— É tão bom quando uma sapa nos elege, quando um de nós é elegido, é escolhido para caminhar ao lado dela, para ser seu companheiro, e para receber o seu coração e o seu aconchego, os seus afagos e a sua ternura, — que tudo isso ainda existe!
— Rospo! Que conversa é essa? A sapa elege? A sapa escolhe?
— É ela que decide...
— Mas não dizem que é o contrário? Que é o sapo que conquista? Que é o sapo que decide qual a sapa que ele quer para ser a sua namorada ou namorante?
— Os sapos acreditam nisso, e participam do jogo amoroso... Tudo é deveras um disfarce, pois um sapo quando pensa que conquistou, já estava lá dentro faz tempo...
— Lá dentro?
— Calma! Sapabela... Não se assuste... É lá dentro do coração da sapa. Na verdade, ela que escolheu, ela que decidiu, ela apenas conduz, com a habilidade que só as fêmeas têm...
— Acho, ou melhor, penso que você vive num mundo ilusório. Hoje tudo está diferente, pelo menos aqui no brejo... Sapas e Sapos estão "ficando", e as sapas estão avançando, e não têm mais paciência, querem é decidir logo e...
— Que nada, Sapabela. Bombons, flores, canções, perfumes, cinema, toques distraídos nas mãos,... palavras certeiras pronunciadas com timidez, coração acelerado, tudo isso ainda existe...
— Vivo a provocá-lo, Rospo, mas sei que está certo. Sapos acreditam que estão conquistando, quando na verdade estão sendo arremessados para a conquista... De um jeito todo especial, que só as sapas sabem... Afinal, uma Sapabela será sempre um tesouro na vida de algum sapo, e tem mais, nada disso é alienação... Pois se ouvem a nossa conversa, poderão dizer que isso tudo é do tempo em que a sapa era passiva, e ficava esperando, esperando, esperando...
— Claro! Ela não está esperando, ela está agindo naturalmente, com os recursos mais fantásticos e deliciosos do mundo... Só quero até dizer uma coisa...
— Estou pronta para ouvir qualquer coisa...
— A vida é maravilhosa. E ser sapo é maravilhoso, é um dom, um bem, um presente...
— Quando o sapo atinge... esse nível de compreensão...com certeza, é tão bom...
HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 476
Marciano Vasques
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