sexta-feira, 15 de julho de 2011

APRIMORANDO

—Aprimora a primeira.
—Do que está falando, Rospo?
—Aprimora a primeira.
—Parece primário ficar repetindo.
—Mas, pode ser um primor.
—Tudo bem, mas diga então, o que quis dizer com "Aprimora a primeira"?
—Se fizer isso, logo estará seguindo a segunda.
—Agora piorou. Você fala essas coisas, eu só penso que deve estar pensando em...
—Sapabela, veja só. Se você aprimora a sua primeira obra literária, estará pronto para a segunda.
—Nem imaginava que tinha algo a ver com literatura.
—Aprimorar é o verbo principal da literatura.
—Entendi. Aprimorar é como gostar de amora.
—Amora? Você me trouxe as lembranças de meus dias de garupa e garapa...
—Entendi, rabeira de caminhão e caldo de cana. Você foi um menino bem feliz.
—Sim, no meu tempo de sapinho a rua era da criança.
—Entendi, depois a canoa virou de verdade.
—É, hoje as crianças estão confinadas, apartamentadas.
—Mas, o que estava mesmo dizendo? Fale, que estou aprimorando os ouvidos.
—Se numa primeira conversa com alguém, você aprimora a atenção, creio que terá sempre esse alguém para conversar...
—Então não é só literatura?
—Quem disse? É só literatura sim. Quem disse que não?


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 639
Marciano Vasques

2 comentários:

  1. Que legal sua postagem Marciano, visite o meu blog tem coisa nova.

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  2. " Aprimorar é o verbo principal da literatura"
    Rospo aprimora tudo que fala, faz as palavras criarem vida. Fico encantada com isso!
    Luz
    Ana

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