sábado, 29 de janeiro de 2011

MOMENTOS SABÁTICOS

— Alô?
— Alô. Quem é?
— Sou eu, o Rospo.
— Rospo! Que alegria! Diga...
— Só queria ouvir a sua  voz...
— Que bom! Também pensei em ligar... É sábado à noite...Tem algum assunto?
— Sapabela. Fiquei em casa, sozinho... E de vez em quando começo a pensar...
— Na vida, Rospo?
— Na vida, Sapabela. Ela está passando, e quase sempre nem notamos...
— Está angustiado?
— Não, mas pensei em algo:
— Diga.
— Leve sempre  com você as coisas que são preciosas em sua vida, por mais simples que elas possam ser, como a leitura de um livro, isso, esse livro que leu um dia, leve-o com você, em sua memória, onde for, e uma flor que viu, um gibi, um modo de pensar, quer dizer, um pensamento que teve...
— Um dia iremos embora, Rospo... Todos os sapos partem...
— Eu sei. A vida é efêmera, é curta demais...
— Só a alegria importa, não é?
— Sim.  A dor e o sofrimento, assim como a tristeza, não interessam e não despertam nenhum apego, nenhuma vontade...
— Às vezes ficamos tristes, Rospo...
— Mas você deve conservar sempre, Sapabela, as coisas e os sentimentos que não morrem, não passam...
— Rospo, está dizendo que somos os responsáveis pela permanência da alegria em nós?
— Se abro a janela, olho para a imensidão da noite e contemplo aqueles errantes astros cintilantes no infinito, tudo isso me assusta...
— Pascal também se assustou um dia...
— A vida, penso, é a compreensão dessa grandeza que assusta. Nada somos, isto é, somos infinitos grãos de areia...
— Infinitos pontos de luz...
— E tem aquele momento em que estamos realmente sós, e então só nos resta olhar para dentro de si...
— Ou telefonar para uma amiga...
— Verdade, às vezes a voz do outro é um analgésico para a solidão que dói em mistérios...

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 - 410
Marciano Vasques

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Um comentário:

  1. olá amigo, esses dois continuam impossiveis. um não larga o outro. legal. passei para deixar um bju, e pedir para retirar um selinho....tere.

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