segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O CORAÇÃO DA SAPABELA

— Como o coração é vaidoso, Rospo!
— Vaidade é decoração do coração...
— Não é só isso, meu amigo. A vaidade tem uma influência enorme no andamento do coração...
— Fale então...
— Veja só: o coração quase sempre se nega a ouvir a voz da razão, que fica ali martelando, batendo na porta, querendo entrar, e às vezes, espiando pela janela, mas ele, o coração, se mantém irredutível. Só quer ouvir a sua própria voz...
— Você tem razão, Sapabela...
— Pensei que tivesse apenas "coração"...
— O coração tem a sua voz e com ele não adianta discutir, mas ele precisava ser mais elástico, ouvir de vez em quando a voz da razão... Ele precisa compreender que a razão não é uma adversária...
— Tem sapa que é só coração...
— Sim, mas o coração não pode nublar a estrada...
— Sei disso. A razão é preciosa...
— A coisa mais fácil é alguém perder a razão...
— Perder o coração é difícil...
— Sapabela, é bom saber que tem momentos em que só o coração manda, mas tem momentos em que é melhor agir com a razão...
— Mas o coração é um pouco egoísta, às vezes...
— E imperialista também...
— A questão é que o coração tem as suas razões, e não abre mão delas...
 Rospo, como anda o seu coração?
— Caminhando, tranquilamente, em paz...
— O meu não, o meu anda desgovernado, como sempre foi... Louco pelas paixões da vida...
— Cuide bem dele, Sapabela, um coração assim merece todo apoio e incentivo...
—O seu coração, pelo que conheço dele, só se preocupa com as coisas imensas... Aquelas que não são passageiras...
—É bem verdade, Sapabela...
—Lá no recanto do requinte do seu coração... pulsa uma vida que jamais será requentada, meu amigo...
—Sapabela, você sempre acerta...Sua alma parece que tem uma boa pontaria...
—Nada, meu amigo. Apenas aprendi a observar...
—Mas não fica quieta!... Como consegue observar?
—Às vezes a quietude se aconchega ao movimento....


HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 368
Marciano Vasques
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