sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O QUE REALMENTE IMPORTA

—Suponhamos que o cinema um dia viesse acabar... Sei de um lugar onde ele resistiria para sempre, num aconchego de agasalho e proteção.
—Rospo, a sua romântica visão sobre o cinema não pode nublar que ele hoje é uma poderosa indústria...

—Sapabela, isso é outro departamento, é outro setor... O cinema ao qual nos referimos é o da magia, o do encontro, o do sonho... Essa questão da indústria está presente em tudo. Veja que não deixamos de comer um alimento gostoso, só porque foi produzido pela indústria. Assim é com tudo, com o cinema também. O prazer, a felicidade interior de cada um está no resultado final... Ou também a dor e a tristeza, se for uma indústria que produz armas. O cinema é pleno de magia, e felicidade. Ele é para os amigos, os namorantes e as famílias... Cinema é tudo de bom. Que seja uma indústria que movimente milhões de dólares, isso não tem importância nenhuma. Até costumo ler poesia em livros, e você sabe, livro também é industrialmente produzido... Na música sempre foi assim.
—Fale, Rospo. Adoro ouvir essas coisas.
—No tempo do Long Play, veja um exemplo, quando surgiu a dupla Tonico e Tinoco... Caminhões cortavam o Brasil, levando carregamentos de discos desses artistas...
—Já pensou se eles tivessem ganhado todo esse dinheiro de Direitos Autorais? Teriam ficado ricos...
—Pois é, Sapabela, não se preocupe com essa questão da indústria milionária. O cinema em sua magia é o resultado final... O importante é que você aceite o convite para um cinema... Isso é o principal, em princípio...
—Aceitar o convite é o resultado final de uma coisa gigantesca...
—Talvez o resultado final sejam os romances que surgem, o beijo roubado, e a tela, com seu mundo de ilusões e de beleza.
—Mas você falou de um lugar onde o cinema resistiria num aconchego de agasalho...
—É no meu coração, Bela.
—No seu coração tem uma tela?
—Assista!



HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 685
Marciano Vasques

LUA E LIA

Lua
Traga pra cá
A ciranda
De Lia
De Itamaracá.



Marciano Vasques

CONVIDANDO PARA O STREAMING

—Rospo!
—Sapabela! Que vestidinho lindo!
—É para contemplar o sábado, para festejá-lo...
—Mas hoje é sexta!
—É mesmo! Ou é vontade de sábado ou sou mais louca do que queria... Mas, o importante é que o vestidinho está feliz. E você, Rospo, o que anda fazendo?
—Estou pensando em convidar uma amiga para um streaming... E nem precisa de download!
—Rospo, não precisa se exibir só porque hoje é sexta, e lembre-se: sexta ninguém é de ninguém, portanto, ninguém vai prestar atenção nem no seu Inglês...
—Não me faça rir, Sapabela. Ou melhor, faça...
—Mas eu não vou para esse negócio, não, Rospo, esse tal de streaming... Você sabe, somos amigos, todavia, amizades à parte. Ou seja, amizade e streaming podem se embolar no caminho...
—Não seja boba, Sapabela...
—Às vezes eu gosto de ser boba, Rospinho, e ver a caravana passar....
—Streaming quer dizer que muito brevemente você poderá asssistir à filmes inteiros sem necessidade de "baixá-los".  É a novidade que vem por aí...
—Sabe, Rospo, quando surgiu o vídeo, surgiram também previsões de que o cinema iria acabar... Depois o DVD, mas o cinema está aí, ressurgiu, mais forte do que nunca... Ele é a fênix com telona...
—O cinema não acaba, Sapabela, por causa da magia...
—E do escurinho...
—Também...
—Quantos filmes não foram assistidos...
—Não entendi, Sapabela.
—Não se faça de rogado, Rospo... É que muitos casais de namorados nem sequer para tela olharam...
—Entendi. Na sexta você fica irresistível! E adorei a sua blusinha rosa...
—Obrigado, Rospo, mas, fale desse tal Strea... Como é mesmo o nome?
—Streaming, você vai poder assistir ao filme que escolher, diretamente na tela do computador, sempre que desejar...
—Então, talvez o certo seja pôr o computador diante do sofá, e a família se reunir para ver um filme...
—Eis uma ideia sapabélica.
—Quer dizer então, que a solidão da internet vai acabar, e o gosto de a família se reunir na sala voltará?
—Não é tudo isso, Sapabela, mas é sim uma mudança nos paradigmas do olhar, isso altera substancialmente o modo como nos relacionamos com o cinema, que é um especial momento  na vida de cada um...
—Rospo, tenho um imenso apreço pela tecnologia, sei das suas grandezas e das suas limitações... Mas, que tal, em vez desse Streaming, você me fazer outro convite?
—Adoro convidar você, Sapabela. Mande dizer...
—Que tal um cinema hoje à tarde? Ou melhor, amanhã?
—Aceito!
—Mas é você quem vai convidar, Rospo!
—Aceito convidar, foi isso que eu quis dizer.
—Pois eu aceito o convite, estarei amanhã, às 17h, na praça....
—Já escolheu a cor?
—Que cor, Rospo?
—Do vestidinho de amanhã.
—Vou pensar numa cor que combine com o brinco, e discretamente, com o esmalte...
—Sapabela, a magia do cinema começa bem antes, começa no encontro...
—Para mim, começa no convite.

