sábado, 17 de julho de 2010

A CRIATURA E A LETRA

- Ela é muito importante. Aliás, é a coisa mais importante em qualquer Língua.
- Quem é ela, meu querido? - Pergunta o Rospo para o ser que mora entre 

as flores. Uma criatura que só pode ser vista por uma criança, pois assume 

a sua forma somente quando está diante de um coração puro.

- Veja se consegue descobrir. Uma empada vira espada. Uma esmola vira 

escola, que vira escova. Uma pomada vira tomada...
- Continue, meu amigo.

- Um castelo vira uma costela. Uma janela vira uma panela. Canela vira caneta que pode virar boneca ou soneca. Assim como uma rosa vira uma roda e pato vira um prato que pode virar um pranto que pode virar uma planta que pode virar um planeta, tal como uma fita vira fila que pode virar uma figa ou um figo ou uma faca vira foca que vira toca como fada vira fado que pode virar fato que vira mato e um sapo vira saco como a égua vira água...





- Já sei, já sei, já sei! É a letra! Uma única letra muda uma palavra inteira. 
Mas, me diga agora: qual é o seu nome?

Como se aproximavam alguns adultos, a maravilhosa criatura desapareceu...

Um dos adultos se aproximou.

- Olá, Rospo, conversando com o jardim?

- Sapabela? É você mesma?
- Claro que sou eu.

- Por um momento pensei que fosse uma flor que tivesse escapado do jardim.

- Rospo, obrigado. Sempre tão galante, mas, conversava com as flores?

- É...Com as flores talvez.  "Será que alguma criança sabe o seu nome?"

 Sapabela, aconteceu algo estranho...


- O que foi, meu amigo?

- Descobri que tenho alma e coração de criança...

- Eu nunca duvidei disso.

- Dissolvida no jardim, a misteriosa criatura dá uma piscadela.


HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 143

Marciano Vasques

ARTE: Daniela Vasques

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pesquisar neste blog