terça-feira, 16 de novembro de 2010

ROSPO, SAPABELA E A CHUVA

- Sapabela, alô!
- "Ele sempre liga na chuva" - pensa a sapa, ao atender.
- Qual é a novidade, Rospo?
- Está chovendo.
- Isso é novidade?
- Os telhados e as folhas das bananeiras estão molhados, e o poejo, e até um beijo hoje estará molhado...
- É por causa da chuva, meu amigo...
- Tem uma sapa com capa e um guarda-chuva lilás...
- Entendi. Você está vendo pela vidraça da sua janela...
- Gotas do arco-íris refletem numa teia de aranha, um dourado besouro desliza na lisa folha...
- Está vendo tudo isso?
- As calçadas estão molhadas, a grama foi penteada, e o ar respira o frescor do renascimento...
- Que mais?
- Um sapinho bebe a chuva e uma sapinha sorve o néctar de um livro no aconchego de seu quarto, vejo pela lâmpada acesa. Sei quando ela está lendo... Uma sapa chora e suas lágrimas prateadas se perdem nas gotas de chuva...
- Tanta coisa na chuva, não é, Rospo? Mas anda espionando muito a vida alheia. Sabe até quando uma sapinha está lendo...
- Sou um escritor, lembra? Se a lâmpada está acesa, eu a faço ler...
- Um livro de poesia, certamente...
- Ou um romance, que também combina com a chuva...
- Tudo é tão bonito, Rospo, tem muita vida saltitando na chuva, mas, cadê a novidade?
- É a poesia, Sapabela.
- A poesia?
- É. A chuva devolve a poesia aos nossos corações. A poesia renasce nas coisas que chovem, nas coisas que se molham...
- Vou agora mesmo para a vidraça !

HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 339

Marciano Vasques
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