quinta-feira, 18 de março de 2010

O MENINO E A BALSA

O MENINO E A BALSA
  



 
 
  Coração de menino pulsava acelerado diante das placas “Ferry Boat”, que via à  margem da avenida “Puglisi”, em Guarujá.
O pai desceu a Moji-Bertioga rumo ao litoral, movido por um único motivo: estar na balsa. Atravessar de uma cidade à outra daquele jeito, levando consigo o filho. Queria mostrar ao garoto um dos  mais bonitos lugares do Brasil. Uma inesquecível visão que  criança precisa ter antes de crescer. Iria adquirir para o filho as emoções da travessia de Guarujá para Santos de balsa.

  Que pintor poria na tela, com exatidão, por mais fiel que fosse,  um  entardecer na balsa?

  Amontoado de embarcações:  imensas gaivotas de madeira e ferro construídas pelas mãos humanas. Navios passeando lentamente diante da balsa, transbordando os olhos do menino, trans-bordando em sua alma o mais bonito bordado, o  para sempre, do qual se pronuncia: poesia.
Impossível ficar ao volante esperando a travessia terminar. O pai sai do carro e caminha com o filho até a beira para que apreciem com mais carinho a beleza de um entardecer na balsa, lugar que nenhum outro se atreveria tão bonito  a ser para aqueles olhos.

Ele tira fotos. O pequeno, encantado, olha os navios, os barcos, o mar e as cidades, uma de cada lado. O coração quase salta no pensamento ao pensar para si:

- “É Santos!”

Retornam ao carro. A balsa termina a travessia.

- Pai!

- O que é?

- Faz tempo quero fazer uma pergunta.

- Faça então.

- Quem é Rosema Branca?


O homem, desconcertado, responde:

- É uma história que os  santistas mais antigos contam sobre uma enorme flor azulada muito bonita...

- Ela existe de verdade, pai?

- Claro que não. É apenas uma lenda, eu acho.

- E a menina?

- Que menina?

- A que virou flor.

- Onde ouviu essa história?

- Certa noite perdi o sono e escutei o senhor falar essas coisas para a mãe. Não deu para entender direito...


- É feio ouvir conversa dos outros...

- É que eu perdi o sono e quem perde uma coisa ganha outra.

- Como assim?

- Eu ganhei uma conversa da madrugada...

O pai sorri.


- Sabe, filho, quase ninguém mais fala sobre essa história. Acho até que caiu no esquecimento...

- Mas fale agora pai.

- Não posso!

- Por que?

- Caiu no esquecimento dentro de mim.

Os dois riem muito.

Passaram por todos os canais de Santos e riram sem parar, a mais saborosa risada naquela tarde na baixada paulista.

Por um momento afugentado na maresia, o pai contemplou no rosto do filho  as imagens que fizeram morada em seus olhos de balsa.

MARCIANO VASQUES
CASA AZUL DE PALAVRAS - Texto 2

4 comentários:

  1. ______________________________________


    Uma linda história... Despertou uma certa melancolia. Também há coisas que adormeceram em mim e sinto falta...Lembranças! Como são boas as lembranças...


    Beijos de luz e o meu carinho!


    __________________________________________

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  2. GRACIAS por visitar mi blogg y seguirme
    tiene un blogg muy precioso!!!!
    saludosss
    besos y abrazos :o)

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  3. Lindos os seus Blogs, meus Parabéns!!!

    Bom final de semana!

    Abraços,

    Reggina Moon

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  4. Deixas-me sem palavras. Gostei muito deste conto, acho alguma vez escutei esta historia da mulher que se converte em flor, mas nao me lembro onde. Se calhar nas aulas de Portugues.

    Bom, espero seguir lendo seus textos.

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