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 684
Marciano Vasques

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

APENAS...

Jamais o ódio, apenas a indignação. O ódio é de uma insuportável pobreza, e nos enfraquece o espírito de forma devastadora. A indignação nos eleva, nos revela a imensurável grandeza que pode um coração abrigar.

POIS É...





Não dá para fugir da alma do povo...

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Antônio Marcos e sua Filha Paloma Duarte



Incrível que o tempo tem passado, mas continuo amando o artista que foi o ANTONIO MARCOS.
Marciano Vasques

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

BADALANDO, BADALANDO...



Rospo encontra a Sapabela, que para variar, está muito entusiasmada com a noite lunar.

A WHITER SHADE OF PALE

SENSO COMUM?


Rospo e sua amiga se encontram.
—Sapabela, estive pensando em algo que a maioria tem.
—Isso é fácil! Senso comum.
—Acertou! Está inspirada hoje?
—Hoje é o dia lunar, certo?

domingo, 25 de setembro de 2011

SOB AS LUZES DA CIDADE

Lá ia ela, mais Sapabela do que sempre, com o sorriso de dominguinho já se indo, mas firme na sua resolução de ser sapa, a todo o custo. Linda com tal lacinho, com tal brinco, e com tal anel que só a imaginação pode pôr em seus dedos, mas lá ia ela, com seu vestidinho, a sua

PARLENDAS E LUAS

—Rospo, adoro parlendas!
—Eu também.
—Veja, hoje é domingo pede cachimbo, hoje é sábado pede quiabo.
—Diabo?
—Quiabo, Rospo! Quiabo com carne, batatas...
—Entendi. Prossiga.
—Hoje é segunda, pede...

DE BITUCA NO DIÁLOGO SURREALISTA

Rospo lendo o jornal na praça e, por distração, de bituca no diálogo surrealista de um casal.
—Se você fizer amor com outra sapa, não olho mais para você.
—Se não fizer amor comigo, para qual sapa deverei olhar?
—Você só fala nisso, em fazer amor.
—É fazendo amor que a gente faz o amor.

sábado, 24 de setembro de 2011

VESTIDO QUE VESTE FLOR

—Sapabela, vi na sua foto de perfil no Facebook, você com aquele vestido tão primaveril...
—Você viu, Rospo? Esteve lá?
—Por acaso, estive sim. E vi que as meninas estão comentando.
—São minhas amigas.
—Se um menino também pudesse comentar...

O MENINO E O GALAGO

Poema "O MENINO E O GALAGO", ilustrado por Carmen Gutierrez, para o meu livro "Duas Dezenas de Meninos Num Poema".

O INVENTOR DE VIDAS

Poema "O Inventor de Vidas", ilustrado por Carmen Gutierrez, para o meu livro "Duas Dezenas de Meninos num Poema".

DEVANEIO INCOMODANDO?

—Deve ser bom ter um nome pra sonhar!...
—Está triste, Sapabela?
—Não, Rospo! Ao contrário, estou feliz, bem contente, como pode ver. Foi apenas uma gota de devaneio. Nem pense em tristeza. Quero mais é me levar. Tristeza? Nem ligo!
—Não está me parecendo totalmente acreditável...

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A WHITER SHADE OF PALE

AGASALHO

O verdadeiro especialista em compartilhar não é o do Facebook, mas aquele que consegue ver no outro a necessidade de agasalho. O agasalho das palavras, do afeto, da compreensão, do diálogo, da amizade. Compartilhar esses agasalhos, eis a grande arte.

NAS ANDANÇAS DO COTIDIANO




Peri feria, sem ira, sua amiga Iracema, quando não queria com ela cirandar. Ela ficava magoada e a má água em seu olhos escorria fazendo bonito lago de dar dó, logo ela, a menina do anel de vidro. Mas ele, que corria naquelas ruas empoeiradas, sumiu, dizem que entrou num bosque chamado solidão e de lá numa mais voltou. Iracema cresceu. Os bailes vieram. E nas ruas da periferia dizem que às vezes anda com o olhar submerso nalgum verso que guardou, coisa de brincadeira.

