quinta-feira, 30 de maio de 2013

E VIVA A CONVERSA BOA!

—Rospo! Que linda noite de sábado!
—Hoje é quinta, feriado, lembra?
—É mesmo!

terça-feira, 21 de maio de 2013

A MENININHA E OS NAMORADOS

—Novamente!
—Novamente, o quê?
—Sapo! Outra vez? Pode se mandar?
—Nem cheguei!

—Qual é o problema?
—Estava beijando a sua namorada na boca, ardorosamente. 
—E daí?
—Viu quem está do seu lado? Por acaso reparou que ao seu lado está a irmãzinha dela? Uma sapinha ainda? Uma menininha? Gosta de livro infantil?
—Não sou mais criança!
—Já foi?
—Está tirando um sarro comigo?

—E gibi?
—Sapo, esqueci o seu nome.
—Esqueceu de bobeira. É Rospo.
—Pronto! Já está satisfeito? Pode ir agora?
—Compreendo que essencialmente o amor romântico tenha uma dose de egoísmo. Porém aprendi desde cedo que uma dose geralmente não faz mal. Ocorre que o amor não suporta a estupidez, não atingiu ainda um grau de idiotice tão imenso. O amor não é uma máquina de fazer alienados...
—Posso bater nele?
—Não, querido, é apenas um sapo qualquer.
—Quase acertou em tudo, só errou no "qualquer". Mas, e então? Não vai melhorar?
—Como é? Está perguntando pra ela ou pra mim?

—Tanto faz. Por acaso não sabe que melhorar só tem um efeito colateral?
—Qual?
—Faz bem para todos os que estão ao seu redor.
—Esse sapo já encheu!
—Está perturbando o meu namorado! Por que não diz logo o que quer?
—As marcas da infância são indeléveis.
—O que é isso? 
—Elas não se apagam por completo jamais.
—O que estamos fazendo de errado, sapo?
—Rospo, por gentileza.
—Então diga, seu Rospo!
—O que estão fazendo de errado é o beijo.
—É louco!
—No mundo de hoje a lucidez virou loucura.
—Qual o problema com o nosso beijo? É muito erótico? Perturbou você que não tem ninguém para beijar hoje?
—Isso, meu bem. Tasca nele!
—Olhe, vou dizer qual é o problema. Não posso competir com a cegueira.
—Diga logo, pois estou dando muita atenção para você.
—O problema é ela, aí, do seu lado.
—A menina?
—Sim, ela está constrangida. Não sabe onde esconder os olhos. Ela tem que passar por isso? A sua inconsequência, a sua insensatez faz isso?

—CHEGA!
—Quem beija também berra o grito dos tolos.
—Agora ele apanha!
—Já contou uma história de Andersen pra ela?
—Pra minha namorada?
—Pra menina!
—Não, não contei. Quem é esse cara?
—O que mais você não fez?

—Rospo, você está incomodado pelo fato que eu posso beijar a minha "mina" na hora que eu quiser, nos lugares que eu quiser.
—Meu querido. Está enganado. Um belo engano, por sinal. Você não pode beijar, da forma como beijava, a sua menina quando ela traz a irmãzinha dela para ficar ao lado.
—Essa menininha deve até assistir novela!
—Não justifique você pela multidão.
—Pode traduzir essa frase?
—Não, não posso. Mas, preste atenção: a menininha está ao seu lado e vocês num estendido beijo retorcido... E você não trouxe sequer um gibi para a pequena, nem um livro. Ora! É realmente muito romântico, não é? Pois eu digo: tem a namorada que merece!

—É moralista, Sapo?
—Não, querida, nem pensar. Mas, alguém já disse a você que a criatura mais pura do planeta é a menina?
—Não, ninguém disse.

—Mas alguém certamente já disse isso para o mundo.  Alguém que participou do rompimento da mudez para estabelecer o diálogo com a surdez....
—Sei lá do que está falando! Quem disse isso para o mundo?
—Que tal Nietzsche?
—Não foi esse cara que morreu louco?
—Bem, preciso ir. Mas, por favor, não prejudiquem a menina.
—Ninguém vai prejudicar ninguém com um beijo.
—O que mais quero é que todos os namorados sejam felizes. Aliás, quando as praças do mundo voltarem a ser dos namorados poderemos voltar a sonhar com um mundo feliz.
—Então, Rospo, viu? Namorados nas praças.
—Sim, e criancinhas também, menininhas.
—Meu Deus, não se pode nem namorar em paz!
—A paz de cada um não pode causar estragos no outro.
—Estragos? Amanhã ela nem vai lembrar desse beijo na boca, senhor Rospo!
—Pois é, antes fosse.

