sábado, 9 de julho de 2011

QUANDO SE CONVERSA

Sapabela e seu amigo caminham no invertono do brejo. Luzes acanhadas borboleteiam, e como é sábado, a noite é pétala azul espreitando no firmamento. Alguns sapos em danceterias, outros em barzinhos, alguns no shopping, outros só assim passeando, dando linha ao carretel da imaginação. A felicidade, quem diria, é o respeito, é o querer bem ao outro. A felicidade? É a amizade, é o amor, são os convites  que o sábado despeja na alma em forma de sentimentos.
—Sapabela! Preciso falar algo.
—Rospo, meu querido, essa é a melhor precisão do mundo. E pensar que alguns estão perdendo essa noite lisa de frio e luzes que despencam dos vitrais e dos neóns.
—Por que estariam alguns perdendo?
—Ora, estão em casa, no Facebook, internetizando a vida, alguns em sofás diante da tela azulada.
—Mas estão glorificando as suas constelações. Onde tiver um coração pulsante, as estrelas são cachos de luzes...
—Eu sei, Rospo, e até conversas saborosas podem brotar.
—E saborosa pode nem ser uma figura de linguagem, na verdade, alguém sempre tem a ideia de um doce, uma comida gostosa para acompanhar as palavras.
—Adoro conversar, meu amigo.
—Todo mundo sabe disso, Sapabela. Aliás, conversar é o investimento mais barato de todos para se crescer, se ampliar, se estender por esse mundo de universos...
—É verdade: ler um livro, ouvir uma canção, ir ao teatro... Tudo é importante, mas só a conversa tem o aconchego...
—A conversa é o vinho em si.
—Mas queria falar algo sobre ela, a conversa.
—Diga, que a conversa aceita uma metalinguagem.
—Pois é...
—Esse "pois é" é meu, Sapabela.
—Está bem, é que quando os sapos são amigos a linguagem vai se tornando uma só.
—Entendi. Nas conversas, claro. Pois nós somos feitos de múltiplas linguagens, mas o que você quer afinal dizer sobre a conversa, meu bem?
—Por isso adoro o sábado à noite.
—Como disse?
—Nada, o que eu quero falar sobre a conversa é o seguinte:
Quando o sentimento se esvazia e só o cérebro funciona, os gestos e as conversas se robotizam. 
—É verdade, sem o sentimento, ou com o sentimento murcho, as conversas se robotizam.
—Isso acontece aos montes, no cotidiano. O sentimento se vai, e fica a sensação de "Já fui". Os assuntos são desassuntados, o vazio ergue o seu efifício, que na verdade é apenas o muro da apatia, e por tabela, da hipocrisia.
—Por isso vivo a dizer: conversar, versar, ou seja, quando é com versa o versejar nasce espontaneamente. Não há ilusões, só há uma fonte de palavras que se direcionam ao eixo da amizade, que é o coração. Mas quando o sentimento se vai, a primeira a se robotizar é a conversa. O resto se desbota a granel.

 HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 633
Marciano Vasques


Leia CIANO
http://cianomar.blogspot.com/
Leia PALAVRA FIANDEIRA
acessa.me/palavra_fiandeira
Conheça o SERAFIN DE POETAS
http://www.serafindepoetas.blogspot.com/

5 comentários:

  1. Quando se conversa as estrelas são cachos de luzes, especialmente com amigos queridos..
    Luz
    Ana

    ResponderExcluir
  2. Ás vezes tenho a impressão de que você está lá, naquelas noites a passear com o Rospo e a Sapabela. E agora, veja, nem eu havia colorido as letras e você já transmitiu um comentário, ou seja, você está sempre lá, talvez as estrelas, um raio enluarado, enfim, nas histórias as pistas vão identificando. Obrigado pelo comentário, minha amiga.
    Marciano Vasques

    ResponderExcluir
  3. Parabens pela converación de Rospo e Sapabella a la luz de las estrellas.
    Moito obrigada pelos seus comentarios a minho blog.
    Beijos, Montserrat

    ResponderExcluir
  4. Seu blog é apaixonante, Montserrat,
    E nesses quinze dias que terei férias, apenas quinze dias, vou poder ler com mais tempo os blogs amigos.
    Um beijo,
    Marciano Vasques

    ResponderExcluir
  5. A conversa recicla o ponto de vista e faz com que vejamos o outro. Um abraço, Yayá.

    ResponderExcluir

Pesquisar neste blog