quarta-feira, 4 de maio de 2011

CONVERSANDO NA CALÇADA

— Rospo, entrei num site de relacionamento...
— O Orkut?
— Não. O outro.
— E então?
— Reparei que as pessoas adicionam e adicionam e adicionam amigos...
— Interessante.
— Sempre escrevo algumas mensagens, poucas palavras...
— É assim que tem que ser... Poucas palavras...
— Mas não consigo manter uma conversa regular...
— Conversa?
— Sim, como aqui, na vida real...
— KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
— Não acredito, Rospo. Até você? Essa risada é ridícula.
— Não, Sapabela, a risada não é ridícula, mas sim a sua representação...
— Mas não é motivo para rir. Queria mesmo encontrar alguém entre todos os adicionados, para manter uma conversa regular...
— Sempre admirei você, Sapabela.
— Por que, Rospo?
— Você é pretensiosa, sonhadora, persistente, altruísta, gosta de ilusões...
— Não sou tudo isso, meu amigo...
— Sapabela, se quiser uma conversa venha aqui, onde as amizades florescem, aqui, em nosso mundo real, de garapa e céu azul, de andanças, de calçadas, de chuvas e solares. Venha sim, estarei sempre aqui... Desde aquela tarde inesquecível em que você, num encontro casual, me adicionou em sua vida para uma amizade rara e duradoura...
— O encontro não foi tão casual assim. Eu estava no Largo São Francisco, desci uma alameda e você foi por outra rua e para a minha surpresa estava lá na ponta. Pensei: "Tenho a impressão de que vi esse sapo há pouco tempo."
— Eu disse alô.
— Eu nem liguei. E você reapareceu lá no Largo São Bento. Não sei como foi tão ligeiro. Naquele dia eu quis caminhar pela cidade, sentir a saudade de quando isso era mais romântico e menos perigoso...
— Coincidência. Eu também estava caminhando...
— Eu sei, reapareceu lá na galeria da 24 de Maio.
— É porque não me viu lá no Largo Paiçandu.
— E veio novamente com aquele "Oi" bobinho... E eu segui em frente, atravessei a Ipiranga. Tomei um sorvete na Praça...
— Naquele momento jurei que era o último sorvete que você tomaria sozinha.
— Sei que estava na Consolação em frente à biblioteca Mário de Andrade...
— O patrono da cidade...
— E lá surgiu você, sentando na escada lendo um livro... Aí foi difícil escapar... E lá veio aquele "Oi"... Eu respondi  e você veio com aquele papinho de Sapo no ócio, repleto de coisas pra dizer...
— Perguntei se queria tomar um novo sorvete...
— Só então me dei conta de que estava me seguindo...
— Seguindo não! Organizando o encontro casual... Emagreci um quilo de tanto andar ligeiro...
— Rospo, inventamos o nosso primeiro encontro. Ele não foi bem assim... Mas, que conversa imaginosa...
— Pois é, é tão bom conversar, basta um sapo e uma sapa se encontrarem casualmente numa calçada... Às vezes basta apenas um olhar para adicionar.
— E o que faço no site de relacionamento?
— Vai levando, vai levando. Afinal, não pode mesmo ficar de fora...Tem que participar do espírito da época...
— Mas com um pé fincado na calçada, não é?
— Todas as calçadas do mundo, Sapabela... Vamos a um sorvete?
— Só se for agora.

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 561
Marciano Vasques

Leia CIANO

Um comentário:

  1. Bem, Estou na "Calçada do mundo" e adoro ouvir a conversa do Rospo e a Sapabela
    Luz

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