sexta-feira, 5 de março de 2010

PROMETEU




PROMETEU
 
O mais esperto dos titãs, após lutar ao lado de Zeus contra Cronos, o devorador, voltou-se para a humanidade, tendo inclusive impedido, com astúcia e habilidade, que o deus pai destruísse os humanos.
Após derrotar o próprio pai, Zeus ficou arrasado e decidiu destruir a raça humana para recomeçar tudo novamente, mas Prometeu (PRÉ–MEDITAÇÃO), agindo cautelosamente, conseguiu convencer o deus de que tal ato destrutivo só aumentaria o seu desgosto.
Graças a essa intervenção, a humanidade sobreviveu.
Circulava antiga lenda afirmando que o seu coração humanizado se originara no dia em que ele criou o homem a partir de argila e água.
Talvez por ter sido o mais perfeito artesão de todos os tempos, Prometeu teria feito o homem à semelhança dos deuses juntando argila e água de um riacho.
Segundo a lenda, apenas o fez materialmente, sem o animar.
Coube esta função à deusa Atena, que, encantada com a perfeição da obra, soprou na criação de barro de Prometeu, o espírito.
Num entardecer esplêndido, da boca da deusa o alento transformando-se em espírito passou para o homem de argila. O sopro apareceu como um feixe nebuloso e azulado. A cena fluídica encantaria o maior dos céticos.
- “Por que escolheste a argila?” – teria perguntado a deusa ao titã.
- “Porque na terra está a semente dos céus! Posso transferir de cada animal, de cada criatura viva da terra, uma característica para a minha obra, mas não lhe posso dar a vida!
A deusa, ao ouvir isso, insuflou no homem o espírito. Assim teria nascido a humanidade.
De alma belicosa e guerreira por ter nascido da cabeça de Zeus, e não do útero materno, porém sempre procurando agir com serenidade e prudência, por ser dotada de sabedoria, a protetora dos guerreiros e das cidades, sem jamais ter demonstrado amor irracional pela guerra, justamente por ter a consciência de que personificava a sabedoria divina, considerou a sua missão cumprida.
A deusa de olhos claros como o verde dos mares, deixou Prometeu contemplando a própria obra.
Portando o seu escudo no qual estava gravada a figura da medusa, dirigiu-se ao Pártenon, passando antes pela árvore chamada oliveira, na qual recolheu a sua coruja, que a esperava.
Assim deu-se esse encontro entre a deusa e Prometeu, segundo contam as lendas muito antigas.
Prometeu ensinou aos homens muitas artes e ofícios, entre os quais o estudo das estrelas. Graças a ele os homens puderam navegar com segurança.
Ao ensinar aos homens as órbitas estelares, percebeu que faltava algo e deu aos seres humanos, o mais precioso dos dons, o pensamento.
A criatura que adquirira vida com o sopro divino de Atena, agora governaria sobre todas as formas de vida terrestres.
Zeus olhava com desconfiança o exagerado amor de Prometeu pela humanidade, mas a coisa se agravou quando o atrevido titã enganou os deuses em favor dos humanos. Inaceitável!
Abateu um boi e o repartiu em duas partes enroladas em couro. Na maior, gordura e ossos, na menor, a carne. Ofertou aos olímpicos a porção menor. Zeus não gostou disso...
- “Glorioso Zeus, escolha a parte que quiser.”
Ao escolher a parte maior, Zeus percebeu que fora enganado.
Sua vingança foi imediata.
A ira de Zeus se transformou em ausência de calor.
Tirou da humanidade o fogo.
- “Que vivam no frio, e que comam a carne crua...
E aprisionou o fogo na carruagem do sol, que percorria em círculos o monte Olimpo.
A humanidade sofria com a ausência do fogo.
O capricho de Zeus representava o pior castigo para os seres humanos e uma vingança terrível contra Prometeu, que pensativo, sentado num frio rochedo, olhava para um talo de erva-doce.
