quarta-feira, 20 de abril de 2011

ENCONTROS

ENCONTROS

— “Aproveite, menina, e brinque bastante, pois a vida é um conto ligeiro, mais do que ligeiro, é um conto veloz! Na verdade é um cavalinho, que ao amanhecer você encontra num colorido carrossel em um parque de diversões. E enquanto vai crescendo, ao entardecer se transforma num indomável corcel a correr nos vendavais. Um dia, ao anoitecer, ele torna-se alado e desaparece nas nuvens”.
Essas foram as palavras da idosa que caminhava sobre a ardósia quando viu a menina agachada na calçada a brincar com seus brinquedos.
Quem é a senhora?
Sou aquela que vai cerzindo as tristezas, as alegrias, os sonhos, as esperanças...
O que é cerzir?
É costurar sem deixar marcas externas.
A senhora é uma costureira?
Uma cerzideira da aventura de viver. Do que está brincando?
De imaginação.
Como é essa brincadeira?
A gente voa numa asa delta, e vai voando, planando bem além dos quintais.
Asa delta?
Sim, nunca ouviu falar nas asas da imaginação? Hoje tudo é moderno.
Você tem um quintal?
Não. Moro num apartamento, ali, naquele prédio.
O que está fazendo agora?
Desenhando com carvão na calçada, não está vendo?
Quem é ele?
O terceiro personagem? Com uma perna só? É um alienígena, um visitante do espaço, veio de algum planeta distante, é um ser das estrelas.
Por que ele tem uma perna só?
Porque os meus dois bonecos são assim.
Um saci e um soldadinho de chumbo. São os caminhos da imaginação. Compreendo o seu alienígena.
Nem sei do que a senhora está falando.
Não tem importância. Adeus. Preciso buscar o regador.
— “Que maluca!” Pensou a menina, enquanto a mulher se afastava lentamente com uma rosa vagando em sua mente vagarosamente enquanto se lembrava da cantiga que falava de uma briga de amor debaixo de uma sacada.
— “Quantos anos eu tinha quando a ouvi pela primeira vez?”. Seu pensamento é interrompido pela menina, que a chama de volta.
Ei! O que a senhora quis dizer? Precisa me explicar, sou criança, lembra?
Está bem, minha querida. Certa vez um homem muito importante escreveu a história de um persistente soldadinho que só tinha uma perna. Apaixonou-se por uma bailarina de papel e, bem, conquistou o coração de cada criança...
Que imaginação!
É nela que reside o presente que é para sempre.
Que presente?
O “Era uma vez”.
Continue.
Um dia alguém olhou para dentro das florestas aqui no Brasil.
Sei, e viu o saci, também de uma perna só. Mas, o que tem a ver o meu alienígena, além da coincidência de serem, digamos assim, pernetas? O meus bonecos são eles, o soldadinho que a senhora falou, e um saci.
Então os homens olharam para as estrelas. Para o infinito. Aí um novo personagem surgiu, ao lado de fadas, bruxas, soldadinhos, sereias... Uma nova época veio se juntar ao universo da imaginação. Bem, preciso ir, tenho que regar a rosa e o cravo... E já está anoitecendo. Para mim, o corcel já tem asas...
Qual é o seu nome? Espere! Não se vá! Qual é o seu nome?

MARCIANO VASQUES

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