PROCURANDO POR ELA

—Lá estava o Rospo beirando o lago, pescando pensamentos e contemplando a paisagem quando ele chegou.
—Aonde vai tão angustiado? —perguntou ao sapo apressado.
—Estou procurando por ELA.
—Ela?
—Sim, vou subir aquela montanha, cortar os vales, procurar em todos os caminhos; hei de encontrá-la!
—Mas quem é Ela, afinal?
—Ao pronunciar o nome dela,o sapo causou no Rospo um riso revelador.
—Por que o riso, meu amigo? O que eu disse de tão engraçado?
—Não adianta procurá-la na montanha, nos vales, em qualquer parte do mundo.
—Mas, onde então devo procurá-la?
—Ora, amigo, é a felicidade o que procura. O lugar mais adequado para encontrá-la é dentro de você. Se ela não estiver neste lugar,de nada adianta percorrer o planeta.




HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 677


Marciano Vasques

APRENDIZADO

às vezes eu ficava na vidraça com o nariz escorrendo. Lá fora a friagem. E meus olhos grudados num gafanhoto e num filete de água que escorria no peitoril. Então o aroma do anis, que vinha do fogão, me mostrava o entendimento de como o amor se expressa. E para reforçar o doce aprendizado, sua voz dizia: a blusa de flanela está na primeira gaveta!
Enquanto catava lêndeas

Ela bordava no meu coração de menino


As lendas.
Depois eu

 era tão feliz
Ao ver a ventania rolar os baldes no quintal,
E ao ouvir a chuva na calha.
Não pense que isso se foi.
Nem pense que o aroma da canela numa manhã friorenta
Terá sido em vão.

SAPABELA LIGANDO

Rospo atende:
—Sapabela! Que alegria você ligar!
—Ligar faz a diferença, Rospo!
—Verdade, nega. Tudo que realmente importa é repleto de ligações.
—O que são os neurônios? Uma rede de ligações. O próprio universo em sua sincronia: feixe de astros que descrevem harmoniosas órbitas. 

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O AMOR QUE MOVE

Lá ia a Sapabela, linda como sempre, esmalte lilás bem suave, vestidinho com tonalidades roxas, a própria beleza  flutuando em si. Então, encontra o querido amigo Rospo.
—Rospo! Rospo! Meu querido! Como vai?
—E estou bem, minha cara. Nunca estive tão feliz. Hoje queria falar de amor, que é o meu prato predileto.
—Prato?

FÁBULAS E HISTÓRIAS DA PERIFERIA

Na periferia de São Paulo, menina brincava no capinzal quando a sua bola caiu num poço.
Um estranho se ofereceu para ajudá-la a ter de volta a bola, desde que ela prometesse que ele jantaria em sua casa.
Na aflição, a pequena prometeu.

AKIRA

Marciano,
São ótimas as histórias do Rospo, divertidíssimas e fixam sempre conceitos e valores corretos. Os diálogos fluem naturalmente como correntezas de riachos cristalinos.
Cada história uma observação, uma lição. Nessa o sapo babaca descobre que ele mesmo a levou dele. Tão babaca que ainda não sabe que ele se levou dele. Quer saber? Bem feito para ele.
Um abraço do Akira.

DEPOIMENTO

Sei porque não combino muito. Agora entendo: eu nunca estive preparado para tanta maldade. Sempre terei muita dificuldade em lidar com a arrogância. Você pode realmente escrever coisas lindas e até comoventes. Mas quando essencialmente o coração é arrogante, de nada adianta. Durante um bom tempo, romântico que sou, mantive em mim uma visão extremamente pura que não combina com os dias atuais. Defendia eu, e disse isso em muitas conversas entre os amigos, defendia pois que o poeta deve viver de acordo com o que escreve. Depois fui estendendo o meu pensamento e ele se tornou mais abrangente. Não apenas o poeta, mas também o artista da "Televisão", o ídolo das massas. Todos deveriam viver de acordo com o que

DEPOIMENTO

Sei porque não combino muito. Agora entendo: eu nunca estive preparado para tanta maldade. Sempre terei muita dificuldade em lidar com a arrogância. Você pode realmente escrever coisas lindas e até comoventes. Mas quando essencialmente o coração é arrogante, de nada adianta. Durante um bom tempo, romântico que sou, mantive em mim uma visão extremamente pura que não combina com os dias atuais. Defendia eu, e disse isso em muitas conversas entre os amigos, defendia pois que o poeta deve viver de acordo com o que escreve. Depois fui estendendo o meu pensamento e ele se tornou mais abrangente. Não apenas o poeta, mas também o artista da "Televisão", o ídolo das massas. Todos deveriam viver de acordo com o que

domingo, 18 de setembro de 2011

ROSPO NA PRAÇA LENDO O JORNAL

—Meu amor, quando nascer em meu coração, será 0800.
—Gostei, Sapabela. Fale sobre ele.
—Mas ele ainda não chegou, Rospo.
—E o que precisa para ele chegar?
—Não precisa de nada. Não se mede tempestades

RUMO AO FEMININO

—Não esquento não.
—Falando sozinha, Sapabela?
—Rospo! Que nada, meu amigo. Preciso jogar minha voz ao ar, pois glorifico a imensa alegria de ser fêmea.
—Que bonito! Mas, Sapa sofre.
—Eu sei, pelos séculos&séculos amém.
—Sapabela, penso que a sapa é preparada desde cedo para sofrer.

