a primazia das crianças sem almoço, desabrocha: edifícios erguidos na argamassa da retórica, políticos que envergonham a nação que em mim pulsa.

É preciso o olhar poetizado para que o encontro se manifeste na explosão da alegria frutífera, não apenas de desfrute, mas que seja o outro lado do sofrimento e da dor, aquela que poderá significar aprendizagem. Essa é a verdadeira alegria, sinônimo de felicidade. A alegria da produtividade, a frutífera. Olhar poetizado é o resgate do menino, da criança, é o olhar da morada da poesia, onde, entre outras coisas, dos animais não seja roubada covardemente a possibilidade da vida em plenitude.
Deixe os políticos lá fora!
O pensamento originalmente repleto de bondade, de felicidade de lápis de cor, deve ser com persistência buscado, cicatrizado, o peso da sua transformação na vida sem autenticidade, que na busca do bem longe do essencialmente simples se agigantou: tal peso deverá ser esfarelado e se dissipar como fiapos de fumaças num final de tarde de fogueira morrendo.
E ele há de surgir glorioso, e o olhar poetizado será a bússola a descrever o arco-íris autêntico, e a flor do sabugueiro será tão importante quanto as crianças do Jardim Vila Nova, acima dos poderes da política.


O SAPO E O LÁPIS



- Não!!!!!!!!!!!!!!!
- Rospo? Que se passa?
- Um lápis, Sapabela!  Um lápis...
- Estou vendo, meu amigo, um lápis na calçada, que alguém perdeu ou jogou fora, mas é apenas um lápis...
- Não !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Não diga isso novamente, não diga isso jamais!
- Não me lembro de ter visto você tão aflito, Rospo. O que está acontecendo?
- Um lápis não pode ser abandonado, não pode ir para o lixo, não pode ser esquecido numa calçada... Um lápis é uma coisa muito preciosa, é mais do que um objeto, é uma história de vida.
- Do que você está falando afinal?
- Um doutor, um juiz, um médico, um cientista, um advogado, um presidente da República, um ministro, um governador...
- Vá direto ao assunto, Rospo.
- Todos eles, cada um deles começou a sua história de vida com um lápis, foi com um lápis que cada um começou as suas mal traçadas linhas, começou as suas garatujas, os seus primeiros desenhos, e as suas letras tortas... Foi com o lápis que eu comecei a escrever...
- Você tem razão, Rospo, jamais deixarei um lápis abandonado. Sempre que encontrar um, eu o recolherei e levarei comigo.
- Amar o lápis é o começo da cidadania, Sapabela.
- Rospo, como é que você consegue sempre ver além?
- Talvez eu tenha amado o lápis desde muito cedo.

MARCIANO VASQUES
HISTÓRIAS DO ROSPO 2010    -    69


quinta-feira, 27 de maio de 2010

XII ENCONTRO DE UTOPIAS


quarta-feira, 26 de maio de 2010

FESTA DO IMIGRANTE

O Memorial do Imigrante, 
instituição ligada à Secretaria de Estado da Cultura,
realiza, 
nos dias 23 e 30 de maio,
a 15ª Festa do Imigrante.


CORAÇÃO MATERNO

CORAÇÃO MATERNO

APRENDIZADO E DESENVOLVIMENTO DO SER

Marciano Vasques
  


APRENDIZADO 
E DESENVOLVIMENTO 
DO SER
 
 

“Não há uma polegada do meu caminho que não passe pelo caminho do outro”
Simone de Beauvoir

 




