sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

SIMPLIFICAR SEMPRE

— Tudo é tão simples...
— Rospo! Não diga isso!
— O que houve, Sapabela?
— Nada é tão simples, Rospo, tudo é tão complicado...
— Nada é tão complicado, Sapabela. Insisto em que tudo é tão simples. Complicar é o prazer do Sapo, é um hábito que  me parece ancestral...
— Ora, Rospo, não penso que tudo seja tão simples...
— Ora digo eu, Sapabela... Tudo é sim tão complexo, ou seja, tudo exige complexidade...
— Então, meu Rospo. Se tudo exige complexidade, como pode tudo ser simples?
— Não confunda complexidade com complicação... São coisas diferentes, complicação fica mais no plano vulgar, é algo mais, digamos, vicioso, se assim posso dizer...
— Estou quase entendendo, mas ainda está um pouco complicado... Tomei chá de estrelas e dormi muito tarde...
— Sapabela, a complexidade está em todo o universo, na própria sincronização da matemática que rege o universo, essa maravilha... em que somos...
— Certo, há complexidade nas órbitas celestes, no passeio dos astros, na pulverização das estrelas, nas luzes que se irradiam a si próprias...
— Sapabela, há complexidade num gafanhoto e na sua agilidade, no seu salto encantador...
— O salto de um gafanhoto é encantador?
— É comparável ao brilho de uma estrela...
— Está maluco? Estrelas e gafanhotos estão distantes e são bem diferentes...
— Isso é o que você supõe... Um gafanhoto tem a complexidade que rege o universo, e o seu salto faz parte da maravilha constante...
— E o que tem a simplicidade a ver com isso? Para mim, tudo continua complicado...
— Engano seu, minha querida...
— Finalmente o engano surgiu! Viva!
— Eu que sou maluco...
— Como disse?
— A simplicidade fez a morada no lugar mais importante do universo...
— Pronto! Agora complicou.
— Veja Sapabela, a origem de tudo está na beleza e no encantamento da complexidade do universo, que está no belo salto do gafanhoto, mas quando o seu olhar, que é a residência do universo, olha para o gafanhoto e vê a simplicidade, compreende que somos nós, os sapos, que adoramos e necessitamos complicar tudo, pois tudo é tão simples, e para que essa simplicidade pudesse tomar forma em seu olhar, foi necessária uma complexidade nas coisas que são...
— Entendi. Complexidade é diferente de complicação, e complexidade é natural para demonstrar a grandiosidade do universo, que está no salto do gafanhoto, mas tudo é tão simples...
— Espere um pouco que já volto.
Rospo apanha uma flor azul.
— É para você, Sapabela.
— Rospo, uma flor azul... Que gesto simples!... Mas que demonstra...
— Uma complexidade que são os neurônios poéticos...
— Existe isso?
— Deve existir.
— Você simplifica tudo...
— Todas as coisas complexas são absolutamente simples ao nosso olhar, quando ele não está envolto pela mania de complicação.

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 - 441

Marciano Vasques

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