domingo, 31 de outubro de 2010

HOJE É DIA DE LEMBRAR

No Brasil, hoje é dia de lembrar de Thiago de Melo e do seu "Os Estatutos do Homem".

Whiter Shade of Pale - Annie Lennox

AQUELA MÚSICA

TEMA DE LARA

A SELVA MODERNA

- Sapabela, vivemos numa cidade de calçadas e de concreto. Muito asfalto, muitos prédios e viadutos...
- Vivemos.
- Mas, já parou para pensar que aqui, justamente aqui, já foi uma floresta?
- Em todo o planeta foi assim, florestas e desertos...
- Quantos verdes foram deserdados, quantas matas desmatadas e quantas florestas defloradas, para que pudéssemos viver em nossas cidades...
 - Sem contar com os banhos de sangue...
- Sangue?
- Caudalosos rios vermelhos...
- Do que fala?
- Dos animais, búfalos e outros tantos que foram mortos aos milhões numa carnificina que só o sapo poderia realizar...
- Verdade, o sapo não consegue dividir o espaço... 
- Então hoje onde temos uma cidade erguida já foi uma floresta...
- Sim, e para quem reinava oferecemos ridículos zoológicos...
- Pois é, Rospo.
- Não entendi esse "Pois é"...
- Hoje temos cidades de concreto em vez de florestas...  Mas as feras atuais são as mais perigosas...

HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 324

Marciano Vasques

SAPINHOS DESAMPARADOS

- A criança é um doce problema. É extraordinária a sua força.
- Por que diz isso, Rospo?
- Porque sabemos que no mundo tem muitos sapinhos precisando de ajuda, mas quando conhecemos um imediatamente criamos laços de afeto com ele...
- Sim?
- E queremos nos envolver, nos tornamos responsável pela sua alegria, pela sua felicidade, pela sua vida. Queremos nos dedicar integralmente àquela criança, o sapinho toma conta da nossa vida e muda os nossos rumos. Não somos mais independentes, não podemos nos voltar somente para nós mesmos quando estamos diante de um sapinho.
- Chupa-alma.
- O que quis dizer, Sapabela?
- Era assim que os indígenas do brejo chamavam as crianças. Tal a força com que os curumins invadiam as vidas dos adultos e exigiam, com a sua presença, toda atenção e todo o carinho...
- Sapabela, digo algo: uma fórmula contra o envelhecimento é justamente ter sempre em sua vida uma criança...
- Verdade, elas representam o renascer da vida, a renovação. Criança é tudo de bom...
- Tem algo que me aflige.
- Diga, Rospo.
- Uma sapona estava com seus dois filhos num parque eletrônico num shopping e com a filha da empregada.
- E daí?
- Ela pagava os brinquedos para os seus dois sapinhos e a filha da empregada doméstica  ficava só olhando. Ela não teve a capacidade de pagar um só brinquedo eletrônico para a pobre sapinha... que além de ser a filha da empregada tinha a pele de cor diferente...
- Essa Sapona é uma imbecil, uma pobre infeliz...
- Vontade tive de pegar pela mão aquela sapinha rejeitada e levá-la comigo...
- Mas não podemos fazer isso, Rospo...
- Por isso tanto nos afligimos... Como um dia pode ser bom de pão e manteiga e música se no caminho encontramos uma criança desamparada, mesmo sabendo que no mundo há milhões desses seres?
- É que "o que os olhos não veem, o coração suporta mais".

HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 -323

Marciano Vasques

A CAMPANHA ELEITORAL DO SAPO

Na transparente manhã Sapabela encontra o amigo Rospo à beira lago lendo um livro... E passa direto para não interromper a leitura.
À tarde, o encontra num banco da Praça Azul escrevendo um poema.
- Rospo, faz tempo não o vejo criando um poema...
- Pois é, Sapabela, mas agora é a hora.
À noite, vê o velho companheiro entrando no cinema. No outro dia, recebe logo ao alvorecer um telefonema:
- Sapa, vamos nos encontrar para conversar?
- Conversa dominical? Adoro, já sairei num instante. Vou apenas me trocar.
- Então esquece o "num instante".
- Engraçadinho. Espere-me na praça.
Logo mais.
- Rospo, reparei que anda retomando hábitos antigos. Anda lendo, produzindo poema, indo ao cinema, ao teatro... Ouvindo música boa, e agora conversando...
- Estou em campanha eleitoral, Sapabela.
- Como é isso, Rospo?
- Não apenas para cargo político, mas também pessoalmente, em nível pessoal, deveríamos ter campanhas eleitorais, No caso, quero me eleger, eleger a mim mesmo, como um sapo joia, um sapo que merece o meu crédito, quero continuar gostando de mim, e acreditando, pois afinal é comigo que eu seguirei. Então, durante a semana fiz tudo para me convencer de que hoje, domingo, votaria em mim como o sapo mais ético, o melhor, o mais correto em minha própria vida.
- Sabe, Rospo, quem o considera maluco mal sabe da sua coerência. Serve o meu voto também?

HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 322

Marciano Vasques

sábado, 30 de outubro de 2010

Dove non so

PIANÍSSIMO

LEMBRANÇAS

MAJESTADE O SABIÁ

A ROTINIANA

- Sapabela, cuidado com a rotiniana...
- Rotiniana? O que vem a ser isso?
- Ela é implacável, é terrível, se pega em você, gruda, cola, fica agarrada e não larga mais. Ela se acostuma e vicia você. Quando se dá conta, não consegue  mais se livrar dela, quer fugir, mas aprendeu a não se movimentar. Afaste-se dela. A rotiniana é fogo!
- Do que está falando? Que criatura é essa?
- Sapabela, creio que inventei uma nova palavra...
- Mais uma?
- A Rotiniana.
- Mas, o que é afinal essa tal rotiniana?
- É a rotina cotidiana...
- Ora, Rospo, melhor dizer: rotina cotidiana, afinal, toda rotina só pode ser cotidiana.  Você por acaso já sabe disso. Então, para que inventar uma palavra nova?
-  As palavras novas são inventadas porque os sapos estão vivos...
- Natural, não é, Rospo?
- Estar vivo é inventar palavras...
- Nem todos fazem isso, mas estão vivos também...
- Quem não inventa, usa.
- Toda invenção é um  sinal da energia vital chamada vida, e a mente de um sapo flutua feito luzes pirilâmpicas em torno de cada nova invenção...
- Isso ocorre com as palavras, também?
- Claro, cada palavra é tão importante enquanto invenção, como qualquer eletrônico, qualquer outra invenção...
- Sabe, Rospo, gosto de conversar com você porque você foge da rotiniana como vampiro da cruz...
- Vade Retro!
Os dois riem muito.
- Jamais me diverti tanto. O riso é terapêutico... Rir nas situações mais opressoras ajuda a viver?
- Rir é bom, quando eu rio as águas rolam...
- Rospo, com você nenhuma rotiniana tem chance...

HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 321

Marciano Vasques

CAPA DO LIVRO "EU ME LEMBRO..."

Livro de Prosa e Poesia dos Professores Autores, lançado no Valeu Professor!

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

OLHOS SEM FOME

- Sapabela, queria falar um pouco sobre os "olhos sem fome"...
- "Olhos sem fome?". Pensei que todos os olhos fossem famintos, como os olhos de um menino, que caçam a novidade do mundo nas coisas mais simples.
- Não, Sapabela. Com o passar do tempo, se olhos passam a viver na rotina do cotidiano... Perdem a fome.
- Fale, então, Rospo.
- Olhos famintos são insaciáveis. São como os olhos do menino, bem disse você, e os olhos do poeta, mas...
- Quando os olhos ficam desbotados? Quando perdem a fome de novidades?
- No casamento, isso costuma ocorrer...
- Concordo, Rospo. Tanto a sapa quanto o sapo descuidam de coisas básicas, simples, e os olhos do parceiro ou da parceira ficam "acostumados" com a rotina, com a escassez de novidades... Como manter a chama, Rospo? E como é essa história de rotina do cotidiano e essas coisas básicas e simples? ...
- Não sou um manual, apenas penso que a atenção, o cuidado, o zelo, devem crescer e se fortalecer a cada dia...
- Isso não é fácil...
- Tem um requisito, um pressuposto...
- Qual é?
- O querer.
- A privacidade, a intimidade, deve prevalecer sempre, e ser preservada a todo custo, não é?
- É, esse é o mistério, esse é o segredo. Parece difícil, mas é fácil, quando se quer...
- Entre um casal deve haver privacidade?
- Claro, Sapabela. Privacidade absoluta, cada vez mais cultivada... Isso é essencial, é a chave para um companheirismo por longos e longos anos... e atenção, privacidade nada tem a ver com moralismo...
- Entendo, um casal deve diariamente se guardar para os momentos que só pertencem a ele. Aqueles momentos em que os olhos têm fome do outro, em que os olhos estejam famintos do outro...
- Tanto a Sapa quanto o Sapo devem ter a consciência de que o desejo só morre se deixar de ser cultivado e regado diariamente...
- Rospo, é meio difícil de assimilar isso hoje, pois afinal, nem publicamente a privacidade é preservada...
- É verdade, Sapabela, numa época em que as pessoas falam alto ao celular e as sapas se mostram cada vez mais nuas em público, é no privativo, na vida a dois, que a intimidade, a privacidade, deverá ser o grande toque para uma vida de amor e desejo...



HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 320

Marciano Vasques

EXPOSIÇÃO PROFESSOR ARTISTA

Uma das obras expostas no Hall de entrada do Edifício Matarazzo, Viaduto do Chá, 15 - Centro - São Paulo - Brasil, até o dia 5 de Novembro de 2010.
A exposição reúne desenho, fotografia, escultura e pintura, e revela o talento dos professores artistas de Sampa. O evento é promovido pela Prefeitura de São Paulo, e faz parte da programação do Valeu Professor!
Para ver esta fotografia e outras obras de arte, passe por lá.    E com certeza, dirá: VALEU!

TOQUES DE COR

ARTE EM PORTUGAL

Exposição: 

Toques de Cor (Albufeira)

 

“Toques de Cor” é o nome da mostra coletiva de pintura que Lídia de Almeida e os seus alunos promovem em Albufeira.
A artista, proprietária de um atelier de ensino, expõe regularmente as criações dos seus educandos, incentivando o talento,  e o desenvolvimento artístico de cada um deles.

 A exposição poderá ser visitada de 6 a 27 de Novembro 2010, na Biblioteca Municipal Lídia Jorge.

Veja AQUI

PALAVRA FIANDEIRA 45


NOVA PALAVRA FIANDEIRA NO AR

Edição com Célia Antunes, 
diretamente de Portugal.

Leia AQUI

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

ASSOMBRAÇÃO

Rospo encontra um desconhecido.
- Não acredito em nada, Rospo, muito menos em sonhos...
- Não acredita nos sonhos?
- Não. Hoje sou um descrente de tudo.
- Não encontra motivos para lutar por um ideal?
- Não, Rospo. Sonhos, ideais, não passam de quimeras, utopias, moinhos de vento. Não perco tempo com essas bobagens!
- O que se refere aos sonhos são bobagens? Pelo menos, acredita nos amigos?
- Desculpe-me, mas todos são falsos. Não acredito em ninguém. Amizade já era.
- E a vida?
- Não tem graça, Rospo. É um tédio viver. Vivo porque nasci.

Mais tarde, Rospo encontra a Sapabela.
- Oi, Sapa! Acredita em assombração?
- Não..
- Pois hoje cedo encontrei um fantasma.


HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 319

Marciano Vasques

CONVERSANDO SOBRE MÁGOAS

- O que acontece quando estamos magoados, Rospo? Como devemos agir com a mágoa?
- Depende.
- Depende do que?
- Se for um oceano Atlântico de mágoa... fica difícil esquecer... Se for uma valeta, um fiapo de riacho, já esqueceu.
- Para mim mágoa é mágoa, ou seja, má água.
- Entendo, mas, seja qual for a extensão da mágoa, mesmo que seja tamanho único, o melhor é esquecer...
- Esquecer é benéfico?
- Sim, o coração agradece.
- Esquecer é perdoar?
- Não. Esquecer é apenas um cuidado com o coração. Mas perdoar...
- Sim?
- Perdoar é ampliar a grandeza interior, se livrar de uma pedra pesada de carregar e tocar a vida em frente.

HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 318

Marciano Vasques

A SAPINHA E AS PROMESSAS


- Tia, Sapabela, conta uma história pequena?
- Por que  pequena?
- Porque depois eu aumento ela.
- Entendi, Sapabelinha, você amplia a historinha com a sua imaginação.
- Isso, tia, isso! Conta, vai, conta!
- Está bem, vou pôr na personagem, que é uma sapinha igual a você, o nome de Fiama.
- A fadinha?
- Isso, gostou do nome?
- Sim, e a sapinha também é como eu?
- De que forma, Sapabelinha?
- Esperta.
- Isso com certeza é. Todas as sapinhas são espertas...
- Tem adultos que atrapalham o desenvolvimento de uma sapinha...
- Às vezes isso acontece, mas tem sapinha que teve muita sorte e cresceu amparada por adultos generosos...
- Tia! Não enrola! Começa logo a história!
- Toda sapinha é também impaciente. Mas foi você que começou a falar. É bom lembrar que sapinhas geralmente são tagarelas. Bem, a história curta é assim:

