sábado, 1 de outubro de 2011

CONVERSA DE PADARIA

—Rospo!
—Sapabela! Que linda! Tudo, o vestidinho, os brincos... Aonde vai?
—Padaria, Rospo. Amanheceu o sábado, e ir à padaria é uma bela forma de começá-lo. E obrigado pelos elogios. Amigos elogiando primaverizam mais o sábado. E você?
—Estou por aí, destoando.
—Do que destoa, amigo?
—Da arrogância...
—Anda muito preocupado com esse assunto nos últimos dias, o que está acontecendo?
—É que verifiquei que tem muita arrogância por aí...
—Rospo, padaria não tem garapa, mas vamos num café com leite?
—Tem tempo, Sapabela?
—Olhe, meu caro Rospo, "Perguntei ao tempo quanto tempo o tempo tem", e ele me respondeu que tem todo o tempo que o mundo tem no exato momento em que o tempo se eterniza, então, tenho, uai...
—Que bonitinha!
—Pare que me encabulo.
—Nessa timidez charmosa já estou embarcando. Vamos ao nosso pingado...
—Pingado?
—Uma sapa carioca, muito tempo atrás, pela primeira vez por aqui, pediu um pingado e o balconista riu, não sabia dos dizeres lá do Rio...
—Que lembrança, Rospo! Mas, vamos ao nosso papo, que a alegria já pulsa com toda a sua delicadeza...
—Está inspirada hoje, Sapabela. Pois bem, toda arrogância incomoda, mas a arrogância intelectual é a mais grave, pois ela desarticula a atenção. Mesmo que os dizeres sejam absolutos e necessários, se tiverem como partilha a arrogância, algo se perde, se desfaz...
—Mas o encanto da palavra deveria estar acima de tudo...
—E está, Sapabela, mas se o sapo for arrogante, a palavra fica meio ferida e isso pode nublar o prazer da audição. Arrogância jamais. Destoar sempre!
—Muito bem, Rospo, você destoa, eu também, mas o que faz quando está diante de um arrogante?
—Eu? Eu passo, sigo em frente, e lá vou, numa boa, vou por aí, que a cidade é uma festa de se ver, e lá vou, a toa. Naquele estilo, ao léu...
—Rospo, o café com leite é tudo, quando se tem um amigo.
—Obrigado, Sapabela, mas eu gostaria de poder mesmo filtrar, quer dizer, expôr nitidamente as arrogâncias do mundo intelectual...
—Não faça isso, amigo. Fique só na sua, assim, passando e assoviando e cantarolando as doces canções... Quando se der conta, vai ter um monte de artistas e sapos amigos caminhando com você nessas ruas de paralelepípedos, sapos felizes, uma caravana ambulante, como se fossem bêbados rasgando luzes...
—Sapabela, essas vontades oníricas me enchem o coração de paz... Penso sim que você está certa, quem sabe um dia, por essas ruas haverá uma festa imensa, um ciranda colorida, de sapos felizes, e lá, no meio de todos, ele, o Arzelindo, aquele palhacinho que eu tanto estimo...
—Rospo, obrigado.
—Do que me agradece, Sapabela?
—Tem sapos que colecionam coisas, que são também importantes, mas eu tenho um valioso tesouro. A sua amizade.
—Sapabela, compre seu pão, e lá perto daquele parque de diversões tem garapa. Se quiser, à tarde.
—Já estou nessa garupa, Rospo. Nos veremos lá. Antes, tenho um monte de coisas para fazer, mas irei sim.
—Você é tão decidida para aceitar esses convites...
—Bobão. Pensa que esses convites nascem apenas em você?


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 686



MARCIANO VASQUES

4 comentários:

  1. Hola amiguitos:
    Voy siguiendo vuestras interesantes conversaciones.
    Beijos desde valencia, Montserrat

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  2. Um bem valioso, sem duvida - a Amizade, mas verdadeira, não a arrogante ou interesseira, a simples, modesta, aquela que festeja na rua com cores, sorrisos, solidária, simples, que aceita defeito alheio, que dá ombro amigo, que ouve em silencio.
    Que a palavra esteja ao alcance de todos!

    um abraço meu Amigo.
    oa.s

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  3. Um bem valioso, sem duvida - a Amizade, mas verdadeira, não a arrogante ou interesseira, a simples, modesta, aquela que festeja na rua com cores, sorrisos, solidária, simples, que aceita defeito alheio, que dá ombro amigo, que ouve em silencio.
    Que a palavra esteja ao alcance de todos!

    um abraço meu Amigo.
    oa.s

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  4. Um bem valioso, sem duvida - a Amizade, mas verdadeira, não a arrogante ou interesseira, a simples, modesta, aquela que festeja na rua com cores, sorrisos, solidária, simples, que aceita defeito alheio, que dá ombro amigo, que ouve em silencio.
    Que a palavra esteja ao alcance de todos!

    um abraço meu Amigo.
    oa.s

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