ROSPO 2103 —875
Marciano Vasques

terça-feira, 14 de maio de 2013

O QUE SE PERDE PARA SEMPRE

Na nervura da tarde um casual encontro:
—Sapabela! Saudades!
—Rospo, feliz demais por vê-lo!
—Sapabela, vamos...?
—Aceito!
—Nem terminei o convite! Como pode ter tanta confiança assim em mim?
—Rospo, sabe qual a única coisa que quando se perde jamais se encontra de volta?
—Não!
—A confiança! Perdeu, perdeu para sempre. Nunca mais será retomada. Adianta não vasculhar o fundo do rio, perseguir cordilheiras, atravessar vales... Pode procurar no mundo inteiro, nos dois mundos, e verá que não verá jamais...
—Sapabela, que dois mundos?
—O mundo tem duas dimensões, temos portanto, dois mundos. Um é o da memória, o mundo do Eu, no qual um vasto universo se agita todos os dias, a cada novo instante, e quando um instante passou, outro já chegou. E esse mundo prossegue, num turbilhão de sensações, de neurônios, neuroses, lágrimas, gargalhadas, desventuras e aventuras de ventanias num avental de sonhos ou dissabores que não se dissipam. Cada vida é um complexo universo que some na poeira, na fumaça, mas ficará para sempre na semeadura do inatingível Eu, onde tudo se mescla e os sentidos se fundem, pois tudo é imenso demais para se perder.
—Entendi.
—Rápido!
—Aprendi com Sapabela! Quero ser sempre rápido...
—Não diga bobagem, Rospo!
—Está bem, sua danadinha. Mas, compreendi. Tem dois mundos: o real, que é o mundo exterior, e o que está dentro de você, que é o da memória, dos sentimentos, o das histórias que precisam ser narradas. A vida que clama pelo destino literário.
—Muito bem. E assim é a confiança: Perdeu, perdeu para sempre. Jamais se recupera a confiança perdida.
—Bem radical isso, nega.
—Que saudades!
—Do que?
—Desse "nega"...
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! Isso é bom demais da conta. É uma coisa tão amorosa...
—Pois então...
—Mas você parece que tem uma confiança cega...
—Tal coisa é profundamente pleonástica, Rospo! Não existe confiança cega. Existe confiança.
A confiança só age na luz. A confiança não é cega. E a fonte de confiança, aquele que gera a confiança, aquele que promove a fonte, esse deve se preocupar diariamente. Deve ser zeloso, cuidadoso, pois afinal ele é a fonte, a confiança é dele. A confiança é sempre um bumerangue. Quando você se torna uma fonte geradora de confiança, você está cativado por essa fonte, e se torna responsável por aquele que confia.
—E quem confia?
—Quem confia deve permanecer tranquilo. Quem deve viver a força sugadora da confiança é quem gerou a fonte da própria. Pois afinal, bem sabe agora, perdeu, perdeu.
——Os políticos não merecem confiança!
—Rospo, um belo corte, embora desnecessário aqui. Mas vamos lá: isso é um estereótipo. Tem político que merece sim a confiança da população do brejo.
—Cadê? Cadê? Onde estão esses políticos?
—Rospo, vai dar muito trabalho ficar procurando um agora, mas sei que eles existem sim. Porém. para fechar a conversa, quero dizer que a confiança plena também é uma ideia pleonástica, pois confiança é ou não é. Não existe esse negócio de plena. Ou confia ou não confia. No mais, é como eu disse: Perdeu, dançou. Vai ver escapar entre os dedos o mais precioso tesouro. Quem deixou de confiar vai sofrer com a desilusão, mas a perda incomparável, a medonha perda, essa é de quem gerou a fonte da confiança. Esse vai amargar uma perda sem retorno.
—Sapabela, que coisa! Deixe-me agora completar o convite: vamos tomar um licorzinho de anis?
—Vamos! Um licorzinho hoje abre as luzes outonais de junho, que anunciam a força junina da nova estação que aporta...
—Sapabela, como estou feliz! Chegamos! A padaria Rubi está brilhante. As luzes cacheadas num alegre esplendor. Será que outros sapos estão vendo assim?
—Dividir a felicidade é o maior ensinamento da Filosofia, Rospo, mas esperar que o conceito de felicidade esteja em cada coração da mesma forma, é pois acreditar que se possa uniformizar aquilo que é universalmente livre...

ROSPO 2013 —874
Marciano Vasques


domingo, 12 de maio de 2013

FALANDO DE MÃES E OUTROS ASSUNTOS

—Rospo! Dia das Mães!
—Não tenho mãe, Sapabela.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

O SAPO E O TELESCÓPIO

—Rospo, você sabia?...
—Adoro isso!
—Que um mero eleitor pode ser um esmero de consciência?
—Claro, amiga!

terça-feira, 7 de maio de 2013

ROSPO IMPRESSIONADO

—Boa noite, deputado!
—Eu o conheço?
—Certamente não. Sou um eleitor.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

FAMINTOS FANTASMAS

—Fantasmas são famintos. Não ofereça a eles um banquete, um banquete chamado você, a sua alma.

domingo, 5 de maio de 2013

FALAR E ESCREVER

—O que não se falou, faliu.
—Nem bem é assim, querido amigo. Ás vezes o que se fala é falácia. Nem sempre a fala é fálica, às vezes é frágil, e às vezes se oculta, como nas noites clandestinas nos países onde vigoram ditaduras, quando então se desfaz o "mito" proverbial de que "quem cala consente".
—Sapabela, você vai fundo!

sexta-feira, 3 de maio de 2013

O BEIJO HISTÓRICO


VULTO


Nem roupa feminina em varal eu posso ver...
Sou o namorado esquecido
Na pressa da cidade...
Sofrer de amor
É a velha novidade.

A LUNETA E A MULETA

—Sapabela!
—Rospo! Que saudades!

O LADRÃO DE LÁPIS

Sou
O ladrão de lápis
Lápis de cor.

Cores escorrendo
Perdidas
Nas calçadas.

Sou o ladrão
De lápis
Roubando esquecimentos
Descasos
Abandonos.

Achado não é roubado!

Quantos lápis...

Crianças!

Onde estará
Cada criança
Que esqueceu...

Que abandonou
Toquinhos de cores?

Que vou recolhendo
Passageiro
Cigano
Na distraída cidade.


Marciano Vasques

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