Somos palimpsestos de nossa própria história, resultados de camadas sobrepostas, vamos nos escrevendo a partir da vivência com o outro, e o outro é um processo histórico e social, a nos moldar, a interagir em nosso Ser, naquilo que somos, que podemos potencialmente ser.
Um só corpo, uma só mente. O que nos torna universo é a oportunidade de sermos uno, a unidade nos simboliza. Ser uno é uma vertente humana que nos remete a cientistas do pensamento, como Vigotsky, para quem o homem é um ser biológico e social: as duas fontes de ser se entrecruzam, sendo que o ambiente social transforma o imperativo biológico.
Sou como sou porque convivo, porque estou entre eles, porque me faço com o outro, porque não poderei me desenvolver sem a aprendizagem mediada pela convivência com o outro.
As funções psicológicas sofrem uma influência gigantesca do social. Esse é o suporte biológico, a forma de desenvolvimento do Ser, passando pelo outro. Em mim há uma multidão! Mesmo quando estou só, quando me ponho na solidão escolhida, quando acredito na ilusão da solidão, como se em mim não colidissem milhares de gestos, palavras ouvidas, olhares, iniciativas do outro. Aquele que me questiona é o que me fortalece, me aponta a minha própria essência, o que temos em nós que se entrelaça, que nasce na história que construímos, num processo interativo em que prevalece a influência do meio.
Nascido no mesmo ano em que Piaget, Vigotsky deixou-nos uma reflexão de importância ainda considerável em modelos pedagógicos que têm como base a idéia de que o funcionamento psicológico fundamenta-se nas relações sociais e desenvolvem-se num processo histórico.
  Sou o resultado do que a história humana me fez,  produto inacabado que surge da interatividade social. Um processo histórico em ebulição agita - me as águas interiores nas quais navega o ser biológico altamente influenciado e construído pelo fator social: a convivência é o tesouro inseparável da mente humana.
O social que me enquadra, que modela a força da natureza que rege a minha originalidade, prática biológica enquadrada pelo social, eis me diante da multidão, a edificar a criatura que se molda. Qualquer inadequação favorece a indisciplina universal e desarticula as órbitas internas do meu universo.
Mas não sou passivo, um recipiente, assim como um vaso no qual se possa socar a terra até que fique cheio (educar uma criança não é como encher um vaso, mas como acender uma fogueira, Montaigne) . Não sou o vaso solitário, passivo, que aglutina em silêncio as forças que interagem em mim. Sou, ao contrário, aquele que reage e participa do processo que em mim se instala. As forças sociais, a história na qual eu me deixo construir, não são ramificações que me atravessam em vão, não representam forças que atuam sobre uma indefesa vontade, mas eu as construo: sou o que sintetiza o processo de crescimento, que se dá de fora para dentro, não de uma forma passiva, mas com o consentimento meu, e a interação se completa porque eu sou aquele que ousa crescer em conjunto, o que vale dizer, permito – me ao atrevimento de participar da minha própria construção.
Como anterozóides que se lançam em várias direções após a chuva, as matérias das quais me nutro, a vida social em mim, a construção histórica na qual eu me movimento, isso tudo é um processo dinâmico de interação entre o mundo cultural e o subjetivo: mundos que na colisão chamada vida, constroem o Ser.
Todo aprendizado, a cada manhã, olhando entre as frestas do sol, as nódoas entre os verdes das folhas nas quais deslizam vidas reluzentes, fibras num rosto, as maravilhas que o cérebro humano cria, o menino que cruza varetas e salta valetas, os trens, os espantalhos, força da natureza nas águas que se atiram contra os rochedos, os saberes que o acadêmico ergueu, a multidão desprovida que luta ferrenhamente pela vida nas ruas do meu país, os que aparentemente sabem menos, mas enriquecem a vida com suas histórias e seu afazeres delicados; todo aprendizado impulsionando o meu desenvolvimento!
Desenvolvo-me porque aprendo, como sempre aprendi, desde que no cimento frio e liso de uma varanda antiga estendi o roxo de um papel de seda que influenciou para sempre o meu sentido da visão, e com a cola arábica fiz o primeiro balão, que alguém chamou de pião de bico torto, e então a tocha molhada de querosene, e o breu em minhas mãos, sendo por mim socado, enrolado por um pedaço de saco de estopa, e aprendi quando atirava as mamonas e sentia a aspereza numa forma verde, e ganhava a consciência do tato, e quando observava uma joaninha nos verdes que se foram, e como abraçava a felicidade mirando o vermelho das telhas num contraste com um azul confortante, num triângulo que o mesmo telhado já em sombras no final do dia transformava numa das visões gigantescas e indissolúveis do meu desenvolvimento.