A MÁQUINA DO TEMPO

—Rospo! Que bom encontrá-lo por aqui. Hoje decidi organizar, ou seja, botar flores e alegrias em meu organismo.
—Fico feliz por vê-la assim a transbordar de alegria.
—Isso, meu amigo! Transbordar é a palavra mágica. Trans bordar. Nós estamos sempre trans bordando, ou seja, bordando a vida de cores em todos os entrelaçamentos, em todos os recantos.

TÔ SABENDO NADA DE MIM

Hoje é sábado! Tô sabendo nada de mim...
Vejo que está feliz, Sapabela. Mas não seria: “Ninguém é de Ninguém”?
Isso foi ontem, sexta-feira. Sábado é assim: “Tô sabendo nada de mim”.
Mas hoje é domingo, Sapabela!
É? Nossa. Acordei “de sábado”.
Esse é o vestidinho de sábado?

sábado, 17 de setembro de 2011

SEMEANDO CONVERSAS


Rospo rebusca rabiscos na alma para compreender o que o teria entristecido, e ao se dar conta de que entre tecidos o coração se renova, tenta se erguer, machucado, como se fosse uma sequela, atolado numa incicatrizável memória do que poderia ter sido... quando encontra a velha amiga Sapabela.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

SOBRE OS CORONÉIS

Meu querido amigo, chega a ser comovente seu texto, sou mulher e já vi e ouvi muita coisa parecida e bem pior que essa. e veja só, de amigas com nível superior e bem

SAPABELAS


Oceanoazul Sonhos Nesta festa que deve ser a vida, benditas as sapabelas espalhadas pelo mundo, simples mas elegantes no trato, na humildade, na bondade rodeando as pessoas de amizade e carinho. Coloremos o planeta!

CASA

"Eu lhe dou a casa de minha alma à poesia"
Nata — Santiago do Chile

CORONÉIS E SUAS MULHERES

CORONÉIS E SUAS MULHERES
Recentemente, conversando com uma atendente de uma biblioteca do Shopping Penha, disse-me ela que seu namorado a proibiu de ter o Facebook.
Preciso repetir. Seu namorado a proibiu de ter o Facebook.
Palmas para o idiota.
Também hoje tomo conhecimento de que a minha amiga saiu do Face, por ter seu marido, um machista terrível, proibido. Ele a proibiu de ter um Facebook, de estar numa rede, e ela acatou. As mulheres acatam.

PARA VOCÊ

terça-feira, 13 de setembro de 2011

FAÇA O SEU PRÓPRIO ARCO-ÍRIS

A ALEGRIA DE SER SAPABELA

—Sapabela! Que linda! O seu vestidinho!... Parece um canto à felicidade.
—E é, e tem as cores que eu gosto. Lilás, roxo, fiapos de rosa: são cores que eu amo, Rospo! Que me entram pelos sentidos. E meu vestidinho faz parte da minha festa.
—Que festa, Sapabela?

domingo, 11 de setembro de 2011

A PRIMEIRA CANTORA DE CASA AZUL

O SAPO DE ALUGUEL

O SAPO DE ALUGUEL


Lá vinha o Rospo com a placa pendurada no corpo: ALUGA-SE PARA POESIA.

A Sapabela estranhou: — Que placa de aluguel é essa, Rospo? E por que alugar para poesia? Uma coisa inútil que na prática para nada serve...

Com a provocação da amiga, Rospo reage.

—Não fale isso! A poesia tem muita utilidade. Aliás, por que tudo tem que ter utilidade?

—Ora, Rospo, precisa se apegar mais ao que tem serventia. Uma casa, por exemplo, é algo útil.

— A utilidade material da casa é tão importante quanto à poesia...

—Explique. E fale também sobre essa história de aluguel...

— A poesia precisa de uma morada.

—Sim?

—Então ela pode morar dentro de mim. Eu me ofereço para abrigá-la. Posso ser a sua morada, a casa da poesia.

—Entendi. A poesia pode morar em você, mas isso ainda não demonstra a sua utilidade.

—Simples. Com ela morando em mim eu melhoro. Essa é a sua utilidade: melhorar os que a carregam dentro de si.

— “Ele tem razão. É simples.”


