SAPABELA LIGANDO

Rospo atende:
—Sapabela! Que alegria você ligar!
—Ligar faz a diferença, Rospo!
—Verdade, nega. Tudo que realmente importa é repleto de ligações.
—O que são os neurônios? Uma rede de ligações. O próprio universo em sua sincronia: feixe de astros que descrevem harmoniosas órbitas. 

—Fico mesmo feliz, Sapabela. Ligue sempre. E quando acontecer de ficar brava ou triste.
—Eu nem ligo.
—Não?
—Quero dizer que nem ligo para essas coisas de braveza, tristeza. Eu quero é me levar. Estou no fluxo dos rios, dos risos, e misturo tudo: rosas, rezas, risos. Como sabe, nada rasa é a minha alma.
—Eu sei, sapinha. Ela é tão imensa que a sopro numa bola de sabão...
—Mas é uma bola de sabão que leva o arco-íris acima das cordilheiras.
—Minha linda, cada vez que você ligar, eu serei feliz.
—Ligar é importante em todos os sentidos, aspectos e detalhes.
—Só um exemplo, miudinho que seja...
—Ligar para o outro, que está ao lado. Ligar para o sapo que nos acompanha de verdade, não me refiro a nenhuma convenção social. Como já disse alguém: o que mais tem é pai que nunca recolheu o sorriso da própria filha, é marido que nunca reparou no úmido brilho do olhar da companheira... O que mais tem é...
—Entendi. Você se refere a ligar mesmo. Você liga para o outro, mas liga de verdade. O outro clama ligações. Se elas não acontecerem, nada valeu de verdade.
Sapabela, você hoje está incrível! Além de ligar, está me ligando...
—O pacote da minha amizade inclui tudo: o sorriso, as palavras, as ligações... Nada é pura oferta. Tudo está inserido no pacote. Tudo é principal...
—Adoro essa palavra.
—Eu também. Ela vem de príncipe, essa vastidão de virtudes, que na literatura se preserva...
—O príncipe jamais será em vão, entende?
—Claro, Rospo. Mas como uma coisa leva à outra, já que liguei, vamos estabelecer a ligação com um sorvete.
—Ótimo! Que horas virá?
—Já estou indo!
—A velocidade das ligações é impressionante.
—O que disse?
—Que já estou esperando. Aliás, Sapabela, tem uma sorveteria joia aqui perto.
—Se fosse longe até seria melhor.
—Por que, minha amiga?
—Quanto mais caminhada, mais conversa...


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 676
Marciano Vasques