Aprendi quando imitava o outro, não mecanicamente, mas assim num processo lúdico de crescimento, na criação de algo novo além de mim, da minha capacidade de compreensão naqueles momentos. Imitava porque crescia e o outro já me fornecia a proximidade com o aprendizado, numa zona de interferência que o meu Ser acatava. O processo de imitação nunca foi algo banalizado em meu desenvolvimento, mas uma força ativa, na qual eu reproduzia para crescer, imitava para ser.
A presença do outro em minha vida deu-se através da história social na qual sempre me movi, o movimento social que interagiu com o meu querer, o aparato social que enquadrou minhas necessidades mais intimas. Ambientes que originalmente transformaram o imperativo biológico que me foi presenteado pela natureza.
Crescer é compartilhar. Léguas e polegadas, distâncias infinitas, uma estrada que termina no horizonte, mas o horizonte é uma ilusão, porque além dele o mundo continua, e a alegria de desenvolver-se com o outro, passando pelos caminhos do outro, há de se tornar sempre a mágica da vida.


NA CEIA COM MARIA TRICOTA E BORBOTONO

Ilustração de Daniela Alves Vasques para a Peça de Teatro 
"Na Ceia com Maria Tricota e Borbotono", 
de Marciano Vasques

terça-feira, 25 de maio de 2010

QUEM SABE - de Carlos Gomes

NA CEIA COM MARIA TRICOTA E BORBOTONO

Ilustração realizada por Daniela Alves Vasques para a Peça de Teatro "Na Ceia com Maria Tricota e Borbotono", de autoria de Marciano Vasques

ARTESÃO DOS TECIDOS HISTÓRICOS



Marciano Vasques


ARTESÃO DOS TECIDOS HISTÓRICOS
 
 
 




A inspiração que vem do cotidiano é feita de pessoas que embalam cigarros nas indústrias de fumo, que permanecem em pé durante horas seguidas atrás de um balcão, que vendem balas nos vagões do metrô, água de coco nas praias brasileiras, que lêem os jornais pendurados nas bancas da cidade, que sentam nas escadarias do Teatro Municipal e que infestam o Viaduto do Chá lendo o futuro.

As pessoas apressadas que fingem que almoçam, que atravessam avenidas fora da faixa, que ainda engraxam sapatos na Praça da República, que trabalham em funilarias, em olarias e nas feiras.
Pessoas bondosas e ingênuas que estendem moedas para a mulher que distribui no metrô a foto de uma criança com um texto no verso afirmando que a pequena está com uma doença grave e necessitando de um determinado medicamento ou uma transfusão. A mulher que mostra a foto olha para todos com o olhar estacionado em uma aparente dor distante. Depois, ao sair do metrô encontra-se com as colegas,  sorridentes e felizes por terem desempenhado cada qual bem o seu papel, algumas com crianças no colo. Crianças emprestadas, que, da mesma forma que a foto possivelmente retirada da internet, comovem os passageiros.
O passageiro que inocentemente dá moedas para a "pobre mãe" ajuda a enriquecer uma quadrilha, mas ele é motriz da história, com a sua força de trabalho. Construindo coisas sem conhecer o todo, falando estilhaços do que sobrou de sua alma no bar com a mesma convicção de um evangélico diante de uma platéia. Artesão, como os homens sem recursos no sistema financeiro, como os vidraceiros, os serralheiros, os que mostram receitas aos farmacêuticos...
Passeatas que cortavam cidades ao meio, gente que ocuparam terrenos, que ergueram acampamentos, que gritaram por postos de saúde, que assinaram manifestos, que lecionaram, intoxicaram a alma com o giz da ternura, com a cal da revolta, gente humilhada nas favelas, sangrando nas sessões de tortura, morrendo aos poucos nas filas hospitalares do sistema nacional de saúde.
Pessoas que timidamente procuraram as escolas para freqüentarem um curso de EJA, mulheres dançando forró nos bailes da periferia de São Paulo, nos bailes funks do Rio, nas gafieiras e no sambódromo.
Com um lápis entre os dedos, uma enxada nas mãos, recolhendo papelão e latinhas, respirando fumaça, alcoolizando o coração, acendendo velas e desfiando rezas e temores.
Em todos os lugares, nos centros educacionais unificados e nas escolas de lata, nas feiras e nos mercados, nos terminais de ônibus, nos portos e nas estações ferroviárias. Onde quer que seja, lá estão eles, cada qual contribuindo com a sua parte, com a sua reserva de forças, cada qual se proclamando um artesão dos tecidos históricos. 

