segunda-feira, 24 de outubro de 2011

CONVERSA DE ABRIR A SEMANA

—Rospo!
—Sapabela! Que saudades! Por onde andava?
—Acompanhando um barco...
—Como assim?
—Nada, meu querido. E você? Como está?
—Feliz!
—Algum aborrecimento, Rospo?
—Não. Sei até que alguns colegas de profissão ficam aborrecidos com isso, mas nem tive tempo para me aborrecer. Ando ocupado em ser feliz.
—Compreendo. E além do mais, aborrecimento enjoa, não é?
—Aborrecimento na verdade, é aburrocimento.
—Que coisa é essa?
—Burrice, Sapabela. O sapo permanecer aborrecido nem me parece um sinal de inteligência.
—Mas tem coisas que aborrecem mesmo.
—Eu sei, Sapabela, eu sei. Mas o interessante mesmo é ficar aborrecido ao saber do motivo aborrecente, e depois, logo em seguida, partir para outra, entrar de vez na alegria. Assim devemos ser. E você?
 Como vai você?
—Antonio Marcos...
—O que disse?
—Nada, lembrei de uma canção.
—Sapabela, preciso dizer algo importante, muito importante.
—O que será de tão importante assim, meu caro amigo?
—O seu vestidinho...
—O que tem ele?
—É lindo! Já era antes, mas agora em você, a beleza dele foi ampliada.
—Isso era tão importanre assim de se dizer, Rospo?
—Sabe que sim, Sapabela.
—Sei, Rospo! Hoje compreendo com clareza isso. Elogiar um amigo, apontar um detalhe no outro, ser gentil, levar em seu coração a cortesia, são deveras coisas tão importantes quanto estar atento contra todas as formas de injustiça, e de prontidão para se indignar contra a corrupção e os desvios de dinheiro público.
—Sim, somos um universo, uma globalização de sentimentos, e sendo assim, tudo se reveste de importância. Não podemos deixar de lado um só átimo do nosso Ser, e ele se manifesta no que queremos, e eu, quero sim...
—O que você quer, Rospo?
—Quero que a arrogância seja varrida do mundo, que os opressores sejam soterrados pelo desprezo dos sapos que ajudam a melhorar o mundo, quero tudo que acontece ao mesmo instante, agora e aqui e nos mais distantes lugares. Sei que chove e alguém bebe a jovialidade e a clareza que a chuva traz, e também faz Sol, e o Sol rejuvenesce e fortalece as flores do mundo. Quero tudo, e quero agradecer aos meus olhos por terem a chance de ver o seu vestidinho.
—Bravo! Mas sei que somos mesmo um conjunto em harmonia. De que adianta dar todo amor ao seu filho se mantém a indiferença diante da criança abandonada? E sei que tudo se reveste da mesma importância quando habita o coração. Mas só seremos completos ao ver as coisas todas que acontecem ao mesmo tempo de nossas vidas. Se vislumbrasse o meu vestidinho, mas ignorasse ou desprezasse os que vivem na aflição diante das injustiças, você seria um sapo incompleto.
—Sapabela, aplaudo! Mas não vai falar nada de mim? Nenhum elogio?
—Está querendo, não é, Rospo? Pensou que me esqueceria? Pois saiba que amo as camisas azuis que você usa. E até os grisalhos que estou vendo nos seus cabelos que rareiam.
—Tudo bem, Sapabela, mas não precisa ser tão específica. Meus cabelos estão cada vez mais viçosos e vigorosos. Fiquei feliz ao saber que gosta de minhas camisas azuis.
—Sapo é bobo. Por acaso, precisa fingir que não sabia?


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 —  694

Marciano Vasques


6 comentários:

  1. De encantar, como sempre...

    abraço e boa semana Marciano.
    oa.s

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  2. ¡Oh! mis hermoso amiguitos Sapabela y Rospo, sois un encanto porque os preocupáis por las injusticias, que hay en este mundo.
    Beijos, moitos beijos desde Valencia, Montserrat

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  4. Marciano, por favor, publique o que escrevi anteriormente, é com muita sinceridade. Érrei muito, mas aprendi, não posso perdê-la. Volta a dizer, AMO A SAPABELA.

    Muito obrigado,

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  5. Tudo se reveste da mesma importâcia quando habita o coração"Esses dois sepre falamm ao coração..
    Luz
    Ana

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  6. Aí, aí...Rospito, Rospito...vc me encanta...
    Se no brejo em que vivo as pessoas ouvissem os conselhos destes sapinhos...ah, o mundo seria bem melhor!

    bjão...

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