sexta-feira, 11 de março de 2011

DISCUTINDO SOBRE UM TEXTO

— Li o texto dele sobre a propaganda da cerveja...
— E então? Quer saber o que eu penso?
— Quero! Saber o que o outro pensa é sempre uma aquisição, um enriquecimento em nossa vida...
— Fiquei com a impressão de que ele defendeu a necessidade da permanência, ou melhor, da existência da publicidade da cerveja...
— Na verdade não é bem isso...
— Estou curiosa...
—A cerveja é um produto, é algo que existe, para ser consumido, como tudo atualmente... E é inevitável que haja propaganda... Ela não pode ficar fora do grande arco que movimenta o nosso mundo... Tudo precisa de publicidade... Veja o escritor...
— Ele também precisa?
— Foi-se o tempo de Jorge Luiz Borges...
— Não entendi.
— Foi só um aperitivo para pensar...
—Está certo, foi-se, mas, e hoje?
— Hoje um escritor, ou pelo menos alguns escritores utilizam-se da publicidade pessoal para permanecer em evidência, ou para ser lembrado... Um escritor que foi deslocado do centro das atenções, pode, por exemplo, promover um alarde dizendo que a sua obra foi proibida em tal país, mesmo que a coisa não tenha sido exatamente assim, mas, enfim, ao alardear, cria um fato, que tem a força de o colocar novamente em evidência, mesmo que logo em seguida caia novamente no esquecimento... Então, veja bem, ele recorreu à publicidade, não dá para escapar, não é possível ficar de fora...
— Vamos voltar para a cerveja?
— Sim, então, como não é possível ficar fora da publicidade, e como é um produto para ser consumido, tem todo o direito...É inevitável mesmo... Não teremos como viver sem isso... Então, o que ele propõe com seu texto é que a propaganda seja pelo menos politicamente correta...
— Sim, isso de usar a sapa como objeto exclusivo de desejo do sapo, já era. Sapa também tem cérebro...
— Pois é... e pois será.
—Entendi, ele em seu texto associou também a cerveja ao sucesso, ao êxito, às conquistas, mas de coisas realmente valorosas que precisaram de um investimento, um sacrifício, uma luta... Até aí tudo bem...Mas...
— Chegou no "Mas" da sapa...
— Ele apresenta em suas sugestões sempre os sapos jovens...
— Isso não tem importância. Poderiam também ser sapos idosos, pois eles também vão à luta, também se esforçam para conquistar coisas... Entretanto, as sugestões do articulista se referem a um público jovem... Fica subentendido que é mais politicamente correto promover a cerveja entre os jovens...
— Teoricamente seria menos perigoso...
— Sim, é um produto alcoólico, e os idosos têm mais chances de apresentarem efeitos colaterais no consumo da bebida... Sapabela, bem estou adorando essa nossa "Metalinguagem"...
— Concordo com as suas colocações, Rospo, mas não estou plenamente convencida...
— Eu compreendo, Sapabela, mas, pense bem: a cerveja existe, desde sempre, e só precisa ter uma propaganda mais justa, menos imbecil, e é isso o que ele propõe...
— Vou pensar, Rospo, vou pensar...
— Vai pensar tomando uma cervejinha?
— Não, cerveja é para descontração, para momentos festivos, alegres...Porém tem algo que me ajuda a pensar melhor...
— Diga.
— Sorvete.
— Pois então vamos a uma tempestade cerebral... Pois a convido para...
— Aceito!
— De massa ou picolé?
— Os dois.

Marciano Vasques
HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 472
Leia em CIANO

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