 

RETRATOS


domingo, 23 de maio de 2010

O BLOGUEIRO 23


COLETÂNEA

PORTEIRA DO BRÁS


RAMBLIN' ROSE

A RUA LONGA E O CRONISTA

Marciano Vasques

  

A RUA LONGA E O CRONISTA
 



No dia 12 de dezembro de 2003, em que me enviou os votos de um Feliz Natal num bilhete escrito no canto superior esquerdo de uma página do “Correio do Sul”, popular periódico de Varginha, Sul de Minas, o cronista Zanoto, o mais querido correspondente do Brasil, -como eu disse certa vez para Ilma Fontes, ao enviar uma formiguinha-, revelou-me que estava se recuperando de uma cirurgia no coração. Dizia que breve estaria em forma.

No mesmo dia, em sua coluna “Diversos Caminhos” no tópico primeiro falava de uma rua longa, “que é a rua do mundo/passa em torno do mundo/cheia de todas as pessoas do mundo...” como havia dito Laurence Ferlinghetti.
Até as vozes das pessoas que já existiram estão na rua longa. Nós, você, eu, P.H.Xavier, artistas plásticos, vendedores de amendoim, de sanduíches, de bilhetes de loteria, estamos passando na rua longa do mundo”, completava o Zanoto.
Eis uma entre tantas mensagens que não esqueço do amigo dos poetas que mora nas páginas do jornal mineiro.
Ontem enquanto ouvia Ramblin’Rose lembrei do Zanoto, lembrei da fuga da chuva, quando um homem e um menino corriam para a rodoviária na noite de um dia 25 de janeiro após terem estado com o cronista em seu apartamento.


Lembro-me da nossa conversa e jamais esqueci do “passeio maluco”, como bem definiu o poeta de Varginha. Afinal ter saído de São Paulo e ido à cidade do Correio do Sul apenas para ver o ilustre senhor que abriga no peito um coração acostumado com diversos caminhos e voltar no mesmo dia pode mesmo ser considerado uma maluquice. Qualquer outro ficaria alguns dias na cidade, mas parece-me que as visitas rápidas, as viagens curtas são as essenciais.

Eu, que vivo em “estado de partida”, penso que a vida vale por essas maluquices, esses encontros curtos, e sinto uma vontade de dançar ao teclado como gostaria que acontecesse a alma de Nat King Cole, com sua voz aveludada, com seu Ramblin’Rose. Cantos ameigados sempre me conduzem para manhãs distantes.

Mas nunca é demais lembrar que toda luta é grandiosa e o prazer da minha alma, ou seja, o aquecimento que o meu coração recebe com a voz fonográfica está gravado numa luta medonha, é assim com todos, com cada um de nós, com aqueles que decidiram por natureza a embelezar o mundo, cada qual com sua contribuição, toda ela sempre gigantesca, mesmo que pareça apenas uma simples semente, um fiapo de alpiste, uma gotinha de luz, um orvalho lavando verdes distraídos.
Zanoto não brotou espontaneamente, nada brota espontaneamente neste universo de lutas medonhas que se entrelaçam com seus chicotes de luzes e travam batalhas inacreditáveis apenas para conseguir um espaço para jorrar as belezas que querem ser expandidas.

