sexta-feira, 8 de abril de 2011

INDENIZAÇÃO PARA O SAPO

— Vou pedir indenização, Sapabela.
— Que ótima notícia. Mas, por qual motivo?
— Não só eu, mas todos os sapos do brejo deveriam fazer isso.
— Uma indenização pelos estragos mentais, Rospo?
— Estragos mentais?
— É, a televisão, a...
— Não, Sapabela, é outro tipo de  indenização. Eu, como cidadão e contribuinte, e posso comprovar que pago impostos, jamais deveria ser lesado, expropriado, como fui...
— Do que está falando, Rospo?
— Não autorizei o uso do meu dinheiro para financiar nenhum escândalo, nenhum mensalão... Não autorizei  nem concordaria jamais. Isso foi o maior roubo de todos os tempos da República aqui do brejo...
— Hoje é sexta-feira, meu querido. Lembra? Sexta-feira, "Ninguém é de ninguém"... Sexta-feira, sorvete... Música... Cinema...
— Eu sei, Sapabela, mas nada disso me impede de ter consciência... Acontece que não tenho que ter complacência com esses sapos. Quem são eles? São poderosos? Mas o dinheiro público jamais poderia ter sido usado para financiar votos de políticos nem para guarnecer os cofres de partido algum...
— Entendo como se sente, Rospo, mas ninguém mais pensa nisso. Todo mundo está em outra... Você está ultrapassado... Precisa se atualizar. Isso já passou. Parece que não entende nada de memória popular... Mas pode pedir a sua indenização, que até creio que em meio século de judiciário você consegue.
— Ora, Sapabela, posso estar ultrapassado, mas sei que é preciso a todo custo manter a integridade sempre, e poder olhar nos olhos do sapinho e dizer que tal coisa aconteceu... Talvez nem estará nos livros didáticos do futuro... Mas... Aconteceu...E se a memória popular já esqueceu, eu não me esqueci que sou o Rospo.
— Vamos ao sorvete?
— Vamos! Que hoje é sexta-feira, e  o olhar  dos amantes  piscam como estrelas no firmamento, como a luz de esmeralda dos vaga-lumes num túnel.
— Rospo, vontade de abraçar, de girar, de dançar... Vamos dançar por aqui?
— Na calçada?
— Já sei, não estamos num Felinni... Mas estamos numa sexta-feira, que jamais será igual a qualquer outra que virá...Pois se não sabe, essa madrugada jamais se repetirá...
— Mas ainda estamos no começo da noite!...
— Mas toda noite carrega em si o germe da madrugada... E é nela que eu quero ser feliz...
— Muitos sapos já foram dormir..
— E muitos estão buscando o primeiro sorvete...


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 - 520

Marciano Vasques 
Leia CIANO

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