" - Se você prometer algo para uma criança, cumpra. Seja um pirulito, um passeio, um gibi... Não importa o tamanho da promessa, mas cumpra! – dizia imperativamente a menina Fiama ao surpreso pai.
- Muito bem, queridinha, mas, que papo é esse? Eu teria esquecido algo?
- Não pai, é que tem Sapo que promete coisas para sapinhos e não cumpre.
- Às vezes não é possível. 
- Então não promete!
- Fiama, não estou entendendo porque você tocou nesse assunto, eu não prometi nem sequer uma bala...
- É que criança cresce, pai, e não pode se acostumar na infância com promessas não cumpridas.
- Eu sei, isso não é bom, mas, e daí?
- E daí que, quando adulta, pode um dia querer se candidatar a um cargo político e...
- Sei, sei, entendi...
- E então, Sapabelinha, gostou?
- Razoável, tia, razoável, mas já estou inventando a continuação...
- Posso saber a primeira ideia?
- Esse pai mentia muito de tanto que prometia e essa sapinha cresce e um dia se torna candidata à presidência do brejo...
- Sei, sei...
 

**** 


HISTÓRIAS DO ROSPO 2010  - 317
Marciano Vasques

A CIGARRA

O SAPO E O ANALISTA




Rospo encontra as amigas Colibrã e Sapabela:
- Olá, como vão, Sapinhas?
- Bem, e você, Rospo?
- Estou bem, porém sinto que me falta algo.
- Não tem ideia do que seja, Rospo?
- Não, mas estou sempre com a sensação de que está me faltando algo. Nunca estou completamente satisfeito.
- Isso não é próprio dos humanos?
- Sim, mas eu sou um sapo.
- É verdade, sapos em nada se parecem com os humanos. Mas, por que não vai a um analista?
- Boa idéia!
E assim, lá está o Rospo com o analista.
- E então, doutor?
- Você está bem, não tem nada, nenhum problema...
- Realmente, sinto que não me falta nada, acho que estou curado, vou-me embora, obrigado doutor, adeus...
- Espere, falta algo sim...
- O que?
- Pagar a conta.
- Hum, isto está me cheirando a humano, demasiado humano...
- Ora, Sapo, anfíbios também pagam conta...
- Eu sei, doutor, estou apenas brincando, mas, é incrível. Só de ter vindo aqui estou me sentindo melhor. Era isso o que me faltava...
- Verdade, as palavras de um  doutor são infalíveis.
- "Isso está estranho..."
- Quando tiver algum problema, volte logo. Aqui está a conta...
- Doutor, estou com um problema...
- Qual é, Sapo?
- Aqui não é restaurante...
- Claro que não...
- Pois é, eu não poderei lavar os pratos...
- Senhor, está me dizendo que veio ao analista sem dinheiro?
- Lembrei!
- Lembrou o que?
- O que me faltava.

**** 

HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 316

Marciano Vasques

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

CONVERSANDO NO JARDIM

AS SAPINHAS E AS CORES

Num tarde outubral, observadas pela maravilhosa criatura do jardim, Sapabela e Colibrã conversam.
-Todas as cores são bonitas e importantes.
- É verdade, veja como se misturam no jardim...
-Toda flor é bela, não importa a sua cor externa.
- Vermelho, rosa, amarelo, azul, preto, lilás..., eu gosto de todas as cores.
- Veja o leão, ele tem a sua cor, que é diferente das cores do tucano, ou do cisne, no entanto, cada animal tem a sua beleza própria; eu não imagino o leão verde, nem o tucano apenas dourado...
- É mesmo, os sapos humanos são como os animais ou as flores. A cor de cada flor apenas realça a sua beleza. Uma flor será sempre uma flor, independente da sua cor externa.
- A cor da pele de um sapo humano pode ser amarela, preta, branca, vermelha...
- E não altera em nada a essência e a beleza do sapo humano, aliás, a cor da pele realça a beleza própria de cada um. Não teria graça nenhuma se todas os sapos fossem de uma única cor. Já imaginou se as flores fossem todas vermelhas? Que tédio visual seria...
Tão envolvidas estão com a conversa que não reparam, entre as flores, a criatura encantada assumindo a sua forma. 


HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 315

Marciano Vasques

SHOW DE LANÇAMENTO DO CD RAÍZES

O SAPO E O OUTRO

- Sapabela, o primeiro passo para a evolução de um sapo é descobrir que o outro existe...
- Rospo, um sapinho, depois de algumas idades, logo descobre isso e deixa de ser egocêntrico...
- Engano seu, Sapabela.
- É o primeiro do dia, Rospo...
- Claro, é a primeira conversa...
- Engraçadinho...
- Muitos sapos passam a vida inteira sem descobrir o outro, sem se dar conta de que o outro existe...
- É mesmo, Rospo?
- É. Fica sempre a falar como se estivesse falando apenas para si, como se o outro não tivesse pensamento... Quer toda atenção  que ele mesmo dá e não se importa com as opiniões do outro, que na maioria das vezes nem é ouvido...
- Conheço muitos sapos assim...
- Não consegue ouvir o outro porque só fala para satisfazer o próprio ego.... Só o eco da sua voz interessa...
- Rospo, isso me  faz pensar...
- Sim?
- Como é difícil descobrir o outro!
- Tem sapo que viveu uma vida toda sem ter notado o outro...
- Sei, agiu assim: "Eu sou eu. O outro também sou eu".

HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 314

Marciano Vasques

SARAU


PARÂMETROS ÉTICOS

Quase eleição no brejo e Rospo e Sapabela aproveitam o "clima" para uma boa conversa.
- O parâmetro ético de quem critica um candidato está no próprio sapo que tece a crítica.
- Nossa, Rospo! Que loucura! Mastigue isso para mim, por favor.
- Quando alguém faz críticas sobre um político, precisamos saber como é o comportamento ético do autor da crítica. Isso vem em primeiro lugar. Só assim tem valor autêntico a crítica, independente de o autor da crítica estar certo. Mas para merecer ouvidos tem que ser exemplar.
- Estou começando a entender.

- Um sapo que reclama da corrupção do governo tem que ser um exemplo ético.
- Concordo, mas... Isso é exigir demais.
- Toda exigência para melhorar o mundo será sempre pouca, Sapabela...
- Difícil encontrar alguém tão completo assim...
- Um comerciante que cobra acima do preço não merece ouvidos, mesmo que esteja certo ao dizer, por exemplo, que o governo explora o povo do brejo.
- Rospo, se todos soubessem como é bom conversar...

HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 313

Marciano Vasques

ROSPO E OS SABERES

- Sapabela, chega um momento na vida em que a sua mente não consegue mais ser segregada, fragmentada, dividida, como se estivesse nas grades curriculares da escola...
- Muita coisa de uma só vez, Rospo. Explique pausadamente.
- Seu pensamento não se prende mais em saberes retalhados, separados. Geografia, História... Tudo é uma ciência única na sua mente. Você não consegue mais funcionar assim num conhecimento compactado e com "ciências isoladas", sem conexões... O mundo é um só.
- Belo, Rospo, belo...
- A "globalização" tem que estar dentro de você... Na medida em que compreendo isso, a forma como ainda se ensina na escola, torna-se por demais ultrapassada.
- Rospo, desculpe o trocadilho, mas você "fugiu da escola".

HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 312

Marciano Vasques

terça-feira, 26 de outubro de 2010

BAÚ DO VELOSO

CASA AZUL DA LITERATURA 
orgulhosamente
apresenta:
LADY GARÇA

Quer ver mais? AQUI, no BAÚ DO VELOSO

CENAS DA BIENAL DO LIVRO

PIETÀ

Obra de Marília Chartune
Artista Plástica do Sul do Brasil

APLAUSO


O SAPO E A FORÇA DOS FORTES

- Sapabela, só os fortes conquistam o mundo.
- Explique o que é "conquistar o mundo"...
- É ter o direito de compreender a beleza, a imensidão e a intensidade...
- Para os fracos, nada?
- O mundo é para os fortes. Concorda?
- Sim, e Nietzsche também...
- Tem um detalhe, Sapa...
- Aprecio os detalhes...
- Preciso falar sobre a força...
- Pois não.
- Não se trata da força bruta... Essa é passageira... A força pela força pode oprimir... Mas sempre é vencida...
- A qual força se refere então?
- A força dos justos, dos ternos, a força do sorriso, da poesia, da amizade. A força suave e firme como a rocha... A força do diálogo, do companheirismo...
- Realmente, contra essa força o mundo não resiste...
Sapabela sorriu um sorriso manso.
 - Desde que a nossa amizade nasceu, eu conheço essa força...
- Que bom, Rospo! Pois eu tenho um mundo para conquistar...

HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 311

Marciano Vasques

O SAPO E A SEMIÓTICA

- Hoje estou uma sapa perguntadeira.
- Sapa que pergunta unta a alma para novos conhecimentos...
- Rospo, o que é semiótica?
- É o estudo dos signos, dos sinais, daquilo que está às vezes de forma subliminar numa imagem ou numa palavra.
- Tem semiótica na palavra?
- A palavra, o verbo, o signo linguístico, o dizer, está carregado de semiótica... Eu tenho a minha semiótica preferida...
- Qual é ela?
- A semiótica do corpo...
- Sim, claro, o corpo tem uma linguagem...
- A semiótica é uma ótica que precisa ser notada, percebida, desvendada, é uma ótica que não se revela por inteiro, por isso é semi....
- Compreendi... Mas, e a semiótica do corpo?
- Os gestos, um piscar, um sorriso, um músculo que se distende, uma expressão facial, um certo amargo no rosto, as rugas, as fibras, os sulcos, uma nuvem num olhar, um disfarce, um suor, enfim, as formas do corpo se manifestar semioticamente estão no rosto...
- Rospo, passarei a observar isso...
- Mesmo com todas as dificuldades atuais, vale a pena.
- Que dificuldades?
- Os sapos estão se falando sem se olharem... Já não se olha mais no rosto de alguém, quase não se olha mais nos olhos do outro...
- É, estão falando de lado...
- A televisão ajudou nesse novo hábito, esse estilo....
- Como assim?
- Sapos ficam horas numa sala lado a lado olhando para a tela, e como miram sem desviar o olhar, o que acontece é que muitas vezes acabam se comunicando assim, falando de lado, e isso com o tempo acabou grudando nos sapos, tornou-se um novo modo de conversar... Não é preciso mais olhar nos olhos do outro. Fala-se como se estivesse sempre diante de uma tela de TV.
- Impressionante!... A semiótica do corpo atualmente exige um esforço maior para ser observada...

HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 311

Marciano Vasques

PALAVRAS AO VENTO

Numa ventania Rospo e Sapabela procuram um abrigo. Entram numa lanchonete.
- Rospo, aproveitando a ventania, gostaria de falar sobre as palavras.
- Pois tenha a palavra.
- É verdade que as palavras o vento leva?
- Dizem, pois, que nenhuma ao vento resiste...
- O verbo ao vento não resiste?
- Num vendaval talvez...
- E uma palavra pesada?
- Uma pesada talvez não se desmanche no ar.
- Palavras que ferem e não cicatrizam...
- Palavras que machucam...
- Que rasgam a alma..
- Mas não apenas as palavras pesadas, eu creio...
- Sim, também as que em sua leveza transbordam o ser de alegria...
- Como as que brotam na voz do ser amado...
- Que não se deixou pescar pelo cotidiano...
- O monstro da rotina...
- Rospo, então o vento não leva todas as palavras...
- Não, Sapabela, algumas ficam cravadas para sempre na alma, lá no fundo...
- Palavras tristes, pesadas, alegres e leves?
- As que tocam o ser... Essas são carregadas para sempre, pois tornam-se parte integrante...
- Será que a ventania já passou?
- Por que? Está ansiosa?
- Queria dizer umas palavras para você...
- Então, diga.
- Você é alguém muito precioso em minha vida... Chegou, trouxe a amizade verdadeira... Por isso se tornou inesquecível...
- Sapabela, pode vir um ciclone, uma ventania, um temporal... Que essas eu levo comigo para sempre.

HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 310

Marciano Vasques

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

LITERATURA DE CORDEL

VASQUES COM LEITORES NOTÁVEIS NA BIENAL

AS MENINAS DAS CANTIGAS

CONGRESSO DE EDITORES

8º CONGRESSO IBEROAMERICANO DE EDITORES - 27, 28 e 29 DE OUTUBRO DE 2010 - Santiago - CHILE

COM SELMO VASCONCELLOS

Marciano Vasques com o escritor Selmo Vasconcellos

LAURA DEVETACH

 A escritora Argentina Laura Devetach é a vencedora do importante prêmio da Ibero-América em reconhecimento de escritores com uma  carreira literária no âmbito do livro infantil e juvenil A Fundação SM anunciou, no México, o  resultado do VI Prêmio Ibero-Americano SM de  Literatura Infantil e Juvenil. A ganhadora foi a argentina Laura  Devetach.  