Nat King Cole sofria ao ver que seus músicos eram proibidos de comer nos restaurantes dos hotéis onde ele se hospedava com seus colaboradores. Sofreu também quando comprou uma casa nas proximidades de Los Angeles. Os moradores promoveram uma campanha para evitar que ele se instalasse com sua família no bairro. Choravam todas as noites sem compreender porque os negros não podiam morar num bairro de elite. Ele, um cantor cuja voz já ecoava nos corações dos marujos, dos moradores e de todos os que ouviam rádio, vivia o drama de não poder morar onde quisesse. Quando finalmente conseguiu se mudar para a casa que adquirira com o seu próprio suor teve que enfrentar a intolerância racial e jamais se esqueceu das lágrimas banhando o rosto da filhinha adotiva Carol ao ler as coisas horríveis que os vizinhos escreviam com fogo na grama.
Porém isso não iria atrapalhá-lo, pois o seu destino era afinal se tornar um dos grandes cantores românticos do mundo.

Zanoto do coração lindo, a vida é curiosa. E cá estou a escrever essas “mal traçadas linhas” a lembrar de você e da sua trincheira, da sua batalha em favor do poeta desconhecido desse Brasil belo e maltratado pelos seus governantes nos séculos e séculos, e também a velar pela poesia universal.

A rua longa do mundo, bem disse você naquele dezembro em sua página, tem prolongamento por todas as cidades. Ela cruza avenidas, ruelas, ladeiras, boulevards...E assim vai marcando o espaço nosso neste dolorido e doloroso mundo.


Bem queria, bem-te-li, bem queria vagar na felicidade de Lupiscínio Rodrigues, quem sabe ouvindo ainda o Xote da Felicidade, tal como ouvi certa manhã no Parque da Água Branca, interpretada pela “Orquestra Sanfônica de São Paulo”, ou então na gravação de Paulo Diniz que não me esqueço.
“Nada será como antes”. Mas há coisas que não se vão, pois certamente ficaram à beira do caminho na rua longa.
 

sábado, 22 de maio de 2010

FADO

BREVE ANTOLOGIA DA CANÇÃO DE FÉ E OUTRAS

Marciano Vasques

BREVE ANTOLOGIA DA CANÇÃO DE FÉ E OUTRAS


 
 




Em tempos de faturamento e do desenvolvimento alastrado da fé musical, quando alguns gravam canções mercadológicas com o objetivo de atender a uma necessidade de enriquecimento da indústria da cultura, convém lembrar uma canção gravada por Ângela Maria, e também por Agnaldo Timóteo mais de uma vez, inclusive em seu último CD, uma coletânea vendida nas calçadas de São Paulo pelo próprio artista. Tem músicas de Majó, “Tristeza Danada”. “O sono saiu correndo/meu nervo abalado minha casa não me cabia”. E tem "Foi Deus".

Canções que fazem parte de um tempo e de uma alma diferentes.

De autoria de Alberto Janes Fialho, “Foi Deus” é um primor de letra, beirando a poesia. Não custa ressaltar que tanto a voz do artista, quanto a da Ângela Maria, com suas respectivas interpretações depositam aos ouvidos do Brasil o que há de mais apurado, de mais elegante no cancioneiro da MPB.

Ângela, que já nos brindou com obras como “Tango de Tereza” e “Ai Moraria” nos transporta para uma serenidade, para alguns minutos de rara beleza em tempos de barulho. A sua voz é um brinco da Música Popular Brasileira. A de Agnaldo um doce trovão. Curiosamente os dois se encontraram um dia. Ele procurava emprego e foi ser o seu motorista. Um dia cantou ao volante. A grande dama da canção do Brasil ouviu.
Que a atualidade (inclusive a juventude) precisaria conhecer essas vozes, assim como as de Nat King Cole e Edith Piaf, é indiscutível. Mas ouvir uma canção como “Foi Deus” nos ajuda na aproximação com a alma exposta.

Outra canção que precisa ser ouvida é interpretada por Luis Gonzaga. Trata-se de “Padroeira do Brasil”.


