sexta-feira, 29 de julho de 2011

O COLETOR DE LIXO

O COLETOR DE LIXO


—Sapabela! Arrumei uma nova ocupação.
—Que interessante novidade, Rospo! Qual é a sua nova atividade?
—Dou uma dica: recolho pensamentos negativos e feios e tristes, e dizeres inócuos ou venenosos, e os elimino.
—Mas uma dica, Rospo, mais uma.
—Fofocas e temores infundados.
—Mais um.
—Perda de tempo, covardia.
—Que mais?
—Nossa, Sapabela! Está tão difícil assim?
—Só mais uma dica.
—Traições, mentiras, falsidades, palavras infrutíferas, descasos, marasmo...
—Estou chegando lá. Só mais uma, a última.
—Agressões, abandonos, verbos sujos de maldades, palavras e amizades sem abraços, sem laços, amizades estéreis...
—Está bem, Rospo, vou arriscar. A sua nova ocupação é Coletor de lixo. Acertei?
—Em cheio, Sapabela, em cheio.
—Mas tem umas coisas aí, que podem ser recicladas, quer dizer, alguns lixos podem ser reaproveitados.
—Sim, é verdade. Nem tudo que eu recolher deverá ser eliminado. Por exemplo, amizades sem abraços não são necessariamente lixo, nem de longe. Então, quando eu promover a varredura nos porões mentais, certamente uma amizade sem abraço deverá ser preservada para que nela seja cultivada a necessidade...
—Que necessidade?
—Os abraços, ora! Quando um sapo sente necessidade de abraço, acredite, ele evoluiu mais um degrau.
—Rospo, parabéns pela seu novo ofício. Posso dar uma dica?
—Naturalmente, eu dei um montão.
—Pegue o que encontrar de lixo nos relacionamentos do cotidiano e até o que apenas aparentar ser, por causa da suposta improdutividade e transforme isso tudo em literatura, meu amigo.
—Este é o segredo, esta é a mágica, Sapabela.

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011
História nº647
Marciano Vasques

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