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 668
MARCIANO VASQUES

sábado, 10 de setembro de 2011

AMOR NÃO PRECISA DE PLEONASMO

Rospo encontra um amigo.
—Como vai, Rospo? E aquela sua amiga?... Esqueci o nome dela.
—Eis um sapo problemático.
—O que disse?
—Nada importante. Veja só, meu amigo: o estádio que estão construíndo. Já pensou? Além da abertura da Copa de 14, depois virão os shows. Todos os cantores em final de carreira na Europa e nos EUA virão aqui, se apresentar. Nós merecíamos.
—Sei não.

ROSPO NA FILA



Sapabela, com aquele vestidinho inspirador, encontra o amigo numa fila no supermercado.
—Rospo! Novidade vê-lo aqui.
—Seu vestidinho está encantador.
—Obrigado. Mas, diga, é raro ver você por aqui.
—Estava angustiado, Sapabela...

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

FRESTAS



Indelicadezas se estenderam vida afora,
Madrugadas.
E a outros prantos se somaram.
E ficaram assim pregadas,
Em rostos marcados,
Pelas intempéries
Das palavras que não cicatrizam.
Mulheres que se agarraram aos sonhos,
Que se foram em barcos à deriva,
Em noites germinais de ventanias:
Indecifráveis melancolias.
As doces ilusões
De doces caseiros
Com ternura,
Para quem nem mais ideia tinha
Do que se trata afinal tal coisa assim.
A ilusão de homens fiéis,
E nada além de um companheiro
Pra ouvir e pra dizer.
Mulheres pedem pouco,
E tão pouco,
E quase nada algumas,
De tão miúdo que é
O desejo,
O fiapo do desejo,
De serem simplesmente amadas.
Amor:
E só isso bastaria.
E alguns meninos não pregaram os olhos,
E madrugaram numa imaginação
De sons e onomatopeias,
Alucinando as noites
Das almas
Que assoviavam
Entre as folhas, e longe pra dedéu.
Esses meninos viram
Rosto maquiados
Em circos de abandono.
E ouviram
O diapasão anunciando
O biju.
Mulheres, nos sonhos
Mais antigos que Cashmere Bouquet,
De talcos ilusórios,
De bijuterias, sonhos a granel,
E bastaria um de valsa
Mas na valsa que a tudo
leva,
Deixaram entre os dedos
Escapar nada mais
Que o melhor,
De si.
Que dor caberia numa madrugada apenas?
Precisaria sim,
De um poema,
Pelo menos.

MARCIANO VASQUES



NAMORO SURREALISTA

Nem sempre acredite no que está vendo, pois às vezes o que pensa que é, é pura ilusão, puro disfarce, sendo assim, não acredite que o Rospo está na praça lendo o jornal. O que ele está é ouvindo a conversa do casal de namorados no banco ao lado. E vamos ouvir também,  começando pela sinceridade do namorado.
—Meu amor, você é a única sapa que eu amo. Só você está no meu coração.
—Mas você saiu com aquela sapa.
—Mas com ela é só sexo!
—Jura?
—Juro, é só você quem eu amo. Com ela é só sexo. Eu jamais mentiria para você.
—Está bem, eu acredito.
—Alguma vez já demonstrei que não amo você?
—Mas eu não suportaria ver você nos braços de outra sapa.
—Meu benzinho, isso jamais acontecerá. Eu jamais permitirei isso. Pode ficar em paz, jamais irei pelos caminhos por onde você anda.
—Posso confiar em você?
—Pode, jamais me verá nos braços de outra sapa.
—Ei, seu moço!, você que está aí, lendo o seu jornal..., acha que eu devo confiar nele?
—Sapa, por favor, como bem disse, estou aqui lendo o meu jornal. Não me ponha no meio disso. Eu nada entendo de namoro surrrealista.

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 665
Marciano Vasques

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O PRESENTE DO ROSPO

Rospo encontra um colega aniversariante.
—Rapaz! Que alegria! Um colega fazer aniversário é tão importante quanto um amigo fazer também.
—Obrigado, Rospo. Você me emociona, eu acho.
—Procurar é mais importante do que achar.
—Pois é, meu caro Rospo. Estou ficando mais velho.
—Péssima escolha, meu caro, péssima escolha.
—Do que está falando, Rospo? Todos envelhecem, as árvores, os sapos. Tudo na natureza envelhece.
—Sim, mas os sapos são diferentes. Eles têm o poder da escolha.
—Está maluco, meu amigo? Aliás, sempre foi um pouco, não é?
—Quem é maluco só um pouco não é. Para ser maluco, tem que ser completo. Como o poeta, não existe o poeta incompleto. Ou é ou não é.
—Sabe, Rospo. O seu papo está bom, mas quero ir, para curtir o meu aniversário. A segunda está bonita, e quero ver se ganho algum presente.
—Hoje é quinta, e já ganhou um, agora. Veja, trouxe um livro para você, é de aniversário.
—Obrigado, Rospo, mas não se pode pôr o carro na frente dos bois.
—Também penso assim, mas, o que fiz de errado?
—Deu um livro de presente para mim antes que eu ganhasse ou comprasse uma estante. Afinal, onde irei colocar o livro? Se não pode ser um bonito enfeite na minha sala, de que adianta um presente assim? Além do mais, livro com o tempo pode trazer traças.
—No seu caso eu tenho certeza. Bem, meu colega, agora quem precisa ir sou eu. Quer devolver o presente?
—Não me levará a mal?
—Colega, claro que não! Você até me ajudou, pois o pior mico é dar o presente certo para o sapo errado.


