quarta-feira, 2 de março de 2011

O SAPO E A MÚSICA

À beira do lago, sob o manto do luar, uma boa conversa sempre pode começar, e mesmo se um sapo estiver apenas meditando, ao surgir uma sapa amiga, logo estará conversando.
— Rospo, é verdade que quando você não tem nada para dizer, ouve música?
— Eu sempre tenho algo a dizer, Sapabela! Sou feito de dizeres. O que ocorre é que me parece que às vezes necessitamos dos momentos certos, ou das circunstâncias ou das condições para falar...
— Entendi. Mas então, como eu disse, você fica ouvindo música?
— Mais do que isso. Eu ponho música na casa. Espalho canções pela casa...
— E a casa fica azul?
— Fica, Sapabela. A música é uma forma de linguagem que às vezes pode perfeitamente substituir as palavras...
— Sei, as músicas, as canções, elas dizem muito... Sempre. Porém, tem algo que me intriga.
— Diga, minha querida.
— A música necessita do silêncio para ser ouvida, não é?
— Naturalmente. Sempre o silêncio. Só assim ela pode ser ouvida como merece...
— E, quando num show os sapos ficam gritando na hora de uma apresentação musical?
— Pois é.
— O "Pois é" às vezes não me satisfaz, Rospo... Então, a música é como um livro? Necessita do silêncio?
— Sim, a música é a literatura que voa pelos ares... Borboleta celestial que eleva os espíritos para o alto das infinitas cordilheiras do coração...
— Podemos ler um livro ouvindo uma música?
— Claro, desde que seja uma música sem letra...
— Compreendo. Mas hoje os sapos jovens, principalmente, estão fazendo diversas coisas ao mesmo tempo... Inclusive ouvindo música... Como você interpreta isso?...
— Para mim a música não perdeu a sua essência, o seu espírito...
— Entendi, acho que você respondeu...
— Não é "acho" minha linda, é "considero"... Estou brincando, Sapabela, fale como quiser...
— Pois é, Rospo, "O tempo passou na janela  e só você não viu..."
— Do que está falando, meu bem?
— Esse tempo da essência, esse tempo já vai longe... Estamos na era da velocidade. Essência dá muito trabalho, está muito lá, nas profundezas do ser... Ninguém mais tem tempo para essa viagem... Deixe a música tocar do jeito que o tempo manda...
— Sapabela, não tenho vocação para administrar perdas. Deixe-me viver intensamente o meu tempo, mesmo que fora do tempo...
— Rospo, vamos ouvir música hoje?
— Vamos! Qual o sabor?
— Sabor?
— Do sorvete...
— Entendi, música tem que ter acompanhamento...Ainda bem que sorvete é silencioso...

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 458
Marciano Vasques
Leia em CIANO

Um comentário:

  1. "Deixe-me viver intensamente o meu tempo, mesmo que fora do tempo..."
    Rospo fala coisas tão lindas...Casa Azul encantada
    Luz neste dia..
    Ana

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