terça-feira, 15 de março de 2011

SAPABELA E A LIMPEZA

— Lá chegou a Sapabela, com seu vestido colorido...
— Rospo, reparou nas calçadas?
— É a cabeça, a mente...
— Entendo. A sujeira nasce na mente... E na mente se acumula...
— Primeiro na mente se acomoda, depois extrapola, vai para as calçadas, as praias...
— Por isso que o serviço público é ineficiente... Pois é formado por Sapos, que antes de serem funcionários são sapos caseiros, sapos da cidade... O serviço público não pode varrer, não pode limpar como deveria, se ele é composto por sapos que convivem com a sujeira no cotidiano... A sujeira contagia, ela cria hábitos... Você se acostuma, aliás, você se acostuma com tudo...
— É mesmo assim... Mas é preciso compreender que também falta vontade daqueles que têm o poder de decisão... Há geralmente um afrouxamento na vontade, uma ineficácia na cobrança e na fiscalização... Pois não é algo íntimo, que nasce realmente nas profundezas da alma... A população do brejo até pensa, às vezes, que se incomoda... Só sentirá a gravidade quando acontecer uma greve de garis... Então, diante da montanha de lixo,  talvez compreenderá o real descaso com a mente — cidade.
— Quando eu era pequena, uma sapinha, um dia perguntei para a minha mãe: "Mãe! Por que o gari varre a rua?"...
— E obteve resposta?
— Sim, mas aquilo me incomodou... Não consegui assimilar de imediato a existência do gari... Até pensei na economia que seria para a Prefeitura, se não precisássemos da existência desse profissional... Mas aquela pergunta foi o suficiente...
— Não estou entendendo direito, Sapabela...
— Passei a ser a gari da minha casa e da minha calçada... E hoje a vizinhança até me julga meio maluca... Quando me vê varrendo a calçada... e a rua...
— Sabe o que aconteceu, Sapabela? A limpeza começou, nasceu em sua mente... Se a sua mente não precisar do gari, ela se estenderá pelas calçadas, pelas ruas, pelos rios e pelas praias...
— Então, quando andamos pelas praias repletas de sacos plásticos, garrafas, urina, latinhas...
— Estamos sim diante de mentes poluídas, sujas... que ainda não compreenderam que tudo começa nelas: a calçada, a rua, a praça, o parque, o rio, o mar...
— A mente então deveria ser mais pública do que é...
— A cidade deveria ser a extensão da sua casa... E a limpeza da sua casa deveria começar pela sua mente... Sapos e sapas realmente se cuidam, tomam banho, se embelezam, mas caminham em calçadas repletas de entulhos, papéis, sujeira... São contrastes ambulantes...


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 480
Marciano Vasques
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