sábado, 9 de abril de 2011

O SAPO E O BULLYING

— Sofremos bullying diariamente...
— Nós também, Rospo? Não é algo que só adolescente sofre?
— As agressões que sofremos no cotidiano são a forma mais extremada e sutil de bullying...
— Quando uma palavra vira moda...
— Isso é verdade. Lembro das palavras que eram filhas da PUC... Elas surgiam no universo acadêmico e logo ganhavam a periferia. Mas agora, veja só, esse termo veio para ficar: bullying.
— Ninguém toca em mim, Rospo. Como pode dizer que sofro bullying?
— A alma também é alvo de violência, minha amiga. E ela sofre bullying no dia a dia...
— Fale um pouquinho sobre isso...
— O hipermercado que sente orgulho e seus preços elevados, o mau atendimento por alguns funcionários no serviço público, a insegurança e a desconfiança da polícia aqui do brejo, o próprio receio, isto é, temor de ser assaltado em cada esquina. A programação grotesca de alguns programas de auditório, a revelação pelas investigações da Polícia Federal aqui do brejo, de que realmente o mensalão existiu e foi financiado com dinheiro público, o fast food que não oferece alternativa de alimentos saudáveis, os impostos descabidos, o preço do pãozinho, os sapos jogando lixo nas calçadas, o...
— Pare, Rospo! Quer que eu sinta náusea?
— Está convencida, Sapabela?
— E tem outro tipo de bullying que causa hematomas, cicatrizes, ferimentos na alma, que fica arroxeada de dor...querendo descer o ralo da vida de tanta tristeza...
— Agora, fale você...
— As amizades falsas, o amor no qual confiávamos, o parente que nos engana, a fofoca, o tapete puxado no ambiente de trabalho, a mentira, a dissimulação geral, o discurso invadindo espaços e se impondo onde deveria haver apenas ação, a falta de compromisso da maioria com a Educação de nossos sapinhos... O namorado que nem olha em seus olhos, o sapo que diz por dizer, a pressa, a sempre monstruosa pressa...
— Sapabela, só tem uma forma de proteção...
— Qual, Rospo?
— Autenticidade sempre, integridade, sinceridade nos olhos...
—Sinceridade nos olhos? Isso é bom demais da conta, mais que água de coco...
— Mais que a água transparente que jorra no pranto dos olhos embotados de poesia e amor...
— Serei sempre sincera, eis o meu juramento para a ventania...
— Isso sapabela. Se todos compreendessem que a vida é tão curta, todos seriam por demais sinceros... Pois nada representa mais perda de tempo do que a falsidade...
— Perda de vida, quis você dizer...
— Pois vamos então nos proteger... Seremos raros e unidos em nosso ideal de vencer o bullying invisível que corrói o melhor da alma de cada um.
— Doa a quem doer, sinceridade sempre!

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 522
Marciano Vasques
Leia CIANO

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