domingo, 21 de fevereiro de 2010

CRONO

CRONO
   

Crono enfrenta o pai Urano
CRONO


Filho de Géia no mundo astral, o titã Crono ficou contra o próprio pai, Urano, para auxiliar a mãe.

Ele odiava o pai desde o dia em que descobriu que a mãe era maltratada.

Urano, implacável, aprisionou os filhos no ventre de Géia e o sofrimento se instalou no coração da mulher quando os viu  encerrados nas profundezas da Terra, o seu corpo físico.

Implorou a Urano para que libertasse seus filhos, para que da luz pudessem participar.

- Eu não os quero para sempre em minhas entranhas. Eu os quero na natureza, participando da vida. Eu os quero lutando, correndo, gozando luz, eu os quero vivos, porém fora do meu ventre.

O irônico Urano respondeu que ela sempre quisera vida pulsando em suas entranhas, portanto, que não reclamasse, e a mãe de Crono, nascida da divisão de Nix, chorou, umedecendo a Terra.

A mulher que nasceu porque havia Luz, estava chorando e seu pranto escorrendo sobre os vales, feito fiapos de dor.

Urano, incompreensível, vagava etéreo em sua forma infinita que se expandia em azul.

Senhor do firmamento, aquele que odiava os filhos, por isso os encerrava no corpo da mãe, mas os filhos imploravam vingança, e Urano não podia imaginar que um deles o enfrentaria.

Sabia que os filhos o temiam, porém não sabia que um não aprendera a sentir medo.

- Estarei sempre ao seu lado, mãe! – ao pronunciar essas palavras, Crono afirmou-se como o senhor do tempo, pois só ele, o tempo, traz em seu bojo a solução para os conflitos e o sofrimento.

Já era assim desde a geração de Géia pelo Caos, talvez por ela trazer em seu ventre a inscrição da possibilidade de gerar Crono...

Ao ouvir as palavras do filho mais jovem, a mãe de todos os seres chorou.

O casal primordial não podia prever a tragédia que se aproximava.

O jovem Crono estava preparado para criar uma nova ordem na natureza.

A mãe abraçou-o forte.

Um dia ela se tornou submissa e se entregou ao amante, mas o sofrimento medrou em sua face, e o filho não suportou isso.

Parou diante da mãe, olhou a sua face, e assumiu a dor do que iria fazer, mas se abraçou também fortemente ao ódio que sentia pelo injusto Urano.

Olhou para o alto e murmurou: - “Não mais fecundarás!”

Urano continuava com o seu insaciável desejo de fecundação, sua voracidade sem limite, sua capacidade infinita de fecundar, sua proliferação extremada que causava destruição por causa do excesso, enquanto Géia, sentindo - se um poço de depósito do prazer desvairado e egoísta, olhava com tristeza para as  escuras profundezas do seu ventre transformado em Tártaro, e seu desespero aumentava pela impossibilidade de dar à luz aos filhos aprisionados pela estupidez de Urano.

Que sofrimento maior podia nascer em seu coração que a consciência de que não podia dar à luz, não podia oferecê-la aos filhos por causa da intransigência masculina de Urano, tão imensa quanto o seu fecundo poder?

Talvez o sofrimento de ser usada.

Escorria pelos montes e vales a sua consciência.

Desde o começo, a consciência quando brota altera tudo. 
Géia encharcada de dor e desgosto queria que seu corpo se transformasse em algo além da coisa que satisfazia Urano. Não havia mais sentido naquele relacionamento.

Se antes se entregara com prazer, passou a odiar uma procriação sem sentido, buscava algo e sentia-se preparada para lutar.

Como fazia diariamente, Urano viria fecundar Géia, porém suas secreções teriam fim.

A mãe forneceu uma foice ao filho e ele, num preciso gesto, cortou os testículos do pai.

Quando Urano chegou, Crono esperou escondido que ele iniciasse o ato e assim que seu membro penetrou em Géia, antes que ejaculasse cortou-lhe os testículos.

O filho castrou o pai.

-  Agora você é o senhor do céu!
– disse a mãe - Case-se com Réia, ela o ama.

Encerrada a fecundação incessante, Géia esboçou o primeiro sorriso.

