sábado, 15 de janeiro de 2011

O OFÍCIO DE ESCREVER

— Rospo, meu querido!
— Sapabela! Que alegria!
— Hoje é sábado!
— Muita chuva, muita coisa para fazer...
— Rospo, ontem você falou sobre o ofício de cantar...
— Sim, conversamos a respeito.
— Mas, e o ofício de escrever?...
— Sapabela, eu estava justamente pensando nisso...
— Mas recebi um comentário de uma amiga...
— Então, vamos lá: o ofício de escrever é o maior tesouro na infância de um sapo, um tesouro que o levará para paixões irremediáveis e inadiáveis, para amores tempestuosos e inesquecíveis aventuras ...
— Mas isso é o ofício de ler...
— Sapabela, quando um sapinho ou uma sapinha recebe de presente das gerações de todos os tempos o extraordinário ofício de escrever, sua mente se modifica, seu cérebro sofre transformações, e, de forma natural, também o seu coração, a sua alma...
— Compreendo...
— E tem a chance de edificar mundos, reinos, e dar vida e forma às mais espetaculares aventuras do espírito anfíbio.  Poderá, com a escrita, expor a sua alma, que é o seu sentir, e também compreender o mundo, pois ao expor os seus sentimentos, estará realizando o florescimento, o desabrochar da sua própria leitura do mundo. Escrever é um passo gigantesco na vida de um sapinho. Com a escrita, com o exercício desse fazer, ele deixa de ser solitário e se torna alguém em comunhão com o mundo. Ele não está mais fora do mundo...
— Escrever é tudo isso?
— É deveras o maior tesouro que alguém, qualquer sapo, pode receber em sua vida...
— Rospo, veja uma árvore!
— Estou vendo. E daí?
— Por acaso estou com um giz, posso comunicar algo nela?
— Ainda bem que não é um canivete. Claro que pode! Vá até o seu caule... Escrever é para isso, é para comunicar pensamentos, sentires, sonhares, quereres...
— Veja, Rospo!
— Ora, você desenhou um coração. Não há nada escrito nele.
— O coração desenhado é uma forma de escrita, mas se estiver se referindo apenas às palavras, o que devo escrever nele?
— Tenho certeza de que até o caule da árvore já sabe...
— O que está insinuando?
— Nada! Estou brincando. Que tal escrever: "Árvore: Eu te amo!"
— Boa ideia! Então, lá vou.
— Sapa, você escreveu: "Árvore. Amo também você!"
— É, o ofício de escrever é um tesouro.
Os dois riem muito. E Rospo prossegue:
— Sapabela, sabia que todos somos escritores?
— Sim, a partir de quando começamos a escrever...

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 - 395
Marciano Vasques

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6 comentários:

  1. Oi Marciano, sabe que meus olhos se encheram de lágrimas ao ler esse seu texto? De uma maneira muito simples e singela, vc conseguiu transmitir o que é a ARTE DE ESCREVER...LINDO, ME EMOCIONOU, BEIJOS, BOM FIM DE SEMANA,

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  2. Só na casa azul logo encontraria uma rasposta tão encantada falando do encanto e da magia de escrever. Sim amigo, entramos em comunhão com o mundo através da nossa escrita e com ela tocamos o fio que tece nossa alma. não é?
    Muita Luz
    Ana

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  3. Náo tenho palavras para dizer da emoção que esta página me causou

    "O coração desenhado é uma forma de escrita, mas se estiver se referindo apenas às palavras, o que devo escrever nele?
    — Tenho certeza de que até o caule da árvore já sabe..."

    As essëncias fizeram=se em palavras e vieram
    brincar de obra prima pelas máos do
    escritor.

    Eu fico de cara...

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  4. Carmen Regina Dias,
    Um beijo em seu coração!
    Marciano Vasques

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  5. Glorinha,
    O Rospo ficou muito feliz com o seu comentário, e eu também, claro!
    um beijo,
    Marciano Vasques

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  6. Luz é sempre a sua presença,Ana!
    Marciano Vasques

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