LAURA DEVETACH

MEU CORAÇÃO NO YOUTUBE

domingo, 24 de outubro de 2010

EDIÇÃO DE ANIVERSÁRIO DE PALAVRA FIANDEIRA

No ar a Edição de Aniversário de PALAVRA FIANDEIRA
Leia AQUI

FILHA DE ANTONIO MARCOS

QUASE FUI LHE PROCURAR

BABY

Gigliola Cinquetti - Alle porte del sole

SARAU

Sarau de Poesia numa escola pública na Zona Leste de São Paulo - Brasil

OS VISITANTES DA CLAREIRA


Uma nova reunião na clareira mágica é sempre um espetacular acontecimento. Desta vez, curiosos visitantes ilustres são esperados.
- Silêncio que eles estão chegando!- pede a Sapabela.
Primeiro chega uma velhinha que veio da Itália. O Rospo gosta.
- Quem é a senhora?
- Eu sou Befana.
- Para que o sino e a bengala?
- O sino é para anunciar a minha chegada, e a bengala, que é uma vara, é para assustar as crianças desobedientes.
- Ela é a mamãe Noel?- pergunta a fadinha Fiama.
- É mais ou menos isso, responde a Frosa ( na clareira mágica todos os seres falam entre si) .
A seguir chega o São Nicolau vindo da Holanda, com seu cavalo branco e seu livro vermelho, na qual estão anotadas as coisas boas e as ruins que as crianças fizeram durante o ano.
- Estou cansado e o meu cavalo precisa de água, feno e cenoura.- fala o bom velhinho.
- Sabe, Fiama, o Natal está chegando e esse dois são na verdade o Papai Noel - diz a Sapabela.
-Tão certo quanto eu sou uma fada, um ser que, como o Papai Noel, tem o dom de existir e não existir ao mesmo tempo. 
 *

- Rospo! Desperte! Você adormeceu sob a árvore e está sonhando...
- Sapabela, não devia ter me acordado.
- Por que, Rospo?
- Eu estava na clareira mágica novamente.



HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 309

Marciano Vasques



OS AMIGOS DO SAPO


Estava o sapo Rospo organizando uma festa quando chegou a Colibrã:
-O que está fazendo, Rospo?
-Estou distribuindo os convites, Colibrã.
E assim, no dia da festa:
-Que sucesso, Rospo. Parabéns! Você é um sapo muito querido,vieram todos os amigos para a sua festa.
Tempos depois a Colibrã encontra o sapo triste e abatido.
-O que foi, meu querido? O que aconteceu?
-Estou atravessando um momento difícil em minha vida, vivendo um drama muito grande.
-O problema é tão grande assim?
-É muito grave.
-Que providência você já tomou?
-Enviei os convites para os amigos.
-Convites?
-Eles estão convidados a participarem da minha dor. Estou esperando por eles.
-Sei, sei, compreendo... Quanto tempo pretende esperar?

HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 308
Marciano Vasques

FIAMA, A FADINHA

Quando a Sapabela era apenas uma sapinha aconteceu algo que ela jamais ficou sabendo. Estava numa tarde com a amiguinha Colibrã quando passou a ser observada pela Fiama, a fadinha dos Sapinhos desamparados.

Fiama, a fadinha, procurava alguém para fazer uma boa ação, mas sua varinha de condão só funcionava diante de quem tivesse a alma e o coração puros.Talvez Fiama fosse afinal a criatura do jardim...
Então encontra a Sapabela conversando com a Colibrã.
-Estou feliz, Colibrã...
-Por que, Bela?
-Porque você fez amizade com a sapinha nova da rua. O nome dela é Sapasamara...
-Ela é muito jóia, e com ela aumentei a minha coleção...
-Coleção?
-Sim, coleção de amigos...
-Essa é de fato uma bela coleção.
A fadinha Fiama, só ali, escutando, e ao ouvir a conversa fica satisfeita e resolve esperar o primeiro pedido de uma das sapinhas para usar os poderes da sua varinha de condão.
-Estou feliz, Colibrã, pois não me falta nada.Tenho um grande tesouro que é a minha coleção de amigos.Gostaria muito de dividir a minha alegria com os outros.
 
-É, parece que ainda não vou usar a minha varinha de condão, pois elas não precisam de nada, mas estou feliz .É gratificante ser fada num mundo de criaturas tão especiais... 

E Sapabela cresceu sem jamais ter visto a fada Fiama, que naquela tarde a espreitava.

HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 307


Marciano Vasques

A CRIATURA AZULADA


- Sente-se aqui, que irei contar uma história de uma sapinha que tem o seu nome.

- Então deve ser uma sapinha muito joia. Toda Beatriz é assim...
 
"Beatriz é uma sapinha que tem um girassol nos cabelos e está sempre com os olhos ensolarados.
Ela adora olhar para o espetáculo da vida: as cores do arco-íris, as flores,uma cachoeira,um sorriso, as nuvens.
Outro dia convidou as amiguinhas para um passeio mágico: foram à floresta da criatura azulada.
Ao chegar ao local, as três amiguinhas: ela,  A pequena Colibrã e Colar de Carolina, ficaram esperando até que a criatura azulada, que não é um duende nem um etezinho, aparecesse.
E ela apareceu mesmo por alguns segundos!
As amiguinhas, encantadas, voltaram para casa e contaram  aos pais, mas nenhum adulto acredita na existência dessa criatura, que só aparece para quem tem o coração puro e os olhos voltados para o espetáculo da vida.
Para um adulto ver a criatura azulada, ele tem que ter o olhar da criança e acreditar na existência de um lugar mágico.
Esse lugar existe e está bem protegido dentro da imaginação de três sapinhas, e de todas as sapinhas que acreditarem".
 