Não suportava ver a agonia dos seres humanos.
Decidiu.
Foi ao Olimpo e roubou o fogo da magnífica carruagem do sol, que percorrendo em círculos o lar dos deuses, iluminava e aquecia o monte divino.
Trouxe-o de volta protegido num talo de erva-doce. Ensinou a humanidade a cozinhar. Ela, agradecida ergueu milhares de fogueiras, cujo brilho chegou ao monte Olimpo.
Zeus, tomado por incontrolável fúria, decidiu castigar Prometeu por tamanha premeditação, por tamanho atrevimento.
Nenhuma vingança seria tão terrível como a que sondava o coração do deus enraivecido.
Um ferreiro coxo daria inicio à vingança de Zeus.
O deus vingativo ordenou-lhe que fizesse uma criatura de argila, a qual chamou mulher, fisicamente semelhante às deusas, que trouxesse, além do amor, sofrimento aos humanos.
Hefesto atendeu.
A obra do ferreiro fora levada ao altar dos deuses e lá permaneceu deitada.
Zeus explica à fraternidade divina o motivo do encontro.
Os deuses em círculo lhe deram um nome que Zeus apreciou: Pandora, a cheia de dons.
Os deuses, um por um, deram à Pandora, como presentes, os atributos.
Com as vibrações dos deuses, a criatura de barro desapareceu lentamente e em seu lugar foi surgindo um belo corpo feminino. Zeus acompanha a metamorfose com vitorioso sorriso.
Apolo lhe deu o dom da música.
Hélio lhe insuflou a divindade.
Ártemis, a graça e a leveza.
Atena, a inteligência e a habilidade de tecelã.
Afrodite, a beleza e o desejo.
E assim por diante...
O último foi Hermes, que, cúmplice de Zeus, lhe transmitiu a astúcia, o cinismo, a mentira e as artimanhas. Disse o deus:
- Você, com o desejo recebido de Afrodite,viverá para seduzir e atormentar os sentidos, e com os atributos que eu lhe dou, também para enganar. Peregrinarás pelo mundo seduzindo e trazendo malefícios. Espalharás o amor, mas também a mentira, e usarás das artimanhas, dominarás a arte das manhas.
E assim Hermes instalou no coração de Pandora o dom do fingimento.
- Erga-se! – conclamou Zeus. - Você simbolizará as fêmeas.
A partir de agora a humanidade estará dividida entre masculino e feminino.
A humanidade deverá adormecer, e quando acordar, não mais será andrógina. E a parte feminina será portadora de todos os seus dons!
E assim, cheia de dons, a mulher de argila adquiriu vida.
Pandora sorriu sem compreender direito o que acontecia, mas todos os deuses viram malícia em seu sorriso.
Hermes sorriu satisfeito. A vingança estava se consolidando.
Zeus, orgulhoso, deu por encerrado o evento.
A primeira mulher criada foi entregue de presente para um dos irmãos de Prometeu, Epimeteu, em quem a reflexão sempre tardava.
Epimeteu, fascinado pela beleza feminina, esquece dos avisos do irmão, para que recusasse qualquer presente de Zeus.
Pandora tornou-se esposa de Epimeteu.
Aos distribuir os dons para a humanidade, Prometeu, para poupá-la de sofrimento, aprisionou os males numa pequena caixa oval chamada boceta, que foi dada como presente nupcial para Pandora, com a recomendação de que jamais deveria ser aberta.
A curiosidade é mãe da evolução, mas às vezes se torna irmã da imprudência.
Pandora não suportou a curiosidade em saber o que havia naquela caixinha, e, um dia, inadvertidamente, abriu-a.
Da caixa saíram todos os males e infortúnios que afligem e atormentam a humanidade, como as doenças, as dores, a inveja, o ciúme, a vingança...
Pandora, apavorada, recolocou a tampa na caixa tentando evitar que a tragédia se alastrasse totalmente, mas era tarde.
A velocidade do mal sempre surpreende os puros.
Mas, uma coisa ainda ficou presa no fundo da caixa: Esperança, que aflita e chorando a chamou.