O cantor de “Cego Aderaldo” nos brinda com um canto gostoso de louvação à Santa do Brasil. Já está provado para mim que é bobagem querer fugir da alegria do forró. Muito menos do repertório do rei do baião, no qual podemos encontrar “ A Triste Partida” de Patativa do Assaré.
Ainda dentro do universo da canção popular, lembro-me sempre de um jovem pronunciando que uma canção (uma letra) de Antonio Marcos ainda vale mais do que uma centena de letras de pagodes. Ouvi com curiosidade alguém da juventude do início do século XXI falando isso, e me pus a lembrar das canções interpretadas pelo artista, algumas antológicas, de uma beleza que só ouvindo, assim como outras preciosidades como a canção de Taiguara, intitulada Amanda. Tentei concluir que o jovem se referia à fortaleza das letras, ao comparar um ídolo dos anos 60 e 70 com certa produção musical atual.
Então, ao lembrar que eu tinha dezesseis anos e gostava de uma canção interpretada por Paulo Sergio, um dos artistas do pop nacional mais injustiçados pela mídia da época que fez de tudo para destruí-lo numa vergonhosa campanha orquestrada que contou com a participação de “guerreiros” como o Chacrinha, e hoje eu com mais de meio século de vida, ainda gostando de “Pra Esquecer Que Você Existe (Fujo de Mim)” conclui que ainda não envelheci.


Evidente que ao fazer esses comentários não estou no universo do grande Tinhorão. Mas o fato de transitar da música de Wagner, de Mozart, de Chico Buarque e Caetano para as canções que o povo simples cantava revela-me uma alma voltada para tudo o que é autêntico.

É nesse universo da autenticidade que entra a dupla “Tonico e Tinoco”, e outros cantores da viola, a “Sá Marina” do velho, e bom Simonal, outro injustiçado, mas cada época precisa das suas vítimas.

É nesse universo que entra a voz de Martinha e suas canções simples, como “Pior Pra Você, Bem Pior pra Mim” e é nesse universo que entra a Wanderléia, protagonista de uma das mais bonitas cenas do filme “O Diamante Cor de Rosa”, quando a sua voz vem surgindo ao longe, suavemente, detrás dos rochedos, e aos poucos vai se impondo com a canção “Nosso Amor Vai Ser Um Escândalo”. É a mesma intérprete de “Ternura”, gravada também por Roberto Carlos em 1977, no seu LP de melhor capa.
Nesse ano eu tinha a coleção completa do jornal “Movimento”.

Para a arte autêntica, mesmo que simples, mesmo que em formas simples, não tem idade e não tem época.

A época é pura invenção quando se trata de arte, principalmente da música, mesmo que cantada apenas pelos camponeses. O mesmo pode se dizer da pintura, da poesia, da literatura e dos quadrinhos, uma espécie de arte do século XX.
Com relação à música é bom lembrar da canção de Fagner e Zeca Baleiro, que homenageia os cantores românticos do Brasil que cantam para o povo, entre os quais Odair José, que permanece íntegro, eticamente limpo, sem permitir que o tempo o transforme numa espécie de cafajeste.

A canção da dupla diz que “ninguém pode destruir o coração de um homem sincero”, tudo de acordo com “o cantor de bolero”. No mais é viajar com Cartola.

“Preciso me Encontrar”. Assim caminhei durante um bom tempo.



 

É TÃO LINDO

LETRAS SAPECAS


A sola perdeu o a e virou sol. Que ganhou um da e um do e virou soldado. Que perdeu o sol e virou um dado. Que trocou o a pelo e e virou um dedo. "Você já imaginou a confusão que teríamos, se as letras se tornassem sapecas de verdade e começassem a saltar de um lugar para outro, a trocarem de sílabas, assim, sem mais nem menos, por pura diversão?" Brincando com as letras, Marciano Vasques exercita a criatividade e, de maneira lúdica e prazerosa, auxilia a alfabetização, além de apresentar a riqueza do léxico na Língua Portuguesa. Inaugurando a coleção Ponte do saber, Letras Sapecas é um texto complementar que diverte e ensina.  