- Gostou?
- Gostei, tia Sapabela. Vou buscar um suco para nós... E então iremos falar da história.
 Pouco depois, a pequena Sapinha Beatriz retorna. Ao entrar no quarto.
- Tia Sapabela! Onde está você? 
Olha para a janela e repara numa luz azulada que aos poucos se dissipa...
- Quer brincar de esconde-esconde, tia?
Então, a campainha toca. A pequena corre para atender.
- Tia?
- Demorei um pouco, não é? Esse trânsito está cada vez pior. Vamos entrando que irei preparar um lanche e depois contarei uma história.
- Outra?
- Faz tempo que não conto.
- Nossa!


HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 306

Marciano Vasques

COM DENISE E FERNANDA

Na Bienal do Livro, em Agosto, com Denise e Fernanda,
que vieram de Santos para o lançamento de "Letras Sapecas". 
Um beijo para cada uma.

sábado, 23 de outubro de 2010

NA ERA DAS 140 LETRAS

Passeando numa tarde de sábado com seu velho amigo, Sapabela, como sempre adora fazer, começa uma conversa das boas.
- Rospo, ontem, quando foi me visitar e me encontrou no computador...
- Sim?
- Comentou sobre a minha aparente dificuldade para falar sobre o amor e o sexo...
- Sei, o tal labirinto mental...
- Labirinto em tese.
- É mesmo?
- Talvez seja uma delicadeza intelectual...
- Delicadeza intelectual?
- É, talvez...
- Pode ser. A ideia de labirinto me surgiu por ter percebido que você estava dando muitas voltas...
- A abordagem exigia isso, não é, Rospo?
- Concordei com você sobre a questão da hipocrisia da sociedade, mas precisa ser mais objetiva para se expor, pois a palavra está sofrendo transformações...
- Compreendo, estamos entrando na era das 140 letras. O pensamento terá que ser cada vez mais ligeiro e a síntese deverá se impor dentro e fora do mundo virtual...  Obrigada por me lembrar. Tentarei dar menos voltas, mesmo quando o assunto for tão delicado... Mas, labirinto? Não creio ter necessidade de nenhum labirinto para me expressar...
- Disso eu tenho certeza, Sapabela, sua consciência não precisa esconder nenhuma criatura preocupante, nenhuma espécie de Minotauro...

HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 305

Marciano Vasques

LABIRINTOS MENTAIS

Sapabela ao comput quando chega o amigo:
- Rospo, na WEB tem uma ferramenta chamada " Limpar Histórico" ...
- Despreze-a.
- Por que?
- Ora, Sapabela, se precisa limpar histórico... é porque andou navegando errado para o padrão da sua consciência...
- Minha consciência é dinâmica...
- Mas conserva alguns princípios norteadores...
- Com certeza, entretanto, gosto de ver o que acontece...
- Mas se precisa ocultar isso...
- A vida não é só revelações... Coisas ocultas às vezes são fascinantes... Aliás,  devemos sempre partir da necessidade...
- Ou do capricho...
- Entendo o que diz... Mas é interessante como o mundo parece dividido...
De um lado, os que são profundamente românticos, e isso é extraordinário... Porém...
- "Agora danou-se... Lá vem o 'Porém' da Sapa..."
- Do outro lado os que pensam na vida de forma menos romântica... Porém, também interessante...
- Sapabela, não sei ainda aonde está querendo chegar...
- Estou dizendo que a hipocrisia da sociedade é medonha...
- Concordo de venda nos olhos, mas é melhor explicar...
- Ora, muitos românticos, que transformam a sua sapa num sonho, num ideal, numa flor...
- Isso é bonito...
- Mas por outro lado, condenam a Sapa Mãe Solteira... Por exemplo...
- Não precisa dar outros exemplos, já entendi... Às vezes um Sapo extremamente romântico finge que o sexo não existe com sua força medonha...
- E se houvesse menos fingimento, menos "hipocrisia", certamente o sexo, algo saudável e natural, belamente natural...
- Sim?
- Deixaria de ser explorado e prostituído, pois todos viveriam naturalmente o sexo como parte integrante dos amores românticos...
- Está  se saindo bem nesse seu labirinto mental, Sapabela...
- Rospo, seu coração só pensa nas coisas imensas?
- "Uai! Ela mudou de assunto!"  Só penso nas coisas que não passam.
- O efêmero não interessa a você?
- Apenas o que se aloja no efêmero me interessa...
- Parece tão simples, não é?
- A simplicidade às vezes é uma opção do olhar...



HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 304

Marciano Vasques

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