ENCONTROS
— “Aproveite, menina, e brinque bastante, pois a vida é um conto ligeiro, mais do que ligeiro, é um conto veloz! Na verdade é um cavalinho, que ao amanhecer você encontra num colorido carrossel em um parque de diversões. E enquanto vai crescendo, ao entardecer se transforma num indomável corcel a correr nos vendavais. Um dia, ao anoitecer, ele torna-se alado e desaparece nas nuvens”.
Essas foram as palavras da idosa que caminhava sobre a ardósia quando viu a menina agachada na calçada a brincar com seus brinquedos.
— Quem é a senhora?
— Sou aquela que vai cerzindo as tristezas, as alegrias, os sonhos, as esperanças...
— O que é cerzir?
— É costurar sem deixar marcas externas.
— A senhora é uma costureira?
— Uma cerzideira da aventura de viver. Do que está brincando?
— De imaginação.
— Como é essa brincadeira?
— A gente voa numa asa delta, e vai voando, planando bem além dos quintais.
— Asa delta?
— Sim, nunca ouviu falar nas asas da imaginação? Hoje tudo é moderno.
— Você tem um quintal?
— Não. Moro num apartamento, ali, naquele prédio.
— O que está fazendo agora?
— Desenhando com carvão na calçada, não está vendo?
— Quem é ele?
— O terceiro personagem? Com uma perna só? É um alienígena, um visitante do espaço, veio de algum planeta distante, é um ser das estrelas.
— Por que ele tem uma perna só?
— Porque os meus dois bonecos são assim.
— Um saci e um soldadinho de chumbo. São os caminhos da imaginação. Compreendo o seu alienígena.
— Nem sei do que a senhora está falando.
— Não tem importância. Adeus. Preciso buscar o regador.
— “Que maluca!” Pensou a menina, enquanto a mulher se afastava lentamente com uma rosa vagando em sua mente vagarosamente enquanto se lembrava da cantiga que falava de uma briga de amor debaixo de uma sacada.
— “Quantos anos eu tinha quando a ouvi pela primeira vez?”. Seu pensamento é interrompido pela menina, que a chama de volta.
— Ei! O que a senhora quis dizer? Precisa me explicar, sou criança, lembra?
— Está bem, minha querida. Certa vez um homem muito importante escreveu a história de um persistente soldadinho que só tinha uma perna. Apaixonou-se por uma bailarina de papel e, bem, conquistou o coração de cada criança...
— Que imaginação!
— É nela que reside o presente que é para sempre.
— Que presente?
— O “Era uma vez”.
— Continue.
— Um dia alguém olhou para dentro das florestas aqui no Brasil.
— Sei, e viu o saci, também de uma perna só. Mas, o que tem a ver o meu alienígena, além da coincidência de serem, digamos assim, pernetas? O meus bonecos são eles, o soldadinho que a senhora falou, e um saci.
— Então os homens olharam para as estrelas. Para o infinito. Aí um novo personagem surgiu, ao lado de fadas, bruxas, soldadinhos, sereias... Uma nova época veio se juntar ao universo da imaginação. Bem, preciso ir, tenho que regar a rosa e o cravo... E já está anoitecendo. Para mim, o corcel já tem asas...
— Qual é o seu nome? Espere! Não se vá! Qual é o seu nome?
MARCIANO VASQUES
"Era uma vez " opresente se eternuza...Lindo
ResponderExcluirLuz
Ana