quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

AS ÁGUAS NOS ROCHEDOS DO TEMPO

— As espumas contra o rochedo: que visão impressionante, Rospo! Meu coração transborda de poesia, e ela estraçalha minha alma andarilha...
— Sapabela! O que está acontecendo?
— A vida está chamando, Rospo, e eu estou aqui para atender ao chamado...
— A vida?
— Sim, com toda a sua poesia, a sua força mágica, me atirando ao vento, me lançando ao entardecer, entre risos, festas, dores, prantos, vento forte correndo nos capinzais, nos bambuzais. A vida não tem jeito. Ela nos assombra, nos provoca... Não podemos ficar impunes, passivos diante dessa grandeza, dessa imensidão...
— Consegue ver isso tudo no cotidiano?
— A aspereza do cotidiano é apenas aparente... Somos estilhaços da força motriz universal que nos atiça a cada novo sorriso de uma criança, a cada animalzinho a nos mirar com seus olhinhos... Somos intensos e nem nos damos conta...
— Fico feliz que esteja descobrindo essas coisas...
— Isso mesmo, Rospo! Nascemos para descobrir, para desvelar, para retirar os cobertores, os mantos... Precisamos correr na direção oposta ao vendaval, precisamos ser como as águas agitadas contra a imobilidade de todos os rochedos. Rospo...
— Sim, Sapabela...
— A vida pede passagem...
— Eu sei.
— Então, por favor, estenda seus braços, sorria, grite quando o trem passar. Você, ao atender ao chamado da vida, está contribuindo com a força universal que nos espreita... nas coisas... em todas as formas de vida, nos astros, nas ostras, nos riscos de mariscos nas areias das praias... Sejamos apenas os que zelam pela sua passagem...
— Sapabela...
—Sim?
— Posso abraçá-la?
— Rospo, você já me abraça com a sua atenção, com a sua conversa, com seu verso, e com sua amizade...
— Sapabela, não sei bem o que aconteceu, mas você está emocionante...
— E estamos apenas no começo do ano. Rospo?
— Sim, minha amiga.
— Hoje é quarta-feira?
— Sim.
— Então é um dia especial...
— Por qual motivo, Sapabela?
— Por estarmos aqui, exatamente onde estamos, conversando... Nos ofertando para a passagem da vida...
— E ela aposta uma corrida desenfreada com o tempo. Seria tão bom se todos percebessem...

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 398
Marciano Vasques
Leia em CIANO

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