sexta-feira, 21 de maio de 2010

NAMORADOS ETERNAMENTE

Marciano Vasques
  


NAMORADOS ETERNAMENTE
  
 
Eles sempre estiveram presentes nas histórias que atravessam gerações. Na mitologia, Eros e Psique inauguram um padrão de amor que jamais abandonou o humano, Eurídice e Orfeu promovem o encontro entre a dança e a música, e pela primeira vez o homem desce ao inferno por causa da mulher. Pelo amor de Eurídice, Orfeu vai à luta e sem a sua amada, ele se destrói, morre. Depois, nas lendas, os namorados reaparecem. Tristão e Isolda inauguram o romance que será vigorado com Shakespeare. Pelo fio de cabelo de Isolda, Tristão vai buscá-la. E os amantes morrem por amor. Ninguém vive sem namorar. O namoro é a fase essencial na vida de cada pessoa. Quando adolescem, homens e mulheres buscam naturalmente no outro a eterna metade que falta. Namorar é preciso, é certo, é necessário, vital. Namorados poetizam a vida.
Depois, nos romances inesquecíveis, e nos grandes clássicos do romantismo, eles estão presentes. Quem nunca ouviu falar de Ceci e Peri, os namorados nativos que embelezaram a nossa literatura? Namoros de todos os tempos ressurgem com novas roupagens e novos ideais.
No XX, reaparecem na comunicação de massa. Inesquecíveis alguns, que parecem eternos. O Espírito que anda e a sua enfermeira, a bela Diana Palmer, que tanto cuidado inspirou dos desenhistas, Mandrake entrelaçado pela mágica do namoro, com a bela e a inesquecível Narda, Flash Gordon confundindo o azul do espaço infinito com os olhos de Dalen Arden, a eterna Minie, e, claro, a grande Margarida, que para tirar o sossego do Donald, aderiu tranqüilamente ao movimento feminista e mostrou que uma namorada tem muito valor.
Nas canções eles encontraram a forma direta de falar ao coração. Compositores e cantores construíram suas belas carreiras falando de amores e namoros felizes ou que não deram certo. Cada um deve ter no baú da sua memória, algum dolorido adeus ou alguma história inesquecível, alguém que esteve um dia em seus braços, cabelos cariciosos, palavras sussurradas, momentos de felicidade. Cada um deve ter na sua memória afetiva, onde residem as lembranças de antigos namoros, alguma canção.
Romantismo, cavalheirismo, homens ficaram ao lado de suas mulheres, fizeram a corte, participaram da sedução, que é a mãe da felicidade amorosa. Mulheres se pentearam, vestiram seus vestidos, moças sonharam acordadas. O namoro tornou-se infinitas vezes o eixo central na vida de tantas pessoas.

Desde um bolero ao mais embalado rock, canções falaram de amor.
E qual compositor ou cantor não retratou musicalmente alguma história de namoro? Chico? Caetano? Gil? Rita Pavone? Domenico Modugno, Gigliola Cinquetti? Qual poeta? Drummond? Gullar? Lorca? Cecília? Mário de Andrade - o poeta patrono de São Paulo? Neruda? Florbela Espanca? Murilo Mendes? Qual?
Hoje, o mundo está mudando, muitas mulheres não querem mais continuar encasteladas, esperando pelo tal príncipe encantado, e vão à luta, participam lucidamente do jogo sedutor, tornam-se namoradas.

Hoje ainda há colecionadores de metáforas da lua, que não perdeu o seu encanto e continua dos namorados e dos poetas. O homem afinal pisou no astro, mas apenas no satélite natural da Terra, jamais pisará na lua dos eternos enamorados. E ela continuará a fiel testemunha de tantas histórias de amor, tantos suspiros, tantas lágrimas e tantos sorrisos alargando rostos.

CEU QUINTA DO SOL


SARAU DO METRÔ


LEITURA EM DEBATE


NA LIVRARIA DA TRAVESSA


quarta-feira, 19 de maio de 2010

MINHA AMIGA, MINHA NAMORADA

NAMORADOS SÃO CARTÕES POSTAIS

Marciano Vasques
  

NAMORADOS SÃO CARTÕES POSTAIS

 

 

“Fique sabendo que eu também andei sozinho...”
Antonio Marcos

 

