sábado, 22 de maio de 2010

BREVE ANTOLOGIA DA CANÇÃO DE FÉ E OUTRAS

Marciano Vasques

BREVE ANTOLOGIA DA CANÇÃO DE FÉ E OUTRAS


 
 




Em tempos de faturamento e do desenvolvimento alastrado da fé musical, quando alguns gravam canções mercadológicas com o objetivo de atender a uma necessidade de enriquecimento da indústria da cultura, convém lembrar uma canção gravada por Ângela Maria, e também por Agnaldo Timóteo mais de uma vez, inclusive em seu último CD, uma coletânea vendida nas calçadas de São Paulo pelo próprio artista. Tem músicas de Majó, “Tristeza Danada”. “O sono saiu correndo/meu nervo abalado minha casa não me cabia”. E tem "Foi Deus".

Canções que fazem parte de um tempo e de uma alma diferentes.

De autoria de Alberto Janes Fialho, “Foi Deus” é um primor de letra, beirando a poesia. Não custa ressaltar que tanto a voz do artista, quanto a da Ângela Maria, com suas respectivas interpretações depositam aos ouvidos do Brasil o que há de mais apurado, de mais elegante no cancioneiro da MPB.

Ângela, que já nos brindou com obras como “Tango de Tereza” e “Ai Moraria” nos transporta para uma serenidade, para alguns minutos de rara beleza em tempos de barulho. A sua voz é um brinco da Música Popular Brasileira. A de Agnaldo um doce trovão. Curiosamente os dois se encontraram um dia. Ele procurava emprego e foi ser o seu motorista. Um dia cantou ao volante. A grande dama da canção do Brasil ouviu.
Que a atualidade (inclusive a juventude) precisaria conhecer essas vozes, assim como as de Nat King Cole e Edith Piaf, é indiscutível. Mas ouvir uma canção como “Foi Deus” nos ajuda na aproximação com a alma exposta.

Outra canção que precisa ser ouvida é interpretada por Luis Gonzaga. Trata-se de “Padroeira do Brasil”.


O cantor de “Cego Aderaldo” nos brinda com um canto gostoso de louvação à Santa do Brasil. Já está provado para mim que é bobagem querer fugir da alegria do forró. Muito menos do repertório do rei do baião, no qual podemos encontrar “ A Triste Partida” de Patativa do Assaré.
Ainda dentro do universo da canção popular, lembro-me sempre de um jovem pronunciando que uma canção (uma letra) de Antonio Marcos ainda vale mais do que uma centena de letras de pagodes. Ouvi com curiosidade alguém da juventude do início do século XXI falando isso, e me pus a lembrar das canções interpretadas pelo artista, algumas antológicas, de uma beleza que só ouvindo, assim como outras preciosidades como a canção de Taiguara, intitulada Amanda. Tentei concluir que o jovem se referia à fortaleza das letras, ao comparar um ídolo dos anos 60 e 70 com certa produção musical atual.
Então, ao lembrar que eu tinha dezesseis anos e gostava de uma canção interpretada por Paulo Sergio, um dos artistas do pop nacional mais injustiçados pela mídia da época que fez de tudo para destruí-lo numa vergonhosa campanha orquestrada que contou com a participação de “guerreiros” como o Chacrinha, e hoje eu com mais de meio século de vida, ainda gostando de “Pra Esquecer Que Você Existe (Fujo de Mim)” conclui que ainda não envelheci.


Evidente que ao fazer esses comentários não estou no universo do grande Tinhorão. Mas o fato de transitar da música de Wagner, de Mozart, de Chico Buarque e Caetano para as canções que o povo simples cantava revela-me uma alma voltada para tudo o que é autêntico.

É nesse universo da autenticidade que entra a dupla “Tonico e Tinoco”, e outros cantores da viola, a “Sá Marina” do velho, e bom Simonal, outro injustiçado, mas cada época precisa das suas vítimas.

É nesse universo que entra a voz de Martinha e suas canções simples, como “Pior Pra Você, Bem Pior pra Mim” e é nesse universo que entra a Wanderléia, protagonista de uma das mais bonitas cenas do filme “O Diamante Cor de Rosa”, quando a sua voz vem surgindo ao longe, suavemente, detrás dos rochedos, e aos poucos vai se impondo com a canção “Nosso Amor Vai Ser Um Escândalo”. É a mesma intérprete de “Ternura”, gravada também por Roberto Carlos em 1977, no seu LP de melhor capa.
Nesse ano eu tinha a coleção completa do jornal “Movimento”.

Para a arte autêntica, mesmo que simples, mesmo que em formas simples, não tem idade e não tem época.

A época é pura invenção quando se trata de arte, principalmente da música, mesmo que cantada apenas pelos camponeses. O mesmo pode se dizer da pintura, da poesia, da literatura e dos quadrinhos, uma espécie de arte do século XX.
Com relação à música é bom lembrar da canção de Fagner e Zeca Baleiro, que homenageia os cantores românticos do Brasil que cantam para o povo, entre os quais Odair José, que permanece íntegro, eticamente limpo, sem permitir que o tempo o transforme numa espécie de cafajeste.

A canção da dupla diz que “ninguém pode destruir o coração de um homem sincero”, tudo de acordo com “o cantor de bolero”. No mais é viajar com Cartola.

“Preciso me Encontrar”. Assim caminhei durante um bom tempo.



 

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