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 664

Marciano Vasques

NOITE DE LETRAS SAPECAS EM AGOSTO DE 2010

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

AS BOLHAS DE SABÃO

Na copa de cada árvore, estourando nos fios, nos telhados, entrando nos quintais, nas varandas, lá no alto, na roda gigante do parque de diversão, nas janelas dos edifícios, explodindo nas antenas. Namorados interrompendo abraços, amantes abrindo as janelas. A cidade transformou-se numa multicolorida chuva de bolhas de sabão. O homem sério e carrancudo assovia uma canção, um gari recita um poema, num balcão de bar um bêbado chora de saudades. Todos deixam as suas casas, os seus afazeres; nos circos os espetáculos são interrompidos pela invasão de milhares de bolhas de sabão, e os palhaços saem para as avenidas com suas roupas coloridas, e os malabaristas são seguidos por dezenas de crianças; em cada cinema, diante da tela, a profusão de arco-íris. E as pessoas deixam os seus escritórios, e estão nas calçadas da Avenida Paulista. Nunca se viu tantos celulares fotografando... O guarda de trânsito suspende o olhar, encantado com a visão. "De onde está vindo isso?"— pergunta um pipoqueiro. E como já é feriado, em todos os rostos brotam sorrisos jamais vistos. Um homem acaricia pela primeira vez o seu cão. E as bolhas de sabão lavam os sentimentos atrofiados e os corações desocupados pela falta de namoro, e um pai diz pela primeira vez para a filha adolescente, que sempre sentiu falta do sorriso dela alegrando a casa. E um pedreiro enquanto prepara a massa, tamborila no cabo da enxada um rock in roll, e um marido elogia pela primeira vez o vestido da esposa, e um outro convida a mulher para tomar um sorvete e caminharem pela cidade. E um vizinho pela primeira vez presta atenção num samba. E lá, numa praça, sentadinha num banco, sossegada, na sua, a menina, a menininha, continua com seu canudinho, soprando as bolhas de sabão.

O SEGREDO DA SAPABELA

—Rospo!
—Olá, Sapabela! Faz tempo não ligava!
—Tenho um segredo pra contar.
—Um segredo?
—Sim. Como é segredo, só o amigo pode compartilhar.
—Interessante.
—Vou até falar baixo. É um segredo que preciso preservar.
—Deve ser um tanto formidável. Diga logo, prometo que saberei honrar a amizade.
—Eu sou feliz, Rospo!
—Jura, Sapabela?
—Jurar?
—É um modo de falar. Para nós, a palavra do amigo basta.
—É verdade. Mas, sim, sou feliz.
—E por qual motivo isso deve ser segredo?
—É melhor que minhas colegas de trabalho continuem pensando que eu sou infeliz.
—Você demonstra infelicidade?
—Não! Eu até me pego gargalhando. Elas se assustam. Pensam que sou maluca.
—Sapabela, vamos até a praça?
—Sorvete?
—Não. Vamos gargalhar. Soltar as nossas gargalhadas no ar. Enfeitiçar a cidade com elas.
—Rospo, posso contar outro segredo?
—Pode. Eu o guardarei numa lata de biscoitos amanteigados.
—Não pode guardá-lo num sonho de valsa?
—Já está lá. Pode contar.
—Você também é feliz!
—Pois é, agora então, compartilhamos dois segredos.


