sexta-feira, 29 de abril de 2011

O VENDEDOR DE AFETOS

— Sapabela, decidi me tornar comerciante, empresário...
— Você, Rospo? Não me faça rir, ou melhor, faça, e essa ideia, inusitada, exótica, e impossível, só me fará rir. O que venderá? A sua coleção de gibis da infância? Diga, meu amigo, confesso-me curiosa...
— Decidi pôr no mercado um artigo um pouco raro... Algo que sinto que anda em falta... Percebo isso na escassez de abraços, no excesso de pressa e de falta de atenção...
— O que você vai afinal vender, meu amigo?
— Afeto.
— Não disse? Você não tem vocação para empresário. Vai à falência. Escolheu um produto que irá falir você... Afeto? Ora, é muito engraçado, é muito divertido. Não consigo parar de rir, vou gargalhar três dias sem parar... Não posso parar. Eu não consigo parar de rir, Rospo. KKKKKKKKKKKKK
— Você também ri assim?
— KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
— Sapabela, pare com isso! Que ridículo! Parece risada de Internet!
— Não posso, Rospo! É muito engraçado! Vou rolar no chão, de tanto rir...
— Rolar no chão? Isso eu gostei. Com esse vestidinho...
— KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
— Pronto. A história não tem mais argumento. Chega de rir, Sapabela.
— Sabe o que é, Rospo?
— Diga.
—  KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
— Estou perdido.
— Falência antes de começar...
— Ora, Sapabela...
— O que você vai pedir? Concordata?
— Eu nem sei o que é isso...
— Existe cultura na economia, meu amigo...
— Sapabela, você está exagerando...
— Ora, Rospo, você vai vender artigo de luxo? Afeto? KKKKKKKKKKKKKKKKKK
— Começou outra vez.
— É muito engraçado, Rospo.
— Só se for para você. A comunidade do brejo anda carente de afeto. Vai fazer o maior sucesso...
—Ora, Rospo, se for vender enlatado, faça promoções. Ofereça de brinde o abridor, compre uma lata e ganhe dez...
— Você está desmoralizando o meu negócio antes de ele começar...
— Afeto? Ninguém vai comprar, o pessoal, a maioria, não quer nem de graça...
— Sapabela, como você me incentiva...
— É que achei muito engraçado. Um sapo inaugura um armazém de afetos... KKKKKKKKKKKKKKKKKKK
— Sapabela, vamos tomar uma garapa, bem gelada? Já pensou: um caldo de cana e uma caminhada na calçada...
— Viu só, Rospo? É de graça, está disponível, e você vai querer vender? Para com isso. Quem quiser afeto é só aprumar o coração, erguer os olhos, abrir os braços... Tudo é tão simples... Você por acaso pensou que iria ficar rico? Pensou que formaria uma rede? Que se tornaria um empresário pioneiro? Ora, Rospo, que ideia mais estaparfúdia! Afeto está por aí, em todos os cantos e recantos. Quem quiser é só se deixar levar.
— Eu sei, Sapabela, afeto não dói. É que eu pensei que estivesse em falta e...
— Não está em falta, Rospo. Os sapos é que não prestam atenção nem querem... Posso mais um pouquinho?
— Um pouqinho do quê?
— KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
— Ridículo. Mas, vamos ao nosso caldo de cana, que afinal, neste sábado, uma sapabela ao meu lado é a melhor forma de cumprimentar o sol...
— Hoje é sexta, Rospo.
— É que já sinto pairar no ar o sábado...
— Sei, o afeto do sol, do vento, do azul, da claridade do dia...

 HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 556
Marciano Vasques
Leia CIANO

3 comentários:

  1. KKKKKKKKKKKKKKKKKKK Eu concordo com a Sapabela não precisa vender, basta visitar a Casa Azul "aprumar o coração,erguer os olhos, abrir os braços" eis o afeto.
    Luz

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  2. Marciano, costumo escrever minhas, digamos, memórias, Da Cadeirinha de Arruar, que fica instalada debaixo de um caramanchão,sob a sombra de uma frondossa mangueira, no "Solar do Benfica", minha morada....
    Pois bem, avistei a "CASA AZUL DA LITERATURA", alhures, vim espreitar e, simplesmente, estou ENCATADÍSSIMA...
    Vou entrar, nesta linda casa azul, e ficar de vez.

    Um abraço,
    Lúcia

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