quinta-feira, 5 de maio de 2011

O SAPO E OS GAMES VIOLENTOS

Passeava pela calçada quando viu pela vidraça o seu amigo numa loja de games. Entrou, claro.
— Rospo! O que faz por aqui? Pelo que me consta, não suporta os games...
— Mas sou o eterno curioso, Sapabela.
— E qual é a curiosidade agora, Rospo?
— Preciso sempre estar atualizado, sempre sintonizado, nada além disso. Por isso ando lendo os cadernos de informática dos jornais, por isso estou aqui...
— Quer ver os novos lançamento de games, Rospo?
— Exatamente.
— Mas está diante da estante de games violentos...
— Por isso mesmo, quero ver se lançaram o game do atirador do colégio do Rio...
— Que loucura, Rospo! Por que fariam isso? Por quê?
— Ora, Sapabela, pelo que estou vendo, nada entende da lógica dos games violentos...
— E nem quero, Rospo!
— Mas veja só, Sapabela. Eles , os games violentos, nasceram a partir da realidade, foi a realidade que forneceu a concepção, a ideia para cada um deles. Ou seja, primeiro tem que acontecer na realidade: é um atirador, é alguém que atropelou vários jovens, e assim por diante. Sendo assim, a ficção que nasce a partir de algum exemplo ocorrido na vida real, leva os usuários dos games violentos a introjetarem em sua alma, em sua consciência, o gosto pela coisa, e é possível que depois o cerébro venha a estar predisposto a alguma ação maluca...
— Nesse caso, se um usuário de games violentos sair por aí atirando, deveria ter uma pena mais branda, não é? Pois poderia ser clinicamente provado que ele estaria sugestionado pelos games... E nesse caso, o cérebro agiria movido por um processo químico que o levaria aos atos de brutalidade...
— Pois é, Sapabela, é justamente um ciclo. A realidade forja a "imaginação!" do game violento, e o game carrega em si a possibilidade de levar o usuário para as ruas, disposto, mesmo que não de forma cognitiva, ou seja, mesmo que não de forma autônoma, poderíamos assim dizer, e ele iria disposto a realizar alguma atrocidade, alguma diversão mórbida...
— É terrível, não é, Rospo? Aquele personagem do Machado de Assis, o Alienista, teria um prato cheio em nossa sociedade...
— E o Erasmo de Rotterdam teria material de sobra para escrever um novo "O Elogio da Loucura"...
— Bem, vamos sair daqui? Ali na esquina tem uma sorveteria. Vamos tomar um sorvete?
— É por isso que eu sempre digo, Sapabela: Numa esquina você pode encontrar a lucidez.


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 565
Marciano Vasques
Leia CIANO

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