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 663
Marciano Vasques

terça-feira, 6 de setembro de 2011

A IMAGINAÇÃO DOS NAMORADOS

Sapabela! Que alegria! Que felicidade! Faz tempo não a via com um vestidinho assim florido e repleto de cores. Que lindeza, minha joia!
Fico feliz por causar esse alvoroço em seu coração.
A sua chegada sempre será motivo de alegria em minha alma.
Não apenas por causa do vestidinho, claro.
Naturalmente que não, mas o vestidinho faz parte do universo que você é nesse mundo carente de poesia e festas.
Gosta de festas, não é, Rospo?
Os sapos deveriam festejar mais, tudo deveria ser motivo de festejos, afinal, sempre haverá um momento em que não se poderá mais festejar, só chorar, então, todos os momentos devem ser deveras festejados.
Gostaria de viver num momento só de festas, algo assim como um “Reino Tiquatira”?
Sapabela, na verdade, gosto de viver no mundo, e o mundo é justamente aqui, onde estamos, no único tempo que realmente existe, que é o agora, o tal “instante que passa”. Precisamos enlaçar esse instante: é a primeira atitude para se viver feliz. E o “Reino Tiquatira” é também um reino de lutas, de princesas desamparadas e sapos jovens perdidos nas ruas estreitas...
Rospo, mudando de foco, quero falar de namorados, de namorantes, de coisas boas.
Estou todo aqui, Sapabela.
É possível que um sapo não consiga compreender com exatidão a dimensão do amor que uma sapa sente por ele?
O mesmo se pode dizer da sapa, pois é um hábito dos corações, infelizmente, se deixarem agarrar pelas pequenas bobagens do dia a dia, e perderem de vista o oceano que é o amor que sentem, e então, nesse emaranhado ficam se acusando, e encenando briguinhas e esquecendo do amor que implora para resistir.
Nossa! Acredita que uma sapa é “boazinha” quando vai sempre ao sapo?
—“Boazinha”? Não! A Sapa vai por amor, não por ser boazinha. A sapa, assim como o sapo, os dois, devem sempre correr um para os braços do outro, se conseguirem vencer as bobagens que a imaginação cria.
Imaginação? Mas, a imaginação é uma coisa boa!
Depende do que ela desencadeia, depende para onde ela é direcionada.
Até a imaginação exige esmero?
Claro! A imaginação é a riqueza das crianças, mas entre os namorados pode ser extremamente perigosa e destrutiva...
Vai ter que explicar.
Ora, Sapabela, é simples. Quando um começa a ver no outro coisas que de fato não existem, quando um dos parceiros tira conclusões apressadas, e cria um mundo na imaginação, um mundo no qual o outro “só faz coisas erradas de propósito”, ou por causa de algumas supostas atitudes, “não tem mais o amor no coração”. Namorados são, na maioria dos casos, cabeçudos. Aliás, bota cabeçudo nisso!
O que é um sapo, Rospo?
Um sapo é integridade, Sapabela. Ele é poesia, é erotismo, é desejo, é uma soma de imperfeições que desembocam na personalidade única de cada um; nenhum sapo será jamais igual ao outro, e um coração jamais será globalizado.
Entendo. Então, cuidar da imaginação é importante?
Sim, entre os namorados sim.
Então, só para terminar: a imaginação deve ser rejeitada entre os namorantes?
Jamais, Sapabela! Ele deve ser educada, esmerilhada, lapidada, aperfeiçoada e canalizada, ou seja, é sempre bom imaginar o outro numa varanda enluarada, num aconchego de águas espumosas num entardecer azul...
Não precisa dizer mais nada.

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 662
Marciano Vasques


segunda-feira, 5 de setembro de 2011

ROSPO CONVERSANDO COM....

—Não gosto de ler! —disse o amigo para o Rospo.
—Ler é bom, meu caro. Amplia o vocabulário, fortalece e amplia o poder de reflexão...
—Mas não gosto de refletir, Rospo! Gosto de ser refletido...quando me olho no espelho ou num lago...
—Compreendo! Nem jornal?
—Nada! Leitura é muito chata! O tempo que se perde lendo...
—Leitura vem de leite, leite da alma... Uma abundância de leite, uma leitura.
—Não gosto! Não gosto mesmo, Rospo! Nem de cinema. Detesto ambientes fechados...
—Mas a tela do cinema abre outros mundos...
—Rospo, não quero saber de nada! Quero ficar na minha.
—Tem um blog? Tem facebook?
—Odeio Internet! Rede Social? Quero é uma rede para dormir...
—Bem, tchau! Vou indo...

Rospo segue em frente e o celular toca.

—Sapabela! Olá!
—Por onde andava, Rospo?
—Estava agora há pouco conversando.
—Com quem?
—Com um estacionamento.


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 661

Marciano Vasques

domingo, 4 de setembro de 2011

AMARGURA DEMAIS ENJOA


Bom escolher o grau de amargura para a sua vida e para o seu momento. Isso não se aplica nos casos de tragédias e perdas de pessoas queridas. A morte sempre traz consigo uma dor inevitável. A única certeza da vida é a que mais sofrimento traz.

Porém, nos outros casos a amargura pode ser dimensionada, pode ser planejada, quantificada, medida

ALMAS DO TEMPO




Encharcadas de querosene,
Almas
Afagavam o suor,
E às vezes até se lembravam
De que havia luar.
E até se enluaravam
Para disfarçar o carvão,
Que rabiscava nos corações,
Dores sem tradução,
Gemendo por lampiões.
Uma faísca sequer,
Num sorriso talvez.

E mulheres aprendiam,
Que nos dias claros
Adeuses espreitavam.

