sexta-feira, 25 de março de 2011

O SAPO E O SOFÁ

— Cada objeto é uma extensão do sapo. É uma ramificação do seu Ser, é uma ferramenta, na verdade, é mesmo uma extensão do sapo... Veja que a enxada é a extensão das suas mãos, e assim também a caneta...
— Sei.
— E o livro, Sapabela, é a extensão da memória do sapo...
— Borges...
— O que disse?
— Nada, meu querido... Mas tem um objeto curioso em casa...
— Qual?
— O sofá. O que ele é? Ele é extensão de que parte do sapo?
— No passado, ele também era a extensão da memória do sapo, pois os sapos se sentavam no sofá para conversar...
— E hoje?
— Atualmente é diferente. O sapo senta no sofá para se encostar. Nem se trata mais de descansar... Tem sapo que fica horas no sofá...
— Vendo à TV, aposto.
— Sim, é aposta vencida, e sabe disso, Sapabela.
— Então o sofá hoje é extensão de que parte do sapo?
— Considerando que um sapo ficar quase o dia inteiro no sofá defronte a TV é uma anomalia...É um espectro de sapo...
— Sim?
— O sofá tornou-se uma extensão da ausência...
— Ausência?
— É. Ausência do sapo de si mesmo.

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 497
Marciano Vasques
Leia CIANO

Um comentário:

  1. Muito bom Marciano..

    Passando para dizer oi..excelente fim de semana!
    Shalom

    http://nairmorbeck.blogspot.com/

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