Com o término do relacionamento entre Géia e Urano, o titã ordenou o mundo, separando o céu da Terra.

O insaciável, que a tudo devora, casou-se com a irmã Réia e com ela teve filhos.

Por causa de uma profecia, passou a devorá-los.

Cada filho que nascia, era por ele devorado. Trágico destino, por ódio castrou o pai, por medo de ser destronado, devorava os filhos.

E assim fez com todos, menos um, Zeus.

Enganado por Réia, engoliu uma pedra embrulhada no lugar do recém-nascido.

Os testículos de Urano foram jogados no oceano. Decepados, flutuaram sobre as águas.

Das espumas ensangüentadas nasceu Afrodite. 

Afrodite, de Sandro Botticelli

A deusa do amor surge esplendorosa nas águas vermelhas do oceano.

Termina, com o seu nascimento a era da fecundação estéril, sem limite.

A visão de Afrodite emergindo das espumas e caminhando sobre as águas, brotando das sementes de Urano, para estabelecer e espalhar o amor no mundo, agitou os mares, que em gigantescas ondas saudaram a nova deusa.

A mais bela jovem nascida do esperma do deus derrotado ergueu os braços para o céu, que imediatamente trovejou.

A voz poderosa de Urano, estremecida, anunciou a chegada da deusa.

- Esta é Afrodite, filha da minha dor! É a deusa do amor, nascida do meu sangue, deixo-a como um presente para o mundo.

Como nasceu dos testículos de Urano, não poderia evitar, como deusa, que com o amor também viessem às vezes a dor e o sofrimento, mas quando a humanidade surgisse, em cada coração humano estaria sempre a condição de evitar o sofrimento.

Afrodite subiu aos céus. O oceano se acalmou.

Géia, paralisada pelo espanto, via das águas agitadas e do rodamoinho de espumas o surgimento da deusa.

Das gotas de sangue de Urano sobre o corpo físico de Géia, nasceram as três misteriosas Erínias. Os deuses, buscando um eufemismo, passaram a chamá-las de Eumênides e também apelidaram-nas de “Cães de Hades”. Chamando-as de benfeitoras procuravam dissipar o temor que elas causavam.

Guardiãs da lei, agiam com fúria na implantação de suas vinganças e com rigor nos castigos.

As três Erínias: Alecto, Megera e Tisífone, tudo faziam para enlouquecer as suas vítimas, e espalhavam tragédias e epidemias, colocando freqüentemente com seus caprichos vingativos a natureza em fúria.Zeus, Museu Pio Clementino, Roma
Zeus, o filho sobrevivente de Crono, um dia reapareceu e destronou o próprio pai, enviando-o a seguir para o Tártaro. Porém Crono fugiu e foi viver entre os mortais na Itália, então chamada de Ausônia.

Lá reinou com o nome de Saturno, nome tomado de um antigo deus da região, e instaurou a “era do ouro”.

Em sua homenagem foram instituídas as Saturnálias.

Com esse novo reinado, Crono garantiu, além da prosperidade nas colheitas, a paz, a justiça e a igualdade entre os mortais.

O novo deus itálico passou a receber dos humanos, oferendas. Agradecidos com as prósperas colheitas, todos faziam questão de presenteá-lo.

Para comemorarem a generosidade do deus, que se manifestava na semeadura e na fertilidade do solo, os mortais realizavam banquetes e dançavam.

Surgia o costume de trocaram entre si presentes, como uma forma de homenagear o reaparecimento do deus.

Em cada dezembro, a alegria e a paz invadiam os corações e o deus ficava satisfeito, retribuindo anualmente com valiosas colheitas e hospedando a harmonia em cada alma.

E assim reinou Crono, que transformado em Saturno, deixou de ser o devorador e passou a ser o deus agrícola, trazendo fartura aos mortais.

Seu reinado continuou durante séculos e a troca de presentes inspirou outros povos.


Recontado por MARCIANO VASQUES

Imagens em RIOTOTAL

    
 

3 comentários:

  1. Obrigado, muito obrigado,
    O obrigado pela presença,
    Um abraço de
    Marciano Vasques

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  2. O brigado pelo trabalho tenho 12 anos e vai me ajudar muinto numa pesquisa da escola de mitologia greco-romana Blz

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