Palavras de aço
Estremeciam os amores.

Quem viu a poesia nas coisas que eram?

Numa ferrovia as histórias viajavam
Mais ligeiro que o viver,
Mais ainda
Que pensamento de menino,
Se deixarem.

Vidraças cobiçavam os olhos de um.

Entre tanques e varais
Rostos de cândida,
E olhares turvos
Perdiam-se,
Em dilacerados dizeres
Que nada mais queriam dizer.
Aos ouvidos cansados
Pelo abandono
Dos verbos essenciais.



MARCIANO VASQUES



sexta-feira, 2 de setembro de 2011

ESTILHAÇOS





ESTILHAÇOS

Iras, erros em vidas errantes,
murros na mesa,
palavras geladas cortando mais que facão.
O diapasão, e vozes, o carvoeiro. O arame farpado, e as farpas de poucas palavras.
Navalhas, canalhas, mulheres ralhando, algumas falando aflições,
fiando segredos,
perdas, perdões. Pardais e tudo um dia se vai.
Até a chuva na calha? Amora? Romã? O aroma, a canela? O alecrim? O anis?
A caiação, a janela?
Lá na bica, ninguém viu, só se fala de boca, um homem cansado chorou.
Terá o pranto escorrido nas coisas do dia ou era orvalho?
Lá, onde se dizia, jogavam baralho na frágil fumaça do dia, cada história, menino!
Sempre havia uma mulher de olhar nublado
que perdia as almas que bailavam,
no alvoroço das falas. Uma fulana, comadre.
Não passam de mutilações os descasos.
Lá, onde é longe, e era, meninas brincavam,
E brinco e anel e ninguém presta atenção no tempo, como ele merece.
Seu moço, eu pudesse, só diria
Do verde brilhando na varejeira.
Réstias, assoalhos, sarilhos, cada qual estava tão ocupado,
Que nem se ouviu dizer
Que até o apito da fábrica
Traz em si o brusco desejo da poesia.

Se você jurar que não conta para ninguém!”

Um homem caiu do andaime. Como chovia naquele sábado!
E o menino? Para aonde ele foi?
Já está de carretel a correr ventania. Ligeireza de tempo.
E cá entre nós, ladrilhos, pastilhas,
E uma mulher buscava macela.
Tempo?
Ainda bem que as crianças nem ligam.


MARCIANO VASQUES


O LIVRO E O VIDRO

Rospo foi à vidraçaria. E por acaso levava consigo um livro, de sua autoria,
Durante a encomenda do vidro, justamente quando fornecia as medidas, o dono da vidraçaria surgiu, interrompendo a conversa entre ele e a balconista.
—Rospo, como vai? Que prazer tê-lo como cliente!
—Obrigado, amigo! Quebraram um vidro da minha janela.
—Pois aqui temos o que precisa. Mas, o que traz debaixo do braço? Um livro? Não vá me dizer que é um dos seus.
—Justamente. Lancei recentemente.
—Que maravilha! Ter um escritor no bairro.
—Quanta gentileza!
—Quando vai me dar o meu, Rospo?
—Não entendi.
—Quando receberei de presente o meu livro, Rospo?
—Está dizendo que deverei dar um livro para você? Você quer um livro meu de graça?
—Isso mesmo! Somos amigos, não é?
—Naturalmente que sim.
—Ótimo, e o meu quero autografado.
Então, a balconista entrega o vidro para o Rospo, que se despede.
—Ei, Rospo, não vai pagar?
—Acabou de dizer que somos amigos!
—Pare com isso! Não posso dar o vidro para você.
—Mas quer um livro, gratuitamente.


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 660
Marciano Vasques


quinta-feira, 1 de setembro de 2011

RETRATOS AUSENTES




RETRATOS AUSENTES


Cantadas,
Homens magoados,
Outros feridos,
Prantos nas docas,
Nos diques
Nos becos, nos bares...
Sofrendo por suas mulheres.
Gritando paixões, num charco
De tantos perdões.
Mastigando suas dores.
Histórias perdidas
Cerveja e bilhar.
Balcões,
Oficinas
Mormaços,
Neblinas.

Fiapos de sonhos
Em meninas...

Um rosto de porcelana
Não diz nada além...

Homens, mulheres,
Decepando o dorso da serra,
Erguendo a vida
Na fuligem,
Na friagem das suas crianças.

Uma, de amarelinha,
Outra come terra.

Quermesses, a graxa, o copo de vinho,
Arruaça, a fumaça enlaçando vidas
Nas margens das várzeas.
As lavadeiras que esperam seus homens
E num desbotado anil
Torcem cores e fazem varais.
E sonham vagares e tingem os cabelos
Cerzindo páginas e dores
E almas
Amedrontadas e rasgadas
Na ausência
Do afeto.


MARCIANO VASQUES


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