quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O ESPÍRITO E O TEMPO

— Nem consumado nem consumido...
— Do que está falando, meu querido?...
— Que, se o cansaço chegar, será apenas do corpo, mas nunca da alma...
— Eu entendo, conheço o seu espírito. Já o encontrei por aí...
— Que coisa encontrou?
— O seu espírito... Ele velejava na ventania, e trazia o tempo, e a poesia dos séculos... Angariava tempestades e percorria todos os ais, desde os vendavais aos mais inquietantes temporais... Eu o vi na ciranda dos sapos, nas festas e nas frestas de cada dor... e no cais.
— Sapabela... Pare!
— Eu o vi no rosto de cada criança, em cada sorriso matinal, num ocaso dourado, num crepúsculo de girassóis, eu o persegui por entre as folhagens, nos riachos e na azulada cordilheira pincelada de guache na silhueta do horizonte... Eu fui mais longe, fui com ele como se fôssemos sonhos alados, e estivéssemos em cada verso, em cada querer... Assim é o seu espírito...
— Sapabela, eu diria que você me emociona, mas não sou tudo isso...
— O meu coração disse ao vento que passava: Vento, o que procuras?
— E então?
— Ele respondeu num assovio: "Procuro alcançar o espírito do Rospo!"
— Tudo bem, não liguem, ela é minha amiga.


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 - 451

Marciano Vasques
Leia em CIANO

Um comentário:

  1. O vento passou por aqui... e quase toco seu espírito
    Também sou sua amiga
    Luz
    ana

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