domingo, 20 de fevereiro de 2011

MELANCOLIA DE DOMINGO À NOITE

—Tenho tanta coisa pra fazer, Sapabela... E o tempo escorre feito areia... Tenho lágrimas palpáveis, desenhando caminhos molhados na minha face, mas ninguém repara no picadeiro universal...
— Rospo, guarde as lágrimas, pense, por favor, em todas as coisas que ama, tudo que passou e passa por você... Como as vidas e as histórias entrelaçadas passando lá fora, do lado de lá da janelinha do trem... Quantas amizades você desperdiçou, quantos abraços você perdeu, de sapos amigos, sapos que gostavam verdadeiramente de você...
— Assim você me arrasa, Sapabela...
— Amigos queridos, gestos delicados, sorrisos que passaram e você nem reparou, brilho autêntico nos olhos, vontade de abraçar, timbres inesquecíveis, vozes dizendo coisas, palavras que se espalharam e se dissolveram ao redor, coisas que se perderam...
— Sapabela, chega! Não sou de ferro...
— Está bem, Rospo, eu paro. Mas, que história é essa das lágrimas que descrevem fiapos em sua face?
— Isso acontece, Sapa, por causa do tempo que escorre... Como posso compreender que esse tempo passe assim de forma tão implacável?
— Por que não o colhe no ar, como se fosse ele uma borboleta?
—Não posso, Sapabela, quando penso em colher ou parar o tempo, o instante já se foi... Estou só, neste vasto infinito, nesta imensidão de astros... E sei que irei embora, deixarei de ser, de estar, e as coisas seguirão, o universo continuará em seu devaneio pela eternidade do instante que passa...
— Rospo, sem lágrimas, sem tristeza... Lembra? Foi com você que aprendi que a tristeza mata, ela dissolve nossas forças, nossa potência é pulverizada...
— Mas, Sapabela, eu não me conformo com a melancolia deste domingo repleto de estrelas, e eu com tantas coisas para fazer, fico aqui, sem saber para onde ir, às vezes isso acontece... E não posso recuperar tudo aquilo que você falou, os abraços perdidos, os melhores sorrisos, os rostos mais puros, as vozes mais sinceras, os timbres mais doces...
— Realmente, não pode recuperar o que perdeu, e nem se tornar mais amargo por causa disso, a ponto de transformar sua alma em losna — nota do autor: losna é uma planta medicinal de sabor fortemente amargo — . O universo não irá mudar o seu rumo por sua causa... O tempo não irá se curvar para você... Tudo seguirá a sua sincronia aparentemente sem sentido, a vida será breve, por que ser breve é o seu destino, e a você, só resta uma alternativa. Viver, viver intensamente....
— Não sei o que eu faço, Sapabela.
— Faça!

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 -— 444
Marciano Vasques
Leia em CIANO

Um comentário:

  1. O Universo não irá mudar, mas suas palavras ficarão impressa nas asas das borboletas "A melancolia do Domingo repleto de estrelas"
    Muita Luz
    Ana

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