sábado, 16 de abril de 2011

ÁGUAS PASSADAS...

— O passado não move moinhos... Ou seja, águas passadas não movem moinhos, isso é mais ou menos assim: chorar sobre as desgraças passadas é a melhor maneira de atrair outras.
— Isso é Shakespeare. Mas, vamos com calma, Sapabela. Veja que não é bem assim: às vezes, as águas passadas também movem moinhos.
— Ora, Rospo, o passado passou. Quem não notar isso, esquecerá de viver o presente. E só o presente tem sentido...
Tudo o que a humanidade dos sapos fez e faz e fará é pensando no presente...
E no futuro, que é a extensão do presente. O melhor presente para o presente é um futuro bom, melhor, mais justo, mas... Porém a humanidade dos sapos vive para o presente. Jamais vi alguém dizer que estava construindo algo para melhorar o passado.
— Sapabela, como está falante hoje! Mas, às vezes temos que melhorar o passado para desanuviar o nosso olhar para com relação ao presente e vislumbrar com mais clareza o futuro, o que significa, que águas passadas podem sim mover moinhos...
— Rospo, o que seria melhorar o passado?
— Seria articular um passado, organizá-lo em sua mente...
— O passado passou e nada podemos mudar sobre ele.
— Temos casos em que o passado deve ser deixado de lado, deve até ser removido, como se fosse um entulho, para que você possa seguir em frente, porém tem casos em que só corrigindo o passado podemos entrar em sintonia com o presente.
— Sei, alguém que maltratou alguém, precisa pagar por esse erro...
— De que forma isso pode ser feito, depende de cada caso, mas não podemos simplesmente ignorar o passado ou passar uma borracha... Assim é com a história dos sapos aqui no planeta. Quantos nativos foram massacrados! E a escravidão dos povos da África? ..., Quantas sapas foram violentadas e subjugadas e tiveram vidas e sonhos destruídos!... Então, às vezes, um pedido de perdão pode ser um laço, um elo com o arrependimento profundo e ao mesmo tempo um compromisso com a justiça no presente e no futuro... Pois só tem uma saída: seguir em frente, mas para isso é preciso limpar as imagens do retrovisor. Ele é pequeno no carro, e a imagem da frente necessita de uma visão mais ampla. Mas é necessário sim... Para você seguir em frente, às vezes necessita olhar para trás. E sem o retrovisor...
— E tem sapo dizendo que eu estou falante...
— Às vezes não conseguimos seguir em frente justamente pelo fato de o passado estar atrapalhando, mesmo que isso de imediato não nos pareça perceptível...
— Como estou ouvinte hoje...
— Mas, de qualquer forma, ele, o passado, não pode se tornar uma pedra pesada impedindo a caminhada no presente...
— Continuo a melhor ouvinte do brejo...
— E também quando você fez coisas tão boas no passado, verá que são as águas passadas que estão a mover os moinhos do presente..."Eu sou o que eu fiz, o que me  fiz", quer dizer: "Eu sou aquilo que eu fiz de mim, que eu fiz a mim mesmo"...
— A sapa falante continua ouvindo....
— Mas fale algo Sapabela.
— Então, o passado é mais importante do que eu pensava.
— Justamente. Não se trata de viver de passado, mas só conseguimos assistir a um filme que nos aquece a alma, se ele já foi feito, e jamais conseguiremos ler um livro que ainda será escrito...
— Entendi. Viva o presente intensamente, mas não despreze aquelas águas...

HISTORIAS DO ROSPO 2011 - 527
Marciano Vasques
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2 comentários:

  1. Amei, amigo! Seu blog é uma verdadeira escola. Parabéns!
    Abraço carinhoso,
    Maria Luiza

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  2. Querida amiga,
    Que alegria tê-la novamente aqui!
    Só posso agradecer e mandar um abraço forte de carinho e de amizade.
    Uma amizade que nasceu...
    Marciano Vasques

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