CORONÉIS E SUAS MULHERES

CORONÉIS E SUAS MULHERES

Recentemente, conversando com uma atendente de uma biblioteca do Shopping Penha, disse-me ela que seu namorado a proibiu de ter o Facebook.

Preciso repetir. Seu namorado a proibiu de ter o Facebook.

Palmas para o idiota.

Também hoje tomo conhecimento de que a minha amiga saiu do Face, por ter seu marido, um machista terrível, proibido. Ele a proibiu de ter um Facebook, de estar numa rede, e ela acatou. As mulheres acatam.

Não sei bem como é ser mulher nesse requisito de obedecer ao homem. Ela é bancária, trabalha, tem até a sua independência financeira, mas o seu homem, o seu macho, pois isso não é companheiro, é apenas macho, da pior espécie, naturalmente... É difícil compreender como é possível que em pleno século XXI, um marido, um homem, possa proibir a sua mulher de ter um Facebook. E que ela abaixe a cabeça e aceite.

Naturalmente que isso é uma aberração caseira, é um domínio que só revela algo: insegurança. Na verdade, poderão dizer: Homem xarope é o que mais tem no mundo. Correto, mas que esse machismo é falta de segurança, isso é, e assim se arrasta pelos séculos e séculos amém.

Um homem proibiu a sua mulher de ter um Facebook. Um namorado, preparando para ser esse tipo de marido, também proibiu a sua moça de ter um. Tal imbecilidade deveria ser manchete na capa do Estadão, da Folha e de outros jornais do Brasil.

O que significa isso? Eu a conheço, conheço o Facebook dela, da minha amiga casada, é tão como tantos e tantos. Não há maldade ali, só vontade de se comunicar e angariar amigos, expandir o seu próprio universo, mas vem ele, o ceifador, vem ele, o poderoso, vem ele, o jurássico , o imbecil, o frágil, vem ele e assim boicota, amputa o inalienável direito da sua companheira, que é o direito à liberdade, à independência., intelectual. Eu não conseguiria, se mulher fosse, eu não conseguiria deitar ao lado de um homem que me proibisse de algo assim tão bonito, que é ter um Facebook. Aliás, que me proibisse de qualquer coisa. Creio deve ter coronéis em todos os lugares.

Tudo bem, que o coronel continue existindo. A internet não extirpou a ignorância, não varreu da convivência humana a arrogância, a superstição ..., o Facebook não modificou substancialmente algumas pessoas, isso em nível geral.

Tanto vale para o sujeito que solicita a sua amizade, mas ele não quer nada disso. Ele é um poeta, e vai compartilhar os poemas dele no seu Facebook. Ele não está nem aí com você, porque você não é nada, é apenas mais um ponto onde ele poderá divulgar os seus poemas. Teria tantos outros exemplos para comprovar que o Facebook não mudou certas pessoas, mas não vale a pena eu me desgastar com isso.

O que me entristeceu de fato hoje é justamente isso: uma moça, e agora, uma mulher, uma colega e amiga, teve que sair do seu Facebook, por causa dos seus homens.

No caso das duas, são independentes financeiramente. Esse é o primeiro passo para a verdadeira liberdade. Então se são assim violentadas, pois isso é uma violência de primeiro grau, alguém proibir alguém de ter um Facebook, se são, pois, violentadas, por que não deixam esses homens? Será que não sabem que o que mais tem no mundo são homens que poderiam ser companheiros para valer, companheiros de confiança, de amizade, de amor.

É o amor, elas são apaixonadas, diriam. Pois bem. Que amor é esse?

Até hoje não me esqueci da moça que sempre ia visitar o namorado que estava preso, e fazia isso por amor, um grande amor. Ele? Ele estuprara, violentara uma menininha, uma menor. Bem, mas a moça o ama, Então, viva o amor.

E assim é com a minha colega e amiga. Ela ama o seu dono, o dono da sua consciência, da sua liberdade. O seu senhor.

Não há doçura num engenho.

MARCIANO VASQUES