Pandora ouviu o chamado desesperado e abriu a tampa. Soltou assim Esperança no mundo para que ela pudesse confortar a humanidade.
- “Não importa a extensão do mal, Esperança sempre estará com o afligido”, pensou Pandora, refletindo curiosa sobre o fato de Esperança estar guardada na caixa.
Muitos, através dos tempos, consideram a esperança também um mal. Para outros, para a maioria, é um bem, o que parece tornar incompreensível que estivesse junto com todos os males numa caixa, mas outros viram nessa atitude de Prometeu, um gesto de sabedoria.
Enquanto isso, prosseguia a vingança incansável de Zeus, que acorrenta brutalmente Prometeu num rochedo montanhoso.
Prometeu sofre com o sol escaldante, com o frio e com as intempéries da natureza. Seu grito sufocado não atinge a sensibilidade de Zeus.
O titã permanece acorrentado. Não há atenuantes para Zeus. O titã foi longe demais, o roubo do fogo, a zombaria do boi. É o fim.
Não haverá perdão no coração endurecido de Zeus, personificado no rochedo.
Diariamente uma águia ia bicar o seu fígado, que à noite crescia. O fígado regenerado era novamente devorado pelo animal.
O martírio nunca terminava. A pavorosa águia bicando seu fígado e a cada amanhecer o recomeço da tortura.
- “Implacável Zeus!” - gritava o pobre titã quando via ao longe, entre as nuvens do horizonte, a silhueta da enorme águia se aproximando.
Seu suplício teve fim.
O persistente Prometeu, mesmo no sofrimento, reencontrou as forças e, zombando, disse a Zeus que conhecia o segredo que o lançaria no esquecimento.
Às vezes a memória é a nossa salvação, e Prometeu tentando encontrar uma forma de se libertar, lembrou de uma antiga profecia que muito poderia agora lhe ser útil.
Enquanto a águia perfurava o seu fígado, ele se esforçava desesperadamente para lembrar da profecia em todos os detalhes, até que uma palavra, um nome, veio consolidar a sua lembrança: Tétis.
Zeus compreendeu que o titã não estava tentando ganhar tempo e sabia que a sua sarcástica afirmação tinha sentido. Prometeu conhecia um segredo valioso e Zeus não suportava a idéia de cair no esquecimento.
Ordenou a seu filho Hércules que libertasse Prometeu. E assim foi feito.
Quando no Cáucaso Prometeu viu Hércules se aproximando, compreendeu que a liberdade se aproximava.
Compreendeu também que o poder era algo muito especial para Zeus.
Hércules matou a gigantesca águia.
Prometeu estava finalmente livre.
Agradecido, revelou a Zeus o segredo de Tétis.
Ele conhecia mesmo a profecia que dizia que a Nereida Tétis geraria um filho mais poderoso que o pai.
Com a recusa de Zeus, Tétis se casa com um rei mortal.
O filho do casal foi chamado Aquiles.





PROMETEU, recontado por Marciano Vasques

4 comentários:

  1. Buenos días Marciano: Si no hubiera sido por tu entrada, no hubiera leido nada sobre la Mitología y es tan bueno saber de todo un poco.Aunque yo me quedo con la Cristiana.

    Es muy bueno tu trabajo en esta Casa Azul de Literatura.

    Me gusta por su variedad y Cultura.

    Obrigada.

    Un abrazo desde Valencia.Montserrat

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  2. Maravilhoso post. Nós amamos ler com ele.

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  3. Obrigado, Sunshine and Baba,
    Neste sábado matinal, nada como a presença de vocês por aqui,
    Marciano Vasques

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  4. Montserrat,
    Nem imagina como fico feliz com os seus comentários!
    Concordo plenamente: é muito bom saber de tudo um pouco.
    Abraços neste sábado,
    Marciano Vasques

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