No principio era o príncipe, o principal. E ela, a princesa. Principalmente. Depois, foi crescendo e a moça, feita em flor; a juventude, a rosa, um risco de ternura entardecendo, demorando.
E ele então, que era um rapaz tão distraído, como quase todos, tímido, virou um namorado, namorado. Mas tudo ficava atrapalhado: o caderno, os livros...
Namorada, esperanças de uma tarde ao seu lado, namorada, não era fácil o pedido do namoro. Sempre surgia a tremedeira que atrapalhava tudo e a voz engasgava e sempre se dizia justamente o que não era para dizer e até se inventava uma dor de dente e os olhos dela eram duas esmeraldas e por mais esmero que houvesse não tinha jeito, nunca dava certo, nunca saía do jeito planejado.
Havia em cada esquina um baile, quase em cada casa uma menina, e um adolescente que queria namorar. E da calçada podia se ouvir A Wide Shade of Pale, aquela maravilha, e também tocava Creedence Clearwater Revival e aquela outra canção dele, mas com palavras não sei dizer.
Depois, no portão do colégio, não é fácil a entrega do bilhete. No cinema um filme, mas o tempo foi passando, e Charlton Heston envelheceu, e o filme foi para locadora.
Quando chove me lembro de você, e toda vez que chove uma canção que o vento levou. E o tempo já me levou a namorada da canção. E Antonio Marcos cantava, e a Martinha e o Roberto. “Se eu fosse você, eu voltava pra mim”. E bem mais longe, lá na mina da água cristalina, “tenho ciúmes de tudo” e “Quem é que não sofre por amor?”, e então Nirvana e as grafites e o e-mail e a hipermídia. E o amor buscando novas formas para se pronunciar.
O tempo não para, poeta. E os namorados estão aí, alguns querendo namorar, nas luzes do Parque Marisa, de Itaquera, e outros vão ficando. E no metrô, no shopping,  na Puc, na USP, em todos os lugares.
Um veio de Alagoas, outro de Pernambuco, ela veio do Paraná, eu sou mineira. Alguém telefonou. Pediu uma ficha emprestada. Agora é celular. Um pastel, um caldo de cana. Agora é fast food. Sou gaúcha, gosto de dançar, de viajar, sou sonhadora.
A menina de blusa rosa e saia branca oferece esta canção para o rapaz que está perto da barraca de bingo, com uma camisa xadrez e uma calça rancheira.
E o inesquecível padre Santiago dizendo ao jovem enamorado que a vida é curiosa.
Quero que você me aqueça, pois estamos em junho. A vida é tão curta e feita de momentos, pois de momentos é feita, assim disse Borges. Não, não importa a autoria. Viver a vida intensamente inclui o namoro. Quem namora é mais feliz.
Namorar sempre. Não importam as circunstâncias, o namoro é um tesouro na vida de qualquer um, talvez um dos melhores medicamentos para o stress, um dos melhores medicamentos contra problemas cardíacos, vasculares, cerebrais, etc. 
Namorar. Tem gente que já perdeu a noção do que é andar de mãos dadas numa calçada assim na avenida Paulista ou em alguma rua do subúrbio, talvez da zona sul, talvez numa tarde azul, numa casa azul.
Namorar, mas namorar serenamente, tranqüilamente, sem conflitos, sem sofrimentos, sem dramas.
Se fosse possível assim ordenar a natureza humana para que os namorados pudessem se desvincular de todos os equívocos e então, tal como se cultiva um jardim apenas por amor e prazer (não para o comércio de flores), extraindo as ervas daninhas, os insetos sugadores, e regando, nutrindo a terra, e depois vendo surgir com as cores o perfume das flores, se assim pudesse ser, como o mundo seria melhor!
O mundo nem sabe disso, mas deve muito aos namorados.
Com eles a praça é um sinal de paz, de harmonia, de felicidade. Uma praça deserta, sem namorados, sinaliza um tempo sombrio, de violência.
Um tempo, uma cidade, nos quais os namorados precisam se esconder, fugir, é um tempo de temores. Afinal eles são como cartões postais de uma cidade. Crianças correndo num parque, pássaros na tarde, flores, namorados...

Cartões postais não apenas da cidade, mas de uma época.
A felicidade de um tempo, a alegria de uma sociedade está nos seus namorados.

Namorados, o dia é de vocês.


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