domingo, 29 de maio de 2011

ANDANDO NA LINHA

Sapabela passeia de domingo quando avista o velho amigo.
— O que está fazendo, Rospo, olhando para o alto?
— Tentando localizar um amigo meu que foi para o espaço...
— Já sei, a namorada dele cansou.
— Como soube?
— Intuição. Uma coisa que só as sapas têm. Por viverem num mundo opressivo para elas, desenvolveram essa habilidade, isso é um sentido que você só encontra nas fêmeas. Ficou com inveja?
— Ora, Sapabela. Deixe de zombar de mim...
— Você nunca fez isso com ninguém, não é, Rospo? Nem com o seu amigo que foi para o espaço?
— É brincadeira sem maldade...
— Tenho uma intuição de que seja, mas, quando eu tiver um namorado, ele terá que andar na linha.
— Andar na linha? Walk the Line? Adoro!
— Eu também gosto de Johnny Cash...
— Como você é esperta!...
— Para uma sapa?
— Não! Justamente por ser uma sapa.
— Mesmo quando desliza você alisa o meu ego...
— Quando somos meninos pensamos cada coisa! Eu, quando era um sapinho, queria subir pela linha da pipa e chegar ao azul e às nuvens... Sempre me imaginei andando na linha e quando chegava na pandorga...eu era o rei, o rei do maior azul... Uma vez num entardecer de verde oliva lá estava eu de braços abertos e a pandorga me levava na viagem da valsa do vento...
— Rospo, você me faz muito feliz com a sua amizade... Mas agora me diga, eu estou bem de domingo?
— Está linda! Seu vestidinho é a coisa mais lilás que já vi...
— Sempre começa pelo vestidinho...
— Mas eu vou andando na linha e chego aos brincos.... Ao batom...
— Você não toma jeito, meu querido.


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 592
Marciano Vasques

Leia em CIANO

Um comentário:

  1. Adoro ler estas magnificas histórias de uma simplicidade extrema...a musica a condizer, excelente!!
    Tenha uma boa noite.
    oa.s

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