sábado, 4 de dezembro de 2010

TESOUROS NÃO MORREM

Marciano Vasques

 
TESOUROS NÃO MORREM
 
 
Distâncias são tesouros que se acumulam em forma de poemas. O poema é uma das formas escolhidas para que a vida se manifeste. Somente distâncias autênticas tornam-se tesouros alcançáveis. Distâncias artificiais apenas criam ilusões.

Vidas fascinantes como a de Lee Falk, o espírito, são vidas que jamais desprezaram as distâncias. As reais.

O poema, assim como outras formas de arte, enveredam pelas trilhas ofertadas pelas distâncias autênticas.

Quando aquelas nas quais eu vivia e me reconfortava apenas acenavam-me, eu buscava refúgio no que pulsava fortemente em mim, sem me dar conta um só momento de que somente as distâncias artificiais não merecem ser cortejadas.

Quando estive no jornal Movimento, não passava de uma presença invisível que desenhava. Quando a jovem amiga Rosane Régis apareceu numa manhã na escadaria da Matriz de São Miguel, aportava em mim o frescor da idéia enigmática de que o jornal é uma das alegrias para quem necessita de manhãs.

Quando as manhãs não mais são necessitadas, o jornal perde o sentido. Ele existe em função das manhãs. Esse é o seu tesouro.

Quando, ainda como uma presença invisível, subi alguns andares de um grande jornal, já estava fincado no processo inconsciente de apego ao que realmente merece ser chamado de distância.

Quando estive em um auditório da PUC assistindo a uma palestra de Plínio Marcos, estava embarcando numa das mais promissórias noites da minha vida.

Quando vi Sérgio Sampaio cantando, e quando vi Chico Buarque interpretando Walter Franco, e quando olhei, pela primeira vez, numa banca de jornais um exemplar do jornal Versus, estava me recolhendo na grandeza dos que compreendem o valor que uma distância autêntica pode nos presenciar. E quando ouvi pela primeira vez o Tarancón, então foi uma explosão só comparável a uma ciranda de Lia de Itamaracá. Se comparações são possíveis nesse universo mágico da vida refeita nos tesouros que não morrem.

Quando colecionei o gibi do Henfil, já estava comprometido com a distância que vale a pena.

A história da riqueza intelectual do meu país não foi uma ilusão. E os passageiros de uma viagem solitária, tais como eu, sempre clamaram por estações de encanto.

Hoje, a memória danificada pode ser recuperada, se os espíritos se encontrarem além dos sites. Se a conversa retornar, se o bordado da perda for desfeito e a vida se manifestar em toda a sua força poética. A poesia é um caminho de vigor que decide a alma repleta de distâncias que não morrem.

Só o que é profundo sobrevive, e só o que é difícil pode ser fácil quando as distâncias autênticas se manifestam.

Amar profundamente uma distância autêntica, quer ela se manifeste num cartão postal exposto numa revistaria qualquer da cidade, promover manhãs de domingo e caminhadas nas calçadas da mesma cidade que sempre explodiu num coração como o meu, seria a tradução mais singela de uma vida bonita.

Nada que possa ser considerado decadente tem em si um germe sequer do que é de fato autêntico, pois tal coisa tem a característica de jamais morrer, e de renascer em outros corações.

A adolescência, os jovens, os sonhadores, os bêbados autênticos, os poetas que rabiscam seus versos, todos os tesouros precisam ser guardados.

Quem nunca conheceu a força de uma distância autêntica passou pela vida sem gozar do mais sincero prazer. Só nas distâncias autênticas o sonho encontra seiva para se tornar realidade.

Os caminhos são traçados na busca natural das distâncias mais preciosas, e quem tem os olhos apurados, voa elegantemente sobre os escombros.

A alegria do jornal, a releitura de um livro, de um gibi que jamais foi esquecido, um poema num caderno antigo, uma canção que não foi regravada apenas por interesses comerciais, e até um site no Youtube, tudo pode ser importante, como foram importantes as caminhadas solitárias pela cidade aberta, em plena alegria de estar, mesmo que numa presença invisível.

2 comentários:

  1. olá amigo, sempre que passo aqui, me renovo, acredite é verdade, e certamente tesouros não morrem mesmo , lindo seu artigo,bjus tere.

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  2. Nossa! vim aqui é: "Reinventar a vida, é uma alegria para quem necessita das manhãs é o valor que uma distância autêntica pode nos presenciar, mesmo que numa presença invisível"